Blog do Ronaldo Evangelista

Categoria : A melhor música do mundo

MarginalS + Criolo + Lurdez da Luz
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Ronaldo Evangelista

Em abril último, no Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro, o groove mágico do MarginalS com performance soltando faísca de Lurdez e Criolo. Em São Paulo, o trio e os dois rimadores se apresentam novamente juntos em setembro, na Casa de Francisca. Essa é pra quem desacreditou do meu rolê: a faixa no play acima é “Cerol”, uma das melhores do Criolo, do DVD ao vivo que gravou em 2008, então ainda Doido, aqui com intervenção inspirada de Lurdez.


azar ou sorte de quem multiplica e soma
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Um faz, outro desfaz. Pedro Santos, Sorongo, percussionista inventor de seus próprios instrumentos e padrões, compositor de grandes ideias e ideais, autor da obra-prima sem par Krishnanda, de 1968, em 40 anos de carreira participou de mais discos e escreveu mais canções do que poderia sugerir o seu semianonimato.

Em 1976, o excelente e ultrararo LP Nira Congo, do Conjunto Baluartes, formado por Eliseu, Luna e Mestre Marçal mais Marçalzinho, Dotô e Toninho, todos ritmistas, samba pesado e de tempero afro particular, incluía pérola existencialista de Sorongo, puxado no cavaquinho e percussão das esferas, “Conflito“.

Pedro Santos pensava e dizia umas coisas tão pontuais, tão únicas e tão certeiras, que ouvi-lo é mais que lição de filosofia, é aprendizado de vida. Você vai ouvindo, vai ouvindo, e de repente quando vê a ideia já está dentro de você, já é um ponto novo nos seus contos. Só abrir a cabeça e os ouvidos e ouvir, a melhor música do mundo hoje, play logo abaixo.

um faz, outro desfaz
vida de morte num mundo que não tem paz
um toma, outro retoma
azar ou sorte de quem multiplica e soma

cada qual mais entendido mais sabido em seus contos
se agachando sempre achando se perdendo nos descontos
noutros dados são quadrados tem seus lados com seus pontos
sacudidos são jogados que os vencidos ficam tontos


vai vai vai vai vai
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Ronaldo Evangelista

Depois de gravar os seus famosos três primeiros álbuns, em 59-60-61, João Gilberto em 1962 não só foi a Nova York representar o melhor do melhor ao tocar no Carnegie Hall como se internacionalizou também em breve participação na trilha do filme franco-ítalo-brasileiro Copacabana Palace.

João no auge da sutileza do canto e no máximo de suingue do violão, curiosamente fazendo cena para uma festa dançante sessentista (com uma Carmen surreal). A música, a novíssima “Só danço samba”, com Os Cariocas (saída do mesmo show coletivo com Tom e Vinicius onde nasceram “”Garota de Ipanema” e “Samba da bênção”), em prévia da versão que João faria no ano seguinte com o sax de Stan Getz.

As harmonias vocais (agudas, graves, abertas, dissonantes) dos Cariocas são chocantes, especialmente sobre a base zen do violão do João (e um breve “vai vai vai vai vai” aos 2m31s), mas a cereja do bolo é a caidinha que João dá com a voz aos 36 segundos, de resumir toda sua genialidade em um suspiro – enquanto canta sozinho uma vez antes do grupo vocal entrar rasgando. Gravado para a bande originale do filme e só lançado na França em um EP (ou “compacto duplo”).




só com a preguiça vem a paz
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Erasmo Carlos completa 70 anos hoje, em pleno movimento: lança em breve novo álbum, Sexo, produzido por Liminha.

Erasmo tem um jeito de falar as coisas, uma simplicidade profunda que é capaz de revelar o que mil rebuscamentos não dizem. Sua personalidade se destaca desde o tempo da jovem guarda até o humor sério dos 80, mas é no começo dos anos 70 que viveu seu período mais inspirado. Todos os seus discos entre 68 e 76 são picos de criatividade e a maturidade hippie da época permitia que criasse canções e arranjos sem limites, cruzando todos os universos em vários registros de emoção, sempre sensível e esperto.

Os sambinhas, desde pelo menos quando descobriu João Gilberto, nos anos 50, eram uma especialidade – mas agora vinham falando de coisas de verdade, por mais ingênuas que pudessem ser. Se Roberto continuou-se pela década de 70 apurando as composições esquema cineminha romântico, Erasmo foi descobrindo-se existencialista, contemplativo do cotidiano: Narinha, o cigarro, o coqueiro, o jornal, imposto em dia.

O “Samba da Preguiça“, um dos muitos sambinhas feitos para amigos pela dupla Roberto/Erasmo, não é desconhecido pra quem já ouviu o álbum de 1973 do Trio Mocotó. Mas a gravação abaixo é inavaliável pelo registro intímo de voz e violão, a poucos centímetros do clima de criação. Recorte do LP História Música Informação, da Rádio Jornal do Brasil, lançado em 1972 e publicado online pelo blog Soul Spectrum. Erasmo toca em resposta ao jornalista que lhe pede uma “coisa recente, que ainda não tenha sido gravada”. Inspiração: a preguiça que o mundo sente, porque o mundo caminha pra preguiça.


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