Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : Nara Leão

Conversando com Erasmo Carlos
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Ronaldo Evangelista

Setenta anos de idade, 50 anos de estrada, 40 anos do clássico Carlos, Erasmo. “É muita comemoração, eu tenho que trabalhar”, brinca Erasmo. Disco novo cheio de novidades, só canções inéditas, parcerias interessantes, som nada careta, a essa altura e dois anos de seu último disco de inéditas, Rock ‘n’ Roll, exemplo de pique. O álbum novo, Sexo, produzido por Liminha, está na rua e você pode ouvir e saber mais por aqui. Aproveitando phoner pra bater aquele papo e falar sobre a vida, conversei com Erasmo hoje, logo abaixo.

Como foi o processo de gravação do disco, o Liminha fez os arranjos?

Foi igualzinho o outro disco. Eu faço a musica aqui em casa na minha bateria eletrônica. Então ele vai e comeca a alquimia dele lá. Ele obedece tudo que eu fiz, tudo como está, e vai vestindo aquilo, como se ele vestisse o esqueleto. Aí ele vai botando as guitarras, vai trocando a bateria eletrônica pela bateria humana e vai montando o disco. Vamos trocando ideia e montando o disco.

Tudo a partir do seu violão, da sua voz e da bateria eletrônica?

É, ele conserva às vezes alguns violões meus.

Bonito o violão de nylon em “Sentimento exposto”.

Ele disse, “Erasmo, esse violão eu vou ter que conservar porque ninguém sabe fazer”.

É raro ter violão seu nos discos, né?

É. Porque sempre mudam, né, bicho? Através da minha vida sempre foi assim: eu mostro pros músicos, eles começam a mudar os acordes, daqui a pouco vira outra música, sabe? Os músicos são modernosos. Eles estão sofrendo novas influências sempre, claro. Então qualquer música que eles pegam eles botam influência da época. Eu não, eu tenho minha influência de base. Então ela vai persistir em toda minha vida, acho que é isso que faz o estilo de uma pessoa. Eu gosto de adaptar as tendências para o meu negócio.

Esse processo de gravar em casa e levar pro Liminha é de dentro pra fora.

E conserva minha identidade na coisa.

Você chegou a compor canções que fugiam do tema? Tem um baú de canções ou todas que foram feitas foram utilizadas?

Não cara, aconteceu comigo uma coisa chata que eu fiz muito mais que as canções que as que entraram no disco. Na época eu estava mudando a minha tecnologia caseira. Eu ainda compunha com cassete, sabe?, aí eu passei pra minha época digital, comprei meu gravador digital. Então eu ia compondo, depois pegava o USB e depois fazia um disquinho e guardava. Aí passava e gravava outras coissas no USB, porque o que eu tinha feito estava guardado no CD. Cara, eu acabei perdendo três CDs! Perdi, não sei onde que foi, se roubaram, se deixei por aí. Não sei se porque eu estava gravando e os CDs voltavam e iam e voltavam e iam, de repente eu perdi. Já procurei tudo e ali tinha música pra caramba, tinha muito mais música do que eu gravei. Tem umas coisas ainda do Rock ‘n’ Roll, sobraram de lá.

Então foi questão de umas 30 músicas?

Foi por aí. Muitas eu sei de cabeça, outras não. Foi besteirada minha, coisa de aprendiz.

É bom, as que sobraram devem ser as melhores.

É, já estavam separadas em um CD pro Liminha.

Erasmo, até hoje sinto uma singeleza muito grande no seu jeito de compor. Uma certa simplicidade, uma abordagem quase zen, como uma busca.

Eu sou assim. O que eu mostro nas minhas músicas é o que eu sou, sabe? Por isso que eu acho que eu nunca precisei de analista, o que eu tenho que expressar eu expresso nas minhas canções. Então essa forma de você analisar, ou como qualquer pessoa analisar, é sincero, bicho. Não faço nada por armação, sou muito sincero nas coisas que eu falo.

Legal você falar de terapia, porque tem essa característica quase existencial. Lembrei daquela música linda que você deu pra Paula Toller uns anos atrás.

O q é q eu sou“. Eu não regravo essa música porque ela é muito pra mulher, sabe? A segunda parte dela é bem mulher cantando. Só por isso que eu não regravo. Mas eu queria muito regravar essa música que eu gosto muito dela.

E ultimamente rolou encontro com nova geração de músicos, tem chegado novas informações?

É, a gente tá sempre junto por aí, se encontrando. A minha aproximação com Arnaldo começou que fui gravar o DVD dele, Ao Vivo Lá em Casa. Lá nesse mesmo dia conheci o Jeneci. Aí eu fiz o Grêmio, programa do Arnaldo na MTV, depois ele participou de um show meu, claro que a parceria seria inevitável nesse novo disco, Sexo. O Jeneci também, a gente vai se conhecendo pela vida, como o Kassin, como o Domenico, que eu conheci atraves de Adriana Calcanhotto. a Silvia Machete, que fez um show inteiro com as musicas do Carlos, Erasmo. A gente vai se conhecendo assim pela estrada e vai formando uma amizade. Nos anos 80 já foi assim com Titãs, Kid Abelha, Ultraje a Rigor, vai vindo. Agora essa geração do Marcelo Jeneci. Eu fico feliz com isso porque eu vou ficando. Minhas músicas vão ficando de geração pra geração.

Como se fossem fazendo mais sentido, renovando o contexto.

É, muita gente entende muito mais minha música agora do que entendia na época que eu fiz.

Estava ouvindo recentemente uma gravação de uma música sua muito boa, só você tocando violão em um disco de entrevistas no começo dos anos 70…

O “Samba da preguiça“. Eu fiz essa música pra Nara Leão. Ela cantou num show dela e acabou não gravando. Quem gravou essa música recentemente foi Wanderlea, no último DVD dela.

Tem muitos sambinhas da época, né? “A hora é essa”, que a Célia gravou, “Eu queria era fica sambando”, que os Originais do Samba gravaram…

Ih, caramba, você é conhecedor da minha obra.

Sou fã desses sambinhas, Erasmo. Estou esperando seu disco de sambinhas.

Tá certo. (risos) Tá bom.

§ Erasmo Carlos se apresenta no Teatro Bradesco, em São Paulo, no dia 14 de setembro. Sexo acaba de ser lançado.


uma forma antropofágica de relação com a cultura
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Ronaldo Evangelista

Em agosto de 1968, Caetano e Gil integravam um espetáculo da empresa têxtil Rhodia e planejavam como injetar mais Tropicália no zeitgeist da música brasileira. Um dos grandes projetos era o especial de TV Vida Paixão e Banana do Tropicalismo, escrito por Torquato Neto e José Carlos Capinan para a Rede Globo, com grandioso elenco e anarquias a granel.

Nunca foi o planejado (a Rhodia quis mexer, depois não quis patrocinar, depois a Globo adiou várias vezes a exibição), mas na noite de 23 de agosto de 1968, foi registrado o piloto, na gafieira Som de Cristal, na rua Rêgo Freitas, centro de São Paulo. Detalhe muito simbólico é que Vicente Celestino, que passou a tarde no estúdio ensaiando para sua participação, morreu à noite, logo antes de começarem a gravação – primeira vítima fatal da Tropicália.

O que finalmente foi ao ar, no dia 27 de setembro, levou o nome de Direito de Nascer e Morrer do Tropicalismo, hoje só na memória de quem assistiu ou estava presente. Pra posteridade, logo abaixo, as 14 páginas do roteiro original de Torquato e Capinan, com aparições de Chacrinha, Aracy de Almeida, Linda e Dircinha Batista, Nara Leão, Tom Zé, Gal Costa, Grande Otelo, Os Mutantes, Rogério Duprat, Jorge Ben e Dalva de Oliveira – todos presentes na gravação em carne e osso.








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Roteiro via.
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