Blog do Ronaldo Evangelista

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Ronaldo Evangelista

Pra não dizer que não existem notícias quentes, apanhado da temporada de manchetes, notícias, declarações, especulações, próximas, radar.

§ Depois do papo de Doce, novo sopro de nome do disco novo de Gal com Caetano: Segunda.

§ Falando na Gal, MauVal e Matias foram dois que não curtiram a capa da última Rolling Stone.

§ Falando no Caetano, ele vai cantar “Não existe amor em SP” no VMB com Criolo & Ganja.

§ Enquanto isso, David Byrne também curtiu o disco da Tulipa.

§ Marcus Preto foi ouvir umas novas do disco da Mallu.

§ O disco do Emicida gravado em NY sai logo mais.

§ Céu, em entrevista em turnê em Londres, disse que deve lançar algo novo no ano que vem.

§ Vazou o Tim Maia Racional 3 (lógico).

§ Teresa Cristina planeja disco novo só com canções de Candeia.

§ Vídeo da Dona Inah cantando no último disco de Romulo Fróes.

§ “Kamasutra“, parceria com Arnaldo Antunes, primeira música de Sexo, disco novo do Erasmo Carlos, 70 anos.

§ Nos próximos meses, o Studio SP abre filial no Rio de Janeiro e reabre seu espaço na Vila Madalena.

§ Eliana, grávida de João Marcelo Bôscoli: “Carrego um pedacinho da Elis”.


Caetano e Gil na Ilha de Wight, 1970
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Ronaldo Evangelista

Quando partiram do Brasil em julho de 1969, primeiro para Portugal, depois para a França, Caetano Veloso e Gilberto Gil já davam o tropicalismo como morto. Foi angustiante, mas de certa maneira também libertador: focaram ainda mais na beleza das canções e força dos happenings, passaram a compor em inglês e ampliaram a visão cosmopolita. Quando afinal se decidiram por Londres – e lá moraram pelos dois anos seguintes -, tiveram acesso direto ao pop global da época, em mais de um sentido.

Ainda em 1969 foram à segunda edição do Festival da Ilha de Wight e viram Bob Dylan ao vivo. No ano seguinte, em 1970, foram lá assistir Jimi Hendrix e Miles Davis. O show de Miles, com uma única música, chamada “Call it anything”, trazia Airto Moreira na percussão e na versão lançada em DVD dá até pra ver o Gil na plateia assistindo.

De repente, logo depois do show do Miles, ouviu-se ao microfone: “Brazilian composers Gilberto Gil and Caetano Veloso, invited to the backstage by Miles Davis!” Eles atravessaram as 600 mil pessoas e chegaram ao camarim, onde encontraram o responsável pelo chamado, Airto, e conheceram Miles.

No terceiro dia do festival, viraram atração e subiram ao palco com mais de uma dezena de brasileiros (Gal e os músicos d’A Bolha também estavam no festival com eles) para cantar algumas das novas canções em inglês e protagonizar um happening que envolvia uma roupa coletiva de plástico vermelho (criação de uma artista plástica francesa) e fim apoteótico com vários nus no palco.

A reação foi um público “delighted” e uma crítica na revista Rolling Stone dizendo que, em comparação àquilo, o que havia acontecido nos dias anteriores era simples “psychedelic muzak”. A primeira nota na imprensa americana a respeito de Caetano e Gil.

Quando fomos à Bahia há pouco, Caetano comentou que lembrava detalhes da nota na Rolling Stone de memória, mas nunca mais a tinha visto, que aquilo tinha que ser encontrado. Aceitando o desafio, Paulo Terron, editor da RS brasileira, fez a busca e encontrou:

Via.

(Foto daqui.)


Gal Costa + Caetano Veloso
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Ronaldo Evangelista

Você já foi à Bahia, nêga? Há algumas semanas, fui pela primeira vez. Business e pleasure: a razão foi encontrar Caetano e Gal em Salvador, matéria de capa para a Rolling Stone. Domingo, a estreia em dupla de 67, talvez tenha sido o primeiro disco pelo qual sinceramente me apaixonei tanto de um como de outro, e foi uma delícia mergulhar na história dessa relação para chegar no disco novo de Gal, todo composto por Caetano e produzido por ele e por Moreno Veloso, com jovens músicos cariocas. Doce é o título que foi soprado – mais ainda falta um mês ou dois para o lançamento, e até lá sabe como é. Reunindo memórias e projetando o futuro, a história do encontro desses dois baianos – e meu com os dois baianos – você começa a ler logo abaixo.

Sentados lado a lado, cada um em uma ponta de um sofá bege de listras marrons no camarim de um estúdio fotográfico em Salvador, Caetano Veloso, 68, e Gal Costa, 65, tem 50 anos de história para lembrar. Caetano senta-se reto, atento; Gal está à vontade, com as costas fundas no sofá. Passeando entre os muitos pontos de intersecção em duas carreiras sempre próximas e distantes, falam dirigindo-se tão frequentemente um ao outro quanto a mim, sentado em uma cadeira de frente para os dois. Enquanto reconstroem memórias em par, completam as frases mútuas com intimidade além daquela de namorados ou irmãos, mas de amizades que se orbitam, não importa quantas vezes o planeta gire. Se amizade é identificação, confiança, comunhão de raízes, empatia ilimitada, amigos são mais do que a família que escolhemos, são aqueles que continuam nos conhecendo quando mudamos.

Alguém entra na sala, traz água de coco para Gal e sai. Caetano cruza as pernas embaixo de si, no sofá. Estamos aqui por uma ocasião especial: Caetano, vindo de uma fase especialmente carregada de frescor, depois dos discos e Zii e Zie (e um ao vivo com Maria Gadú, vá lá), se viu tomado por inspiração para desencadear um processo semelhante com Gal, compondo todo um disco para ela e direcionando as gravações (se nada mudar, o álbum, previsto para setembro, deverá se chamar Doce). A última vez que ela entrou em estúdio para fazer um álbum foi em 2005 – Hoje, lançado pela gravadora Trama. O novo disco terá o apoio da gravadora Universal, que também lança os discos de Caetano e recentemente compilou os LPs de Gal gravados entre 1967 e 1983 em uma caixa com 16 CDs.

Gal e Caetano estão apreensivos, em pleno processo de finalização do álbum: faltam poucos dias para terminarem de registrar as vozes definitivas no estúdio de Carlinhos Brown, no Candeal. As bases já foram gravadas no Rio com a ajuda de Moreno Veloso – filho de Caetano e afilhado de Gal – e com participações de jovens músicos cariocas. Assim que o último rec virar stop, os arquivos de áudio ganharão mixagem, masterização, título e capa. Hoje, sábado nublado de junho, estamos na Bahia para falar do passado no presente – Bahia que já existia em mim através das músicas e agora se materializa no momento vivido e no cenário de lembranças do compositor e da cantora.

“O Caetano para mim é muito importante por tudo que a gente viveu e conviveu”, Gal começa. “Por tudo que ele compôs, tantas músicas que ele fez para mim, direcionadas a mim, falando para mim. Eu adoro as canções de Caetano. Ele é o compositor que melhor escreve para mim, para a minha voz, para mim mesmo. A gente tem uma identificação musical. Neste momento, Caetano fazer este trabalho comigo é maravilhoso. É muito importante historicamente e emocionalmente.”

Caetano, propulsor da ideia há um ano e meio, quando pela primeira vez contou a Gal do novo projeto, explica que a vontade deste álbum nasceu de pensar na história da presença de ambos na música e na história da própria música brasileira. “Gal tem uma qualidade de emissão vocal muito especial e um papel histórico muito importante, e as duas coisas estavam relativamente subvalorizadas nos últimos tempos”, reflete. “Tenho necessidade de ter uma visão histórica mais equilibrada, e isso me pareceu como uma necessidade para mim mesmo e tenho certeza que para os outros também. Então fiquei com desejo de fazer o repertório e produzir um disco todo para Gal. Me interesso muito por fazer este disco agora, para reequilibrar a visão histórica.”

Gal, entretanto, deixa claro que em nenhum momento a ideia foi homenagear o que houve, mas sim o que ainda há para haver. “Não vai ter nada a ver com nenhum disco que eu já fiz na vida, nem com nenhum disco que ele já fez na vida”, explica. “Vai ser uma coisa nova, repertório novo, tudo novo, mas é claro que tem a ver com passado porque a nossa história está impregnada na gente.”
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O resto você lê na Rolling Stone deste mês, nas bancas.
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