Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : agosto 2011

Bem Gil fala sobre Gilberto Gil 1968
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Ronaldo Evangelista

Também dentro do especial dia dos pais da série DNA Musical, artistas comentando discos importantes pra eles, no site do Oi Novo Som, Bem Gil – do Tono etc – comenta o segundo álbum solo de Gilberto Gil, o tropicalista, aquele com Duprat e Mutantes e capa do Rogério Duarte. Assim, logo abaixo.

O primeiro disco do Gil que me lembro de ter ouvido é o “O Eterno Deus Mu Dança”. Eu tinha 4 anos de idade quando esse disco foi lançado e, a partir de então, tenho memórias muito vivas de todos os trabalhos subsequentes.

Mas foi só aos 16 anos de idade que resolvi escutar toda discografia do meu pai em ordem de lançamento. Ouvi seu primeiro disco “Louvação” e resolvi, finalmente, pegar num violão pela primeira vez. E daí por diante, a cada disco que eu ouvia, uma nova paisagem se apresentava e minha vida mudava de novo e de novo.

Eleger um dele como o “disco que eu tocaria na íntegra” é difícil, mas a minha escolha, hoje, seria o segundo disco do Gil, de 1968, com a participação dos Mutantes.

É um disco que logo de cara me chamou a atenção pela espontaneidade. Gil resolveu (através de Rogério Duprat, seu arranjador) convidar os Mutantes para participar do disco e fez um álbum de “banda”. O que acabou se transformando em característica presente em vários de seus discos seguintes.

No sentido da “minha execução integral desse disco”, os Mutantes pesam muito pois são uma referência musical muito forte pra mim e pro Tono (banda com a qual exerço música desde a criação até a execução, em discos e shows).

Esse é o disco mais tropicalista do Gil, e um dos mais bonitos de todos os discos tropicalistas. As composições (poéticas) vão desde temas urbanos (“Domingou”), rurais (“Coragem pra Suportar”) e políticos (“Marginalia II”) até o resgate do folclore como em “Pega a Voga, Cabeludo”. Com a regravação de “Procissão” (presente no disco anterior), Gil didatiza o manifesto tropicalista, deixando os Mutantes a vontade para recompor a música sem qualquer tipo de limite estético/musical.

Apesar de tudo isso o que mais me chama a atenção pra esse disco é que “Luzia Luluza” é uma das gravações mais bonitas em todo repertório discográfico do Gil. É um conto tropicalista levado a Hollywood pela orquestração do Rogério Duprat. É lindo.”Pé da Roseira” é uma música que não me canso de ouvir.

E o disco fecha com “Domingo no Parque”. Música que dispensa qualquer tipo de apresentação/comentário e que foi apresentada pela primeira vez em público no festival de 67, ao lado dos Mutantes, e com regência do Rogério Duprat. Com certeza o pontapé inicial pra que este disco fosse lançado no ano seguinte.


Tita Lima fala sobre o Jardim Elétrico dos Mutantes
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Ronaldo Evangelista

Dentro de uma série chamada DNA Musical, no site do Oi Novo Som, artistas comentam discos que foram importantes para sua formação. Há algumas semanas, em especial do dia dos pais, Tita Lima comentou o quarto disco dos Mutantes, já com seu pai, Liminha, integrado à formação como baixista, logo abaixo.

Já que vocês pediram para escolher um disco dos Mutantes com o meu pai, não tenho dúvidas: Jardim Elétrico. Escolho o quarto disco da banda, de 1971, por uma questão afetiva. Quando eu era criança adorava o desenho da capa. Tinha medo e atração pelo monstro, tinha aquela imagem decorada e talvez até conseguisse redesenhar a arte com os olhos fechados. Eu ficava ouvindo “Portugal de Navio”, rindo da voz esquisita do meu pai.

Era tão pequena que não entendia o duplo sentido das letras. Para mim, escutar Saltimbancos e Mutantes era divertido. Vou trepar na escada significava: “Vou trepar na escada!”. Vou te mandar para Portugal de Navio era isso mesmo, eu imaginava meu pai mandando minha mãe viajar em navios antigos.

Eu achava que a Rita era uma fada madrinha/bruxa, mas das boas e que ela sempre iria me proteger quando eu ficasse no escuro. Pra mim, a Rita não era 100% humana, mas uma fada que transitava entre os humanos disfarçada e só eu sabia o segredo dela. Ela piscava pra mim quando me via e fazia carinho na minha orelha, eu achava que aquilo era um código. rsrsrsr!

As músicas mais valiosas para mim, além de “Portugal de Navio”, são “Lady Lady” porque eu acreditava que esta música havia sido feita para minha avó que se chamava Layde. Eu não sabia inglês! E “El Justiceiro” formava um personagem na minha cabeça, ele era lindo e forte, quase um herói, e era parecido com Walmor Chagas! rsrsrs.

Na verdade todas as músicas eram importantes para mim, faziam parte de um contexto, um filme. Não dava para pular uma faixa, eu não sabia mexer em vitrola e chegar perto de agulha era bronca na certa! Além de criar meus personagens para esse disco, eu o conhecia de cabo a rabo, sabia cada solo, cada voz …cada virada de bateria.


Soy loco por ti, América
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Ronaldo Evangelista

Fim de semana fui ao Jóquei Clube acompanhar os shows do festival Telefônica Sonidos, realizado pela Sony Music, com Julieta Venegas recebendo Marisa Monte, Los Amigos Invisibles recebendo Seu Jorge, Alex Cuba recebendo Tulipa, Jota Quest recebendo Illyah Kuryaki & Los Valderramas, Camila recebendo Wanessa Camargo, Victor e Leo não recebendo ninguém. A cobertura saiu no Uol Música e você pode ler sobre a sexta aqui e sobre o sábado aqui.


Aloe Blacc quer dar rolê com Hermeto Pascoal
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Ronaldo Evangelista

Domingo dia 27 no Rio, dentro do festival Back2Black, terça dia 30 no Bourbon Street em São Paulo, o rimador e cantor de novo soul Aloe Blacc, autor de uma das melhores canções pop americanas dos últimos tempos, “I need a dollar“, se apresenta com sua banda Grand Scheme. Aproveitando o momento, liguei pra ele na Califórnia essa semana pra meia dúzia de perguntas, em matéria publicada hoje na Folha Ilustrada. Abaixo, o papo.

Você já veio ao Brasil?

Nunca fui, vai ser minha primeira vez.

Tenho certeza que você tem alguns músicos brasileiros favoritos…?

Meu interesse na música brasileira nasceu com a bossa nova de Tom Jobim e Astrud Gilberto. Essa foi a primeira coisa brasileira por que me apaixonei. Depois descobri artistas como Jorge Ben, Sérgio Mendes, Arthur Verocai e Flora Purim. Muitas coisas bonitas e diferentes.

E já ouviu alguma coisa sobre o hip-hop brasileiro?

Sim. Ouvi falar muito sobre o grafite e também sobre a cena hip-hop no Brasil, mas ainda preciso conhecer os nomes.

Por aqui também a cena hip-hop tem encontrado equilíbrio com música tocada, cantada. Você acha que o hip-hop e o soul tem encontrado novas relações ultimamente?

Acho que sim. O hip-hop está crescendo – e quando você fica mais velho, quer se expressar de novas maneiras. O meu interesse se virou para a música tocada ao vivo.

Essa influência de soul music é uma coisa que sempre esteve com você ou foi uma novidade quando descobriu?

Foi uma espécie de experimento a princípio. Agora virou meu emprego. (risos) Fiz um álbum chamado Shine Through, em que cantei uma cover de Sam Cooke com uma batida hip-hop, “A change is gonna come”. E também a faixa-título, “Shine through” era uma canção soul. E “I’m beautiful“, do mesmo álbum. Essas foram o começo de minhas experiências com hip-hop e soul. Depois fui me aprofundando mais e mais.

A inspiração para escrever “I need a dollar” foi próxima de escrever um rap?

Foi mais ou menos. Quando escrevi “I need a dollar” estava ouvindo canções folk. Músicas de presos acorrentados uns aos outros, de pessoas que estavam encarceradas e trabalhando como parte de sua pena, cantando para ajudar no trabalho. Cantando suas próprias músicas e dividindo as canções enquanto trabalham. Muitas histórias seriam sobre seus problemas – e me inspirei a criar minha propria canção de presos acorrentados. Essas canções são muito repetitivas e são comunitárias, envolvem mais de uma pessoa. E quando estava escrevendo os versos, acrescentei coisas da minha vida pessoal.

Imagino que tenha sido uma surpresa quando ela começou a ficar famosa.

Nunca esperei que fosse ser um grande hit. Achei que fosse ser como todo o resto, uma canção undeground de que as pessoas gostam, como meu último álbum. Mas se tornou algo muito grande. Acho que todo mundo a conhece hoje, pessoas de quatro anos e pessoas de 64 anos, todos cantam.

Ok, última pergunta: que músico você gostaria de encontrar nessa vinda ao Brasil?

Hmm. Sabe o que seria muito legal? Passar o dia com alguém como Hermeto Pascoal. Como um músico, tenho visto as coisas que ele tem feito pelos anos e ouvido a música que ele tem feito e seria muito interessante e divertido e empolgante passar um dia fazendo um som com ele – ou simplesmente o assistindo.


Bixiga 70 na Seleta Coletiva
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Ronaldo Evangelista

A big band de grooves de tempero afro Bixiga 70, dez músicos de São Paulo tocando temas autorais e versões ocasionais de Fela Kuti, SoulJazz Orchestra, Pedro Santos e K. Frimpong, se apresenta hoje no Studio SP, dentro da festa Seleta Coletiva – assumindo o posto habitual do Instituto, em Brasília para show do Criolo. O som do Bixiga só melhora, single e álbum de estreia estão para sair e você pode saber mais lendo essa entrevista que fiz com eles, clicando por exemplo aqui ou simplesmente aparecendo no show, pontualmente às 23h, rua Augusta.


Beto Villares na Casa do Núcleo
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Ronaldo Evangelista

De hoje, quinta, a sábado, na Casa do Núcleo Contemporâneo de Benjamin Taubkin, espaço no Alto de Pinheiros, centro cultural de música, acontece temporada de Beto Villares, apresentando canções de seu possível segundo disco, com convidados como Anelis Assumpção e Marcelo Pretto. Excelentes Lugares Bonitos, álbum de 2003, primeiro de Beto, é uma joia rara – e todo seu trabalho no Ambulante Estúdio é coisa fina, incluindo os discos que produziu de Céu e Siba e Itamar. Considerando seu toque-de-ouro de tranquilidade sensível e como são poucas suas apresentações ao vivo, dá pra dizer que é imperdível.


é legal a cultura viva racional
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Ronaldo Evangelista

Não sei quanto ao livro, mas ouça o disco que é coisa limpa, é coisa pura, é legal e é bacana: com seis faixas e meia hora (não muito diferente dos dois primeiros volumes), o lendário e agora real terceiro volume da série Tim Maia Racional foi finalizado e lançado como CD bônus de um box de Tim, em breve em edição individual nas lojas. Hoje na Folha Ilustrada, crítica minha do recém-nascido clássico álbum, logo abaixo.

Não é apenas o fato de que Tim Maia estava no seu auge artístico que faz de seus discos “Racional” especiais em sua discografia. A ideia de que o cantor famosamente mais longe possível de estabilidades houvesse decidido se limpar, se endireitar e caretear graças a uma aparentemente seita, decididamente maluca, pregando a origem e volta do ser humano ao espaço, e a intensidade com que interpreta isso tornam pérolas os dois volumes, lançados de forma independente em 1975.

Quando há alguns anos surgiram as palavras mágicas gravações inéditas, a gigante expectativa chegou ao ponto de quatro faixas vazarem na internet em versões cruas, demos que Tim havia deixado, gravadas no estúdio Somil em 1976. Agora, em distribuição exclusiva para compradores de box de Tim vendido em bancas e futuro lançamento em lojas pela Sony Music, o material se realiza em novo mítico volume da série, Racional 3.

O produtor Kassin, ao lado do guitarrista original de Tim na época, Paulinho Guitarra, finalizou as seis faixas (duas a mais do que sabia pelas demos) com o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti, acrescentando clavinetes, sintetizadores, órgão, cordas, sopros, solos de saxofone e guitarra fuzz a canções como “Lendo o livro” e “I am rational”. A produção detalhista de Kassin recupera os timbres originais e a participação de músicos próximos como Paulo e Olivetti garante a dedicação musical e pessoal, criando um disco novo, inédito e ponto alto da carreira de Tim – lançado 13 anos depois de sua partida.

Apesar de todos os envolvidos terem lamentado o vazamento na rede das demos originais, só podemos agradecer por ter acontecido – hoje é um prazer incalculável poder ouvi-las, tão deliciosas em sua crueza quanto são ótimas as novas versões já totalmente vestidas. Da sugestões geniais às realizações plenas, funk dos melhores do mundo, o groove perfeito de baixo e bateria, guitarra com wah-wah, ataque de sopros, vozeirão visceral: o som clássico de Tim Maia, black music com naturalidade brasileira, soul universal.


Marcia Castro + Mariana Aydar + Mayra Andrade + Mariella Santiago
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Ronaldo Evangelista

Comentei do show de Marcia Castro recebendo Mariana Aydar, Mayra Andrade e Mariella Santiago no Conexão Vivo em Salvador e, olha só, a íntegra está online, para baixar aqui, tirado deste blog. O áudio está dando alguns paus eventuais, como se gravado em CD-r tosco, mas o som compensa. O show é parte do projeto Pipoca Moderna, de Marcia Castro, em que ela viaja para alguns shows pelo país com outras novas cantoras como convidadas.

A abertura do show foi em clima de dominação, com versão a quatro vozes de “Os mais doces bárbaros”, que você ouve no play acima. Na gravação da apresentação, entrou só no final, quando repetiram no bis. A banda estava formada por Gui Kastrup na bateria, Magno Vitor no baixo, Ricardo Prado no violão, teclado e acordeão e Rovilson Pascoal na guitarra e direção musical e o setlist foi assim:

01) Marcia Castro – De pés no chão (Rita Lee)
02) Mariella Santiago – Danado na cor
03) Mariana Aydar e Mariella Santiago – Aqui Em Casa (Duani e Mariana Aydar)
04) Mariana Aydar – Solitude (Mariana Aydar e Luisa Maita)
05) Marcia Castro e Mayra Andrade – Menina mulher da pele preta (Jorge Benjor)
06) Mayra Andrade solo
07) Mayra Andrade e Mariana Aydar – Tunuka
08) Marcia Castro e Mariana Aydar – Frevo (Pecadinho) (Tom Zé)
09) Marcia Castro e Mariella Santiago – Eu Sou Negão (Gerônimo)
10) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – O canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)
11) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Nha Damaxa
12) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Gererê (É o Tchan) / Preta Pretinha (Moraes Moreira e Galvão)
13) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Os mais doces bárbaros (Caetano Veloso)


O que vi, ouvi e aprendi no Conexão Vivo
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Ronaldo Evangelista

§ O festival Conexão Vivo existe há onze anos (antes era patrocinado pela Telemig Celular), nascido na cidade de Belo Horizonte e hoje por estados como Pará e Bahia, além de Minas Gerais. Entre os dias 11 e 14 de agosto de 2011 aconteceu a segunda edição em Salvador, praia da Pituba, praça Wilson Lins, espaço a céu aberto para 20 mil pessoas.

§ No primeiro dia, grande momento veio com Di Melo, que participou do show da banda mineira Black Sonora e cantou a toda clássicos de seu clássico LP de 1975, “Kilariô” e “A vida em seus métodos diz calma”. Aproveitou para avisar que estreou no festival de cinema de Garanhuns, e em breve nos cinemas, o documentário O Imorrível e já decretou: melhor é impodível.

§ O paraense Felipe Cordeiro participou como guitarrista de dois shows e como público de quase todos. Pelos camarins, contou que seu primeiro álbum Kitsch Pop Cult, produzido por André Abujamra, patrocínio do próprio Conexão Vivo, está sendo lançado este mês. Como se diz em Belém (me ensinou Felipe): pai d’égua.

§ Armandinho parece ser uma espécie de Lanny Gordin da guitarra baiana, tocando como nunca. Participou solando Santana no show de Gilvan de Oliveira e, com Dadi e Mú etc, reviveu o pop de sotaque prog ensolarado d’A Cor do Som, com participação de Pepeu Gomes.

§ Pepeu circulava vestindo preto nas roupas e longos cabelos, mas mais estilosa era sua filha de seis anos, que pelas noites de festival alternou calças de oncinha e de couro, lenços, botas e camisas coloridas, senso apurado de moda.

§ Bem doido – e interessante – o som da banda de Juarez Maciel, entre ska, jazz, salsa, xote, música cigana, pop, com sopros, teclado, violino e participação de Edgard Scandurra.

§ Não devia ser coincidência Marku Ribas estar descalço e vestido de branco no palco: foi ótimo seu som tranquilo mas na pegada, vozeirão sobre suingue de violão de nylon e baixo elétrico, bateria grooveada e naipe de sopros, repertório de seu último disco, 4 Loas.

§ No segundo dia de festival a chuva parou magicamente quando entraram no palco Marcia Castro recebendo Mariana Aydar, Mayra Andrade e Mariella Santiago, já no alto astral, altas transas, lindas canções, tirando a onda de interpretar de abertura “Os mais doces bárbaros”, planos muito bons de 1976 da brigada tropicalista.

§ Em seu primeiro disco, Marcia gravou de Tom Zé “Pecadinho”, que no show cantou com Mariana Aydar. Já o novo disco de Marcia, fiquei sabendo por lá, sai em breve e inclui outra versão de pérola escavada do compositor: “Você gosta?”, das melhores, lançada em compacto em 1969, derramado toda hora.

§ A caboverdeana Mayra Andrade hipnotizou geral com sua voz bem única, linda, rouca, cantando “Tunuka” (que foi hit com todo mundo cantando junto) e deliciosa versão de “Menina mulher da pele preta”, de Jorge Ben.

§ Mariana Aydar foi a artista que mais distribuiu autógrafos e pose para fotos depois do show. Mayra Andrade foi a que mais deu entrevistas a jornalistas, com fila de repórteres de gravador na mão. No último dia também apareceu com destaque o fã-clube do tecnológico e artesanal grupo Percussivo Mundo Novo.

§ Com seu tecnomelody eletrobrega evoluído, Gaby Amarantos fez show ligada no 220, cantando a toda sem deixar cair, repertório dançante, divertido, esperto, elétrico. Entre as músicas, “Como acontece a chuva”, composição de Thalma de Freitas e Iara Rennó para seu álbum. Por todo o show a paraense arranhou pouco a voz e concluiu sem cantar “Tô solteira”. Adeus, Beyoncé do Pará. Um disco e tanto deve vir por aí.

§ Aliás, Gaby Amarantos também revelou por lá o título de seu aguardado álbum: Treme. Produzido por Carlos Eduardo Miranda, juntando Waldo Squash da Gang do Eletro e Félix do La Pupuña, sai logo menos com patrocínio do Conexão Vivo e distribuição nacional.

§ A garoa fina parecia cenografia encomendada para o show de Lenine, maior nome do festival, que fechou a sexta-feira. Tranquilamente carismático, popstar sem esforço, embalou com seu violão e banda afiada hits cantados de peito aberto no palco e fora dele.

§ Um número de ativistas se juntou na frente dos palcos, antes de cada show, e puxou nos quaisquer momentos de silêncio coros de “Belo Monte, não!” Gaby Amarantos, quando chamaram sua atenção, apoiou: “É claro que Belo Monte não, eu sou da floresta!

§ Aproveitando uma pancada de chuva que espantou seguranças conferidores de pulseirinhas de seus postos, dois rapazes da turma de “Belo Monte, não!” ficaram pelo chiqueirinho de imprensa, até um deles tentar subir no palco e hastear bandeira. Lenine, em ritmo de paz e espírito apaziguador, acalmou os seguranças, tranquilizou os rapazes e voltou a cantar, do começo, acompanhado por todos, “Paciência“.

§ Falando nele, outra nova de trás do palco: está pronto, e para sair, o novo álbum de Lenine, Chão, a qualquer momento.

§ Durante o show de Alisson Menezes e a Catrupia, ainda no começo da noite de sábado, um boi-burrinha invadiu o público, que abriu a roda e se animou – como fez, aliás, com praticamente todos os ritmos e propostas que pintaram pelo evento.

§ Foi elogiado o duelo de MCs promovido pela Família de Rua na Estrada, de Belo Horizonte. Com um sistema de avaliação que misturava aplausos e dois juízes no palco, o vencedor do duelo foi o MC Shugs, de Salvador.

§ Criolo fez uma aparição em som, em certo momento rolando nas caixas “Não existe amor em SP”, discotecado por, ouvi falar mas não vi, BNegão.

§ Romulo Fróes, que participou do show de Manuela Rodrigues, cantou de seu último álbum a canção “Filho de Deus”, dedicada ao pai baiano, e foi aplaudido com calor. Ele só pensou tomara.

§ Foi curioso ver Paulo Miklos por lá, participando do show do Porcas Borboletas, a extrema urbanidade paulista de “Bichos escrotos” de alguma maneira fazendo sentido tocada por mineiros estranhos e entoada pela grande plateia baiana à beira mar.

§ Elza Soares entrou de cadeira de rodas e sentou-se um sofá branco para participar do show da gafieira Senta a Pua!, mas a operação na coluna que disse ter feito (“mas não na voz!”) não a impediu de esbanjar energia, jogar papinho pra cima do trompetista bonitão, cantar emocionantemente a capella e suingar como se tivesse 20 anos, o que parece ter de espírito, com sua voz rasgada e intensa como no auge. Foi um dos momentos mais aplaudidos de todas as noites.

§ Já o maior coro de todas as noites do festival aconteceu durante as músicas de Edson Gomes, participando do show de Celso Moretti (que se definiu como reggae-favela, enquanto estilingava poemas em papéis amassados ao público).

§ Wilson das Neves, Virgínia Rodrigues, Luiz Chagas, Gui Kastrup, Duani circulavam pela área dos camarins e produção e imprensa, com banquinha de acarajés e o quiosque da Jane Fonda baiana ao alcance do braço.

§ Ao lado do palco, à frente do mar, uma turma caminhava e pulava sobre uma corda bamba amarrada entre dois coqueiros. Talvez não fosse intencional, mas em vários momentos davam um novo ritmo à noite, como um balé surreal seguindo a trilha dos shows.

§ A lua surgiu grávida e ficou completamente cheia no domingo, flutuando como um balão fluorescente no céu de Salvador.

§ Outras críticas, reminiscências e relatos do Conexão Vivo: por Marcus Preto, por Pedro Alexandre Sanches, por Esperança Bessa, por Lauro Lisboa Garcia, por Guito & Fernanda Perez, por Amauri Gonzo e por Marcelo Costa.

§ Fotos do post do flickr do festival.


Felicidade em Sairé
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Ronaldo Evangelista

Pra filmar seu primeiro vídeo, da canção “Felicidade”, de seu álbum Feito Para Acabar, do fim do ano passado, Marcelo Jeneci foi pra cidade de Sairé, interior de Pernambuco. Ao lado de Laura Lavieri, tocando violão na rua e piano elétrico na chuva, ouvindo a música em altos falantes espalhados pela pequena cidade, Jeneci encontrou velhos parentes e entrou no clima de pequeno município para ilustrar a música em imagens simples e diretas, leves e idílicas como a canção. A direção do novíssimo clipe é de Lucas Cirillo, produtora bigBonsai, e em breve lançam também minidocumentário sobre a visão de felicidade dos moradores de Sairé.