nesse minuto sei tão bem do espaço que ocupo
Ronaldo Evangelista
Na Ilustrada de hoje, breve crítica minha acompanha matéria sobre o novo de Céu. Mais ou menos assim, como logo abaixo do vídeo de “Retrovisor”, ilustrando o post.
“CARAVANA”: IMAGINAÇÃO, CLIMA IMAGÉTICO E SOM SETENTISTA
Não há nada como assistir a um filme chegando aos créditos iniciais sem pista prévia de ritmo, estilo, enredo, pura apreciação das surpresas de uma cinematografia bem desenvolvida.
Alguns dos melhores cineastas sabiam disso tão bem a ponto de se recriar e reinventar novos universos a cada filme ou número de filmes – algo não muito diferente da evolução criativa disco-a-disco tão comumente esperada e cobrada de compositores, produtores, músicos.
Pelo espelho do carro em trânsito, entre as serpentinas no salão do baile, no asfalto e no mar, a Céu de “Carvana Sereia Bloom”, seu terceiro disco, aparece como que em cortes de superoito, focos de baixa fidelidade, locações perdidas na estrada.
Metaforicamente cinema, seria algo como o cruzamento de um longa jamaicano de baixa qualidade com algum cineasta independente do Recife citando Cacá Diegues de fins dos anos 70, entre vinhetas, reggae obscuro, Nelson Cavaquinho, composições de Jorge Du Peixe, Lucas Santtana, Gui Amabis, Céu.
A organicidade lapidada de Beto Villares, produtor de seus dois primeiros álbuns, dá lugar ao estilo imagético de Gui Amabis, com baterias altas, órgãos climáticos, baixos de timbre setentista, guitarras em solos à frente ou soando com slide.
Colando juntos na viagem, processo como sempre colaborativo, participam músicos como Dustan Gallas, Dengue, Pupillo, Bruno Buarque, Lucas Martins, Thiago França, Curumin, Lúcio Maia, Negresko Sis (o trio vocal com Thalma de Freitas e Anelis Assumpção), Fernando Catatau.
De Céu, ficam ainda mais claros em sua musicalidade a imaginação, o senso de humor, a beleza, a leveza, a naturalidade, o apuro, a voz.