Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : janeiro 2012

O Brasil de Inezita Barroso
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Ronaldo Evangelista

E essa caixa da Inezita? Dois dez polegadas e cinco LPs iniciais lançados pela Copacabana, entre 1955 e 1961, compilados em seis CDs. Lindo – a se lamentar só a ausência das essenciais “Azulão” e “Modinha”, de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira, e “Viola quebrada”, de Mário de Andrade, limadas por desacordo com os herdeiros dos versadores famosos. Bem, mais motivo para ir atrás dos vinis originais. De resto, por todos os discos (e na verdade até hoje), a poderosa voz de Inezita e seu talento para encontrar composições são impressionantes, fontes inesgotáveis de alegria.


Cruzando a Cidade
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Ronaldo Evangelista

Em comemoração ao aniversário de 458 anos da maior cidade do Brasil e sexta maior do mundo, a apresentação especial Cruzando a Cidade, sob direção artística de Maurício Fleury e Ronaldo Evangelista, traz recortes e retratos que mostram vários momentos, lugares e estilos musicais da metrópole. O show revela-se como um passeio mostrando altos e baixos, depressões e altos-relevos da cidade cinza através do encontro de diferentes gerações de músicos, compositores e intérpretes. Recuperando composições do inconsciente coletivo urbano em uma ocupação do imaginário de São Paulo através das canções, o espetáculo apresenta repertório de surpresas bem achadas de ode à cidade, em novidades e releituras que apresentam os vários lados e diferentes contradições do caleidoscópio que vivemos diariamente. Ginásio do SESC Ipiranga, 18h (qua) e 21h (qui).

Dia 25/01: MAX BO, DONA INAH, MAURICIO PEREIRA, LUISA MAITA E KIKO DINUCCI
Dia 26/01: MAX BO, TULIPA RUIZ, JAIR RODRIGUES, LURDEZ DA LUZ E LEO CAVALCANTI


(foto do ensaio com Leo e Tulipa no Traquitana por Cris Scabello)

Não é amor, é identificação absoluta, cantava Itamar Assumpção em “Persigo São Paulo”. Ideia e canção centrais para o roteiro do espetáculo Cruzando a Cidade: não é exaltação, é observação afetiva. Recortes e momentos variados, visões do trajeto que fazemos diariamente indo ou voltando do trabalho, capturados por cenas inusitadas ou simplesmente devaneando, relembrando a história dessas calçadas pisadas por milhões de cidadãos a cada minuto.

Todas as músicas guardam relação com a cidade e, principalmente, com o momento em que ela vive. Encontros e desencontros amorosos, a pé pelas ruas, estão presentes em “Trovoa”, cantada por seu autor Mauricio Pereira – relida em disco pelo Metá Metá de Kiko Dinucci, foi uma das mais emocionantes interpretações do ano de 2011. Kiko, por sua vez, apresenta composições inéditas que chama de vinhetas e funcionam como polaróides de episódios urbanos, às vezes num paradoxo sentimental possível apenas numa cidade como São Paulo.

A região central da metrópole é um dos personagens principais do show. Na voz rouca e atemporal de Dona Inah (figura única da música paulistana há pelo menos cinco décadas), representando a tradição do Bixiga em “Praça 14 Bis” (de Eduardo Gudin). Na interpretação de Lurdez da Luz (que já traz um bairro do Bom Retiro no nome), atualizando uma página importante da história do rap brasileiro com “Centro da Cidade” (de MC Jack) – originalmente da coletânea de 1988 Hip Hop Cultura de Rua, que definiu os rumos do hip hop a partir dos encontros no Largo de São Bento.

Cada dia mais inevitável em São Paulo, o trânsito na cidade é tratado no show com a ironia necessária para a sobrevivência no caos, como na lógica pedestre do antigo hit de Skowa & a Máfia, “Atropelamento e Fuga”. “Tudo Parado na City”, de Tatá Aeroplano, cantada por Leo Cavalcanti, coloca as angústias do deslocamento (ou sua impossibilidade) em contraste com o maravilhado imigrante de “Passeio” (de Belchior), por entre os carros na rua da Consolação. Visões poéticas marcam presença na Zona Oeste na voz de Luisa Maita e na inusitada canção sobre o “Amor na Vila Sônia” (de Rodrigo Campos).

A disputa pelos holofotes é vista com humor através de “Delírio, Meu!” (composição de Luiz Tatit, originalmente na voz de Ná Ozzetti com o Grupo Rumo), cantada por Tulipa Ruiz, e “Rapaz da Moda” (de Evaldo Gouveia e Jair Amorim) na voz de Jair Rodrigues lembrando um antigo hit de si próprio. Já a dor que o progresso impõe aos menos favorecidos é retratada em versão do clássico absoluto “Saudosa Maloca”, do centenário Adoniran Barbosa.

O mestre de cerimônias do evento e nosso guia pela metrópole, Max B.O., também oferece em música seu comentário sobre a atitude necessária para combater as adversidades presentes no cotidiano da cidade: “não basta ser forte, tem que ser fortaleza”, de sua própria “Fortaleza”, que ganha nova versão no show. A grande banda é formada por Mauricio Fleury (piano elétrico e direção musical), Tony Gordin (bateria), Fábio Sá (baixo), Marcelo Dworecki (guitarra), Décio 7 (percussão), Cuca Ferreira (sax barítono), Daniel Nogueira (sax tenor) e Richard Fermino (trompete).

Como encontros casuais pelas esquinas, a interação entre intérpretes é algo que acontece naturalmente com o envolvimento de artistas tão múltiplos em seus interesses. No palco, entre ocupações de diferentes imaginários da sexta maior cidade do mundo, a festa é grande com surpresas, lembranças e histórias comemorando os 458 anos de São Paulo.


São São Paulo
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Ronaldo Evangelista

São Paulo é uma construção coletiva, obra de arte em movimento. Estar na cidade é viver coexistindo e criando, circulando e observando, definindo e reinventando, chegando e partindo, somando e sumindo. Todas as origens são a origem de São Paulo. No play abaixo, a descobrindo como sempre há 458 anos, três vivências na cidade mais reais que a realidade, cinema puro: São Paulo S.A. de Luís Sérgio Person, Documentário de Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci, e Esta Rua Tão Augusta de Carlos Reinchenbach, todos filmes dos fins dos anos 60 e de hoje. Para ver mais, só por o pé na rua.




MarginalS + Thomas Rohrer
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Ronaldo Evangelista

MARGINALS + THOMAS ROHRER by MARGINALS

Em 2011 o MarginalS lançou seu ótimo CD de estreia, mas talvez seu grande álbum do ano tenha sido essa apresentação do trio ao lado do rabequista suiço radicado no Brasil Thomas Rohrer, no dia 23 de fevereiro no espaço +Soma.

É sempre fascinante ouvir o saxofonista Thiago França, o baterista Tony Gordin e o baixista Marcelo Cabral recebendo convidados, cúmplices voluntários da criação espontânea que praticam – e com Thomas algo especial aconteceu: transe em texturas, grooves hipnóticos, camadas de ideias se completando em tempo real, belezas que nascem no limite das possibilidades.

Se não saiu fisicamente (pelo menos ainda não, mas sonho com uma edição em vinil), dá pra ouvir inteiro pelo Soundcloud da banda, play acima, e dois momentos filmados pelo Matias aqui. Foto, Eugênio Vieira.


Bixiga 70 no Sesc Pompeia
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Ronaldo Evangelista







Já que falamos nos Tincoãs e já que hoje à noite pinta uma surpresinha deles no repertório do Bixiga 70 no Sesc Pompeia, nos plays acima o show inteiro que o tenteto fez em junho passado no Prata da Casa e que rendeu o repeteco de hoje, em dupla com a orquestra carioca Abayomy. Daqui.

Tags : Bixiga 70


Os Tincoãs na TV
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Ronaldo Evangelista





Gravado da Rede Globo numa manhã de domingo em 1982 ou 1983 em N-LINHA. Cinco faixas dos Tincoãs em apresentação em estúdio, “Promessa ao Gantois”, “Lamento às águas”, “Cordeiro de Nanã”, “Deixa a gira girar” e “Ogundê” (as duas primeiras acompanhados de grande coral regido por Abelardo Magalhães).

Mesmo com baixa qualidade de imagem e áudio, um sonho que se realiza ver essas rarísimas imagens do trio de Cachoeira tocando ao vivo, com suas harmonizações e vocalizes sublimes e lindas composições e adaptações afrobarrocas. Dadinho no violão e celestial voz principal aguda, Mateus Aleluia nos atabaques e voz grave e recitações em dialeto banto e Badu no agogô e terceira voz.

Dica do Gorky, pescado aqui.


Mutantes a cores
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Ronaldo Evangelista

Incroyable esse vídeo dos Mutantes, ao vivo na França em 1969, cantando versão em inglês de “Caminhante noturno” (“Night walker”, portanto?), com orquestra, Duprat, figurino, olhares apaixonados e, uau, em cores!

(Quase um ano depois de vazarem essas imagens maravilhosas também de Paris em 1969.)

Via Bedazzled.