Blog do Ronaldo Evangelista

Tom Zé em Nova York

Ronaldo Evangelista

*Eduardo Graça, em coluna n'O Globo, escreveu sobre o show de Tom Zé em Nova York há duas semanas:

Logo no começo de seu arrebatador e caótico show no Festival do Lincoln Center, o evento mais nobre da programação cultural de Nova York, Tom Zé conta que recebeu de uma banda do interior dos EUA uma gravação com uma versão de uma música dos Mutantes. Emocionado, ele fala da alegria de ter composto com Rita Lee a moda de viola “Astronauta libertado”, gravada com o título “2001” por Gilberto Gil em 1969. Parceiro do futuro, ele pede que a plateia cante com ele trechos da composição. Em vão.

É que o mais sertanejo dos tropicalistas, em delicioso paradoxo, é também o mais internacional dos medalhões de nossa música popular. A audiência, nesta terça-feira, era formada majoritariamente por fãs americanos, ansiosos por ouvir e ver “Tom Zee”, incapazes de cantar verdades nunca tão obviamente escancaradas como “Nos braços de dois mil anos/Eu nasci sem ter idade/Sou casado, sou solteiro/Sou baiano e estrangeiro”.

O show estava marcado para as 20h, mas o espetáculo começou mais cedo, nas escadarias do lado de fora do Alice Tully Hall. Os 1,1 mil ingressos postos à venda estavam esgotados e a fila de desistência impressionava tanto pelo tamanho quanto pela animação. Os muy simpáticos nova-iorquinos sem entrada, carentes de português, eram rápidos na agulha, feições de especialistas, ao tratarem, seriíssimos, da importância de “Estudando o Samba”, o disco de Mr.Zee de 1976 que tanto impressionou David Byrne.

*A foto é do New York Times, que também publicou crítica de Ben Ratliff sobre o show. Pode-se dizer que não foi tão elogiosa, mas os pontos de Ratliff talvez não sejam exatamente aspectos que Tom Zé consideraria negativos, desconstrutor do pop que é:

His work gets a bit meta. He has sweet songs, but at other times he seems to interrogate rhythm and tonality and song structure, making the listener uncomfortable. He tends toward fractures, disruptions and dissonance. (He walked onstage twice at the beginning of the show, repeating the act because of insufficient applause; one of the songs in his set, “Jingle do Disco,” was a kind of pop-art commercial for himself.)

At the same time, Tom Zé is a positive presence: he really wants to please, to connect. But his disruptive tendencies might have gotten the best of him. (…) Tom Zé is alive to paradox and perversity; he celebrates it, shoving inapposite ideas together, appreciating the dirtiness of life. That is his genius. But this concert lost control of its argument.

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