Zé Maconha, mas pode chamar de João Gilberto
Ronaldo Evangelista
Antes de gravar ''Corcovado'', em 1960, João Gilberto fez uma sugestão ao compositor Tom Jobim, prontamente acatada: mudar as primeiras palavras da canção de ''um cigarro, um violão'' para ''um cantinho, um violão''. Segundo Ruy Castro no livro Chega de Saudade, ali João já não fumava nada. É que, segundo a mesma fonte, João passou boa parte da década de 50, nos tempos pré-bossa nova em que frequentava com João Donato a boate do Hotel Plaza para ouvir Johnny Alf ao piano, sob a influência da então ainda não criminalizada marijuana – a ponto de Carlinhos Lyra lembrá-lo pelo apelido Zé Maconha.
Talvez o vizinho de João Gilberto no Leblon não tenha lido o livro de Ruy e não saiba que ele parou com isso há 40 anos, o que explicaria o trecho abaixo da divertida (ainda que de um voyerismo algo perturbador) matéria publicada no iG ontem:
“Deve ter um mês mais ou menos que um morador foi até lá e bateu tanto que quase pôs a porta abaixo! O problema é a maconha. Parece que ele fuma e o cheiro entra pela janela da casa do rapaz. Aí os dois ficaram se xingando”, contou uma vizinha que preferiu não se identificar. O vizinho ameaçou chamar a polícia. Ao porteiro do prédio, João afirmou, através do interfone, que em sua casa faz o que quiser. E questionou: “E isso (fumar maconha) é crime?”. O porteiro preferiu não tomar partido e apenas comunicou a ameaça de que o vizinho iria telefonar para a polícia.
§Quando a lenda se tornar maior que a verdade, publique-se o mito – especialmente em se tratando de João Gilberto, tema de folclore há tanto tempo quanto de adoração. Agora… vai dizer que você não queria ouvir os sons criados pelos jovens Joões Gilberto e Donato de cuca fresca, 1954?