Blog do Ronaldo Evangelista

Itamar Assumpção e Isca de Polícia ao Vivo no Teatro Funarte, 1983

Ronaldo Evangelista

Comemorando a estreia do documentário Daquele Instante em Diante, esta semana, sobre Itamar Assumpção, logo abaixo em cinco partes registro inteiro de show que fez em 1983 no Teatro Funarte, com repertório baseado em seus dois essenciais primeiros discos (Beleléu Leléu Eu e Às Próprias Custas S.A.), acompanhado da banda Isca de Polícia: Suzana Salles e Virgínia Rosa nas vozes, Gigante Brasil na bateria, Paulinho Lepetit no baixo e Luiz Rondó Monteiro na guitarra. Clássico da reprise da Cultura e agora do YouTube.


Com suas canções redondas e de fluência orgânica, misterioso como um poeta beat do pop new wave brasileiro aliás paulista, de ''Oh! Maldição'' do Arrigo à sua ''Amanticida'', passando pelo sósia de Roberto Carlos, Itamar começa de visu até comportado, de macacão preto e camisa bufante amarela, e pelo caminho pega a guitarra pra um groove rápido.


Que black navalha você, Beleléu. ''Luzia'' vem com lero-lero-lero-lero, e depois ''Embalos''. Itamar estilosíssimo de óculos escuros e roupa já vermelha, com sua música teatral, esperta, onde tá sua malícia? Com seus causos de São Paulo de ponta a ponta, cabe samba dos anos 30, formatos e dinâmicas rock dos anos 60, funk elétrico dos anos 70, pós-tudo dos anos 80.


Um dos melhores momentos, ''Se eu fiz tudo'', pérola, cantada pelas meninas, mais ''Denúncia do Santo Silva Beleléu'' e o clássico ''Escurinho'' (de Geraldo Pereira), em versão itamarassumpçãozada. E agora, como é que fica afinal? Esta música, este funk, este samba, este rock n'roll, este jazz. Fica assim, uma nega.


Não venha querendo você se espantar: já de peito nu e jaqueta azul de nylon, Itamar comanda sua obra-prima em reggae (etc) Nega música – recentemente regravada pelas cariocas do Tono, veja você -, aqui cantada pela Virginia, enquanto Suzana abraça Itamar, que assiste tranquilo. Pra fechar o bloco Itamar canta paixão, solidão, canto de guerreiro, ''Prezadíssimos ouvintes'' (de seu terceiro álbum, Sampa Midnight). Quero agora cantar na televisão. Mas quem é me garante que esses microfones sempre funcionarão?


Denise Assumpção vem participar de outra obra-prima: ''Beijo na boca''. A vida não é mais que, se resume, vale mais? Pensei que você não ia mais me largar. Nu da cintura pra cima, com seus óculos escuros, Itamar aproveita pra criar um clima de intimidade com a câmera, conversar com operador, editor e público em casa e comanda orquestra de palmas na audiência, até cansar, pra fechar.