Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : julho 2011

Gal Costa + Caetano Veloso
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Ronaldo Evangelista

Você já foi à Bahia, nêga? Há algumas semanas, fui pela primeira vez. Business e pleasure: a razão foi encontrar Caetano e Gal em Salvador, matéria de capa para a Rolling Stone. Domingo, a estreia em dupla de 67, talvez tenha sido o primeiro disco pelo qual sinceramente me apaixonei tanto de um como de outro, e foi uma delícia mergulhar na história dessa relação para chegar no disco novo de Gal, todo composto por Caetano e produzido por ele e por Moreno Veloso, com jovens músicos cariocas. Doce é o título que foi soprado – mais ainda falta um mês ou dois para o lançamento, e até lá sabe como é. Reunindo memórias e projetando o futuro, a história do encontro desses dois baianos – e meu com os dois baianos – você começa a ler logo abaixo.

Sentados lado a lado, cada um em uma ponta de um sofá bege de listras marrons no camarim de um estúdio fotográfico em Salvador, Caetano Veloso, 68, e Gal Costa, 65, tem 50 anos de história para lembrar. Caetano senta-se reto, atento; Gal está à vontade, com as costas fundas no sofá. Passeando entre os muitos pontos de intersecção em duas carreiras sempre próximas e distantes, falam dirigindo-se tão frequentemente um ao outro quanto a mim, sentado em uma cadeira de frente para os dois. Enquanto reconstroem memórias em par, completam as frases mútuas com intimidade além daquela de namorados ou irmãos, mas de amizades que se orbitam, não importa quantas vezes o planeta gire. Se amizade é identificação, confiança, comunhão de raízes, empatia ilimitada, amigos são mais do que a família que escolhemos, são aqueles que continuam nos conhecendo quando mudamos.

Alguém entra na sala, traz água de coco para Gal e sai. Caetano cruza as pernas embaixo de si, no sofá. Estamos aqui por uma ocasião especial: Caetano, vindo de uma fase especialmente carregada de frescor, depois dos discos e Zii e Zie (e um ao vivo com Maria Gadú, vá lá), se viu tomado por inspiração para desencadear um processo semelhante com Gal, compondo todo um disco para ela e direcionando as gravações (se nada mudar, o álbum, previsto para setembro, deverá se chamar Doce). A última vez que ela entrou em estúdio para fazer um álbum foi em 2005 – Hoje, lançado pela gravadora Trama. O novo disco terá o apoio da gravadora Universal, que também lança os discos de Caetano e recentemente compilou os LPs de Gal gravados entre 1967 e 1983 em uma caixa com 16 CDs.

Gal e Caetano estão apreensivos, em pleno processo de finalização do álbum: faltam poucos dias para terminarem de registrar as vozes definitivas no estúdio de Carlinhos Brown, no Candeal. As bases já foram gravadas no Rio com a ajuda de Moreno Veloso – filho de Caetano e afilhado de Gal – e com participações de jovens músicos cariocas. Assim que o último rec virar stop, os arquivos de áudio ganharão mixagem, masterização, título e capa. Hoje, sábado nublado de junho, estamos na Bahia para falar do passado no presente – Bahia que já existia em mim através das músicas e agora se materializa no momento vivido e no cenário de lembranças do compositor e da cantora.

“O Caetano para mim é muito importante por tudo que a gente viveu e conviveu”, Gal começa. “Por tudo que ele compôs, tantas músicas que ele fez para mim, direcionadas a mim, falando para mim. Eu adoro as canções de Caetano. Ele é o compositor que melhor escreve para mim, para a minha voz, para mim mesmo. A gente tem uma identificação musical. Neste momento, Caetano fazer este trabalho comigo é maravilhoso. É muito importante historicamente e emocionalmente.”

Caetano, propulsor da ideia há um ano e meio, quando pela primeira vez contou a Gal do novo projeto, explica que a vontade deste álbum nasceu de pensar na história da presença de ambos na música e na história da própria música brasileira. “Gal tem uma qualidade de emissão vocal muito especial e um papel histórico muito importante, e as duas coisas estavam relativamente subvalorizadas nos últimos tempos”, reflete. “Tenho necessidade de ter uma visão histórica mais equilibrada, e isso me pareceu como uma necessidade para mim mesmo e tenho certeza que para os outros também. Então fiquei com desejo de fazer o repertório e produzir um disco todo para Gal. Me interesso muito por fazer este disco agora, para reequilibrar a visão histórica.”

Gal, entretanto, deixa claro que em nenhum momento a ideia foi homenagear o que houve, mas sim o que ainda há para haver. “Não vai ter nada a ver com nenhum disco que eu já fiz na vida, nem com nenhum disco que ele já fez na vida”, explica. “Vai ser uma coisa nova, repertório novo, tudo novo, mas é claro que tem a ver com passado porque a nossa história está impregnada na gente.”
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O resto você lê na Rolling Stone deste mês, nas bancas.
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Cultura Livre na TV
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Ronaldo Evangelista

Em 2009 passei temporada dentro da Fundação Padre Anchieta, trabalhando na rádio Cultura Brasil, AM 1200. Oficialmente, meu período lá foi para o desenvolvimento e criação do portal da rádio, estreado em 2010 já sob a edição do grande Ricardo Tacioli, por lá até hoje.

Aconteceu naturalmente que, além do projeto para entrada na internet do ótimo e variado conteúdo produzido por lá, me envolvi intensamente com a rádio, ajudando a desenvolver uma nova grade de programação e criando o que víamos – eu mais Lívia Libâneo, Juliana Leite, Biancamaria Binazzi e Roberta Martinelli, a equipe original – como o programa ideal, das vinhetas e quadros ao elenco e convidados, sempre centrado nas novidades.

Diário, das duas às três da tarde, no ar desde setembro de 2009, o Cultura Livre segue sob o comando de Roberta Martinelli e chega hoje a nova fase, estreando na TV Cultura versão diária de 15 minutos, às 20h.

Dirigido por Ricardo Elias (um dos criadores do Manos e Minas), a primeira temporada do Cultura Livre na TV está sendo filmada em parte com iPhones e tem convidados diários: Marcia Castro hoje e pelos próximos dias Tulipa, Jeneci, Leo Cavalcanti, Mombojó, mais alguns.

Depois do “desmanche de ineficiência” de João Sayad e da interessante proposta de exibir produções independentes, um ponto a mais por enxergarem o potencial de experimentações e novidades de um programa na rádio no prédio ao lado, debaixo do nariz e apontando pro mundo.

Boa sorte e amém: hoje e todo dia às 20h na TV Cultura vemos o resultado.
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Dorival Caymmi, 1963
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Ronaldo Evangelista


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Caymmi e o mar, pra acalmar. Recorte de uma edição da revista Intervalo, 1963. Via.
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Billy Blanco (1924-2011)
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Ronaldo Evangelista

A Bossa Nova foi uma avalanche. A modernidade de Tom Jobim e o poder de criação de João Gilberto foram tão intensos que toda a música feita na primeira metade do século XX imediatamente ganhou ares de pré e quase todas as moderníssimas revoluções dos anos 50 se perderam no bolo entre a geração 78 rotações e a grande novidade do LP, popularizado no fim da década.

Falar a real não era exatamente comum nas eras de ultraromantismo chic ou derramado, deboches e regionalismos pop – basicamente o escopo do consumo geral. A crueza emotiva sem cortinas de Dolores Duran e a casualidade leve e jazzística de Johnny Alf, por exemplo, eram pequenas revoluções em si mesmo, que hoje em dia só não caem no balaio generalizante de precursores-da-bossa-nova aos ouvidos de um seleto clube de ouvintes mais direcionados (ou saudosistas).

Billy Blanco, falecido nesta sexta-feira aos 87 anos, tinha um senso de humor fora do comum. Não exatamente no sentido de rir da vida, rá-rá-rá, que havia também uma boa dose de existencialismo nos seus personagens e situações. Mas naquele sentido de ironia fina, observação ácida, presença de espírito, sarcasmo romântico. Pra que orgulho? O infarto lhe pega, doutor, e acaba essa banca. Parece simples, mas pensa bem: entre as músicas da época, a maioria não dizia nada.

Os elementos de casualidade, os tais precursores, visão um passo adiante, eram vários: suas melodias quase faladas, o samba balançado e cotidiano, a ingenuidade maliciosa, as crônicas de situação e insights da vida. “A banca do distinto”, composição sua de 1959, é uma obra-prima no desenrolar da letra:

a vaidade é assim, põe o bobo no alto e retira a escada
mas fica por perto esperando sentada
mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão

mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
todo mundo é igual quando o tombo termina
com a terra por cima e na horizontal

Sem prejudicar hoje o bom crioulo de amanhã, não acredite em tudo o que lê, confie no que ouve. O que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida. Três momentos favoritos de Billy Blanco, play abaixo.


Dolores Duran – A banca do distinto (1959)


Jorge Veiga – Estatutos de gafieira (1956)


Originais do Samba – Canto chorado (1969)


Apresentação de João Gilberto em São Paulo não está confirmada
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Ronaldo Evangelista

Segundo o Grupo Tom Brasil, que dirige as casas de espetáculos HSBC Brasil (em São Paulo) e Vivo Rio (no Rio de Janeiro), o show de João Gilberto em São Paulo, anunciado para o dia 3 de setembro, não está confirmado. Na programação do HSBC, no dia 3, há show com a dupla inglesa Swing Out Sister.

A assessoria de imprensa da casa informa que “o que foi publicado pelo Estado e republicado por outros veículos sem checagem não confere”. As apresentações de João em São Paulo e no Rio (especulada para o dia 10 de setembro) estão agendadas “para o segundo semestre” mas, segundo a assessora do Grupo, “ainda não confirmamos data, preço e nem início de vendas”.
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Na semana passada surgiu online página para venda de ingressos, dentro do site TicketBis, cobrando R$ 500 para garantir as entradas tanto no HSBC Brasil em SP quanto no Vivo Rio. Em resposta, a assessoria enviou comunicado informando ações contra a “modalidade criminosa”. Logo abaixo, você a página vendendo o ingresso e o comunicado oficial do Grupo Tom Brasil.

COMUNICADO
À imprensa, clientes e parceiros

O HSBC Brasil e o Vivo Rio, casas de espetáculos em São Paulo e no Rio de Janeiro respectivamente, por meio de sua direção, Grupo Tom Brasil, informa que as vendas de nossos espetáculos são realizadas oficial e exclusivamente em nossa bilheteria e pela Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br).

A www.ticketbis.com.br está realizando inadvertidamente a venda de ingressos para nossos shows. Esta empresa não tem contrato e nem direito de autorização para vender os nossos tíquetes. Estamos entrando em contato com o Procon, a Fapesp, órgão que registra domínios e hospedagem de sites, operadoras de cartão de crédito e também a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) a fim de coibir tal prática e informar ao público para que se proteja de danos financeiros e morais advindos desta modalidade criminosa.

Certos de contar com a atenção de todos,
Antecipadamente agradecemos.

Grupo Tom Brasil
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Caixa relança em CD seis primeiros do Zimbo Trio
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Ronaldo Evangelista

No auge da movimentação samba-jazz, 1964, enquanto destacavam-se formações instrumentais no Rio de Janeiro como o Sexteto Bossa Rio, o Copa 5 e o Tamba Trio, em São Paulo nascia o que tornaria-se o mais famoso e duradouro dos trios da cidade: o Zimbo Trio. Sempre na pegada, ritmo quente e arranjos ultradesenvolvidos, com mudanças de andamento, dinâmicas desafiadoras, altas convenções, mais Modern Jazz Quartet que cool da Costa Oeste.

Ainda na ativa hoje com novos membros sob a tutela do pianista Amilton Godoy, o Zimbo em sua fase inicial contava com o contrabaixista Luiz Chaves (falecido em 2007) e o baterista Rubinho Barsotti (aos 78 anos ocasionalmente convidado especial em apresentações), reunidos, há quase 50 anos, em torno da ambição de fazer mais que trilha para a noite e criar música brasileira moderna em arranjos sofisticados para um público idem, em teatros e casas de espetáculos, samba-jazz de câmara.

Entre 1964 e 1969 lançaram seis discos brilhantes pela gravadora RGE, testando todas as possibilidades do formato trio e experimentando com cordas e metais. De lá pra cá, os seis seguiam quase todos inéditos – excetuando-se o primeiro e o último dessa série, lançados em CD pela Som Livre em 2006. Agora, seguindo o modelo do recente box de Ed Lincoln, o selo Discobertas lança caixa de CDs com as seis primeiras obras-primas do Zimbo Trio.

Os discos foram remasterizados por Ricardo Carvalheira e saem com as capas originais. A caixa deve ser lançada até o final de julho. Em agosto, o Zimbo participa de evento de lançamento em São Paulo.
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Os seis álbuns do Zimbo Trio relançados no box:

Zimbo Trio (1964)
Zimbo Trio Volume 2 (1965)
Zimbo Trio Volume 3 (1966)
É Tempo de Samba – Zimbo Trio + Cordas (1967)
Zimbo Trio + Cordas Volume 2 (1968)
Decisão – Zimbo Trio + Metais (1969)
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Itamar Assumpção e Isca de Polícia ao Vivo no Teatro Funarte, 1983
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Ronaldo Evangelista

Comemorando a estreia do documentário Daquele Instante em Diante, esta semana, sobre Itamar Assumpção, logo abaixo em cinco partes registro inteiro de show que fez em 1983 no Teatro Funarte, com repertório baseado em seus dois essenciais primeiros discos (Beleléu Leléu Eu e Às Próprias Custas S.A.), acompanhado da banda Isca de Polícia: Suzana Salles e Virgínia Rosa nas vozes, Gigante Brasil na bateria, Paulinho Lepetit no baixo e Luiz Rondó Monteiro na guitarra. Clássico da reprise da Cultura e agora do YouTube.


Com suas canções redondas e de fluência orgânica, misterioso como um poeta beat do pop new wave brasileiro aliás paulista, de “Oh! Maldição” do Arrigo à sua “Amanticida”, passando pelo sósia de Roberto Carlos, Itamar começa de visu até comportado, de macacão preto e camisa bufante amarela, e pelo caminho pega a guitarra pra um groove rápido.


Que black navalha você, Beleléu. “Luzia” vem com lero-lero-lero-lero, e depois “Embalos”. Itamar estilosíssimo de óculos escuros e roupa já vermelha, com sua música teatral, esperta, onde tá sua malícia? Com seus causos de São Paulo de ponta a ponta, cabe samba dos anos 30, formatos e dinâmicas rock dos anos 60, funk elétrico dos anos 70, pós-tudo dos anos 80.


Um dos melhores momentos, “Se eu fiz tudo”, pérola, cantada pelas meninas, mais “Denúncia do Santo Silva Beleléu” e o clássico “Escurinho” (de Geraldo Pereira), em versão itamarassumpçãozada. E agora, como é que fica afinal? Esta música, este funk, este samba, este rock n’roll, este jazz. Fica assim, uma nega.


Não venha querendo você se espantar: já de peito nu e jaqueta azul de nylon, Itamar comanda sua obra-prima em reggae (etc) Nega música – recentemente regravada pelas cariocas do Tono, veja você -, aqui cantada pela Virginia, enquanto Suzana abraça Itamar, que assiste tranquilo. Pra fechar o bloco Itamar canta paixão, solidão, canto de guerreiro, “Prezadíssimos ouvintes” (de seu terceiro álbum, Sampa Midnight). Quero agora cantar na televisão. Mas quem é me garante que esses microfones sempre funcionarão?


Denise Assumpção vem participar de outra obra-prima: “Beijo na boca”. A vida não é mais que, se resume, vale mais? Pensei que você não ia mais me largar. Nu da cintura pra cima, com seus óculos escuros, Itamar aproveita pra criar um clima de intimidade com a câmera, conversar com operador, editor e público em casa e comanda orquestra de palmas na audiência, até cansar, pra fechar.


Instante em Diante
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Ronaldo Evangelista

Esse papo de maldito não tá com nada. Itamar Assumpção era um artista particular, cantor muito interessante, compositor de grandes momentos, figura gigante de sua própria história, sui generis e para todos. Seu som não vinha derivado de movimentos ou planos, mas mais fruto da busca do que de mais interessante tinha a oferecer, música artesanalmente costurada sobre riffs e linhas e beats de baixo e crônicas de canto falado com achados poéticos da vida de todo dia, da rua de toda noite, do romântico e do malaco, do esperto e do ingênio, do sofisticado e do mundano.

Com o recente lançamento da Caixa Preta, pelo Sesc, com todos os seus discos (e mais alguns), Itamar, falecido em 2003, anda mais vivo do que nunca. E agora, esta semana, estreia pelos cinemas o documentário Daquele Instante em Diante, de Rogério Velloso, com filmagens pessoais, de registros, depoimentos, cenas de apresentações, caseiras, de estúdio, mostrando uma história incrível e colocando Itamar no assunto de uma vez.


Seis perguntas para o Bixiga 70
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Ronaldo Evangelista

Semana passada, terça-feira, no Sesc Pompeia, Prata da Casa, foi uma noite linda: 800 pessoas lotando a choperia, outra centena pra fora sem ingresso, Bixiga 70 fazendo o melhor show de sua ainda curta e já intensa existência.

Pra pequena orquestra que começou há menos de um ano em festa em homenagem a Fela Kuti (e fez show dedicado ao mestre nigeriano na festa de lançamento de sua biografia), já é algo mais apresentar um repertório quase todo de músicas próprias, no esquema de lançar o primeiro disco.

Dez músicos, várias pegadas na soma: Cris Scabello na guitarra, Marcelo Dworecki no baixo, Décio 7 na bateria, Mauricio Fleury no piano elétrico, Romulo Nardes e Gustavo Cecci nas percussões, Cuca Ferreira no sax barítono, Daniel Gralha no trompete, Daniel Nogueira no sax tenor e Douglas Antunes no trombone de vara.

O próximo show da banda é no sábado, em Araraquara, e aproveitei para contar as origens secretas do Bixiga 70 e o ponto atual de sua história em conversa com o pianista e maestro Mauricio Fleury, seis perguntas abaixo.
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Como foi o processo de formação da banda, quando e como vocês se juntaram com essa ideia pela primeira vez?

Nós começamos a tocar juntos durante a gravação do disco do Pipo Pegoraro, no estúdio Traquitana. O Marcelo Dworecki (baixo), o Cris Scabello (guitarra) e o Décio 7 (bateria) já tocavam com o Pipo e foi assim que eu os conheci. Depois da gravação, que já apontava para uma sonoridade afro, nós continuamos conversando, ouvindo e trocando sons africanos que a gente curtia. A partir daí, o Décio começou a convidar outros músicos e a coisa começou a andar. Nosso primeiro ensaio foi em agosto e o primeiro show em outubro de 2010, na Festa Fela de São Paulo.

A principal influência da banda é o afrobeat? Que outros caminhos vocês tem encontrado ultimamente?

O afrobeat é uma influência forte para a gente, sem dúvidas, mas nós também somos muito influenciados pelos ritmos afro-brasileiros do candomblé, e por artistas daqui como Pedro Santos, Os Tincoãs e Gilberto Gil. A música africana de uma forma mais geral (ritmos como o Malinké da Guiné, o Sabar de Senegal, o Highlife nigeriano, entre outros) também está presente na nossa combinação de ritmos. Além disso tudo, rolam influências de cumbia, funk, jazz, dub e todo o resto… cada um dos dez vem de uma escola diferente e isso só acrescenta no processo.

Que versões vocês costumam tocar ao vivo? Já estão com repertório de músicas autorais, todos compõem?

Ao vivo, costumamos tocar algumas do K. Frimpong, um grande compositor, cantor e guitarrista de Gana, também tocamos uma ou outra da Budos Band. Do Fela Kuti nós tocamos várias ao longo dos shows, mas a que nunca falta é “Opposite People”, nossa preferida. “Desengano da Vista” (do disco Krishnanda, de Pedro Santos) é uma que também está sempre no nosso repertório. Já temos várias músicas autorais, os principais compositores da banda são o Décio, o Cris, o Marcelo, o Cuca (sax barítono) e eu. Mas todos da banda acabam contribuindo muito na hora do arranjo.

Qual a relação da banda com o estúdio Traquitana (na rua Treze de Maio, 70, Bixiga)? O que de mais interessante acontece recentemente por lá?

Essa relação é total, acho que a banda dificilmente existiria se não fosse o estúdio, que tem espaço para todo mundo e funciona como nosso quartel-general. Recentemente, quem passou por lá foi o Tatá Aeroplano, a Trupe Chá de Boldo, Anelis, Leo Cavalcanti, Thaide, Márcia Castro, Cachorro Grande, Bruno Morais, Nhocuné Soul… Sempre tem gente legal colando.

Vocês já gravaram o primeiro disco? Só autorais? Quem produz e participa, quando sai?

Já gravamos. Quase todas são autorais, já que gravamos o “Desengano da Vista” do Pedro Santos. Deve sair no segundo semestre e foi produzido por nós e pelo Victor Rice, no estúdio Traquitana. Gravamos todo mundo tocando junto e agora estamos mixando as primeiras músicas.

Quais as outras bandas mais interessantes em que se envolvem membros do Bixiga?

Todos os integrantes possuem projetos paralelos ou acompanham outros artistas, são tantos que ficaria difícil lembrar de todos. O Cris toca com a Anelis e com o Rockers Control, o Décio também é do Rockers, toca com o Leo Cavalcanti, Pipo Pegoraro; o Marcelo também toca nessas duas últimas e tem a Banda Estrombólica, o Dani Boy (sax tenor) tem uma big band, que é o Projeto Coisa Fina, o Doug Bone (trombone) toca com a Black Rio e outras inúmeras bandas; o Daniel Gralha (trompete) toca no Projeto Nave que é a banda do programa Manos & Minas da TV Cultura e também no Otis Trio que é uma banda de jazz classe A, e é disso que eu consigo lembrar agora.
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Fotos das gravações do álbum do Bixiga 70.
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