Blog do Ronaldo Evangelista

nada contra hardcore mas hoje eu quero funk
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Ronaldo Evangelista

O disco que a Lurdez da Luz lançou há pouco mais de um ano é tão bom que continua rendendo: no ar essa semana o vídeo de ''Ziriguidum'', com participação de Rodrigo Brandão, ou seja, encontro do Mamelo Sound System em boas companhias. Filmado à luz do sol, urbano e estiloso, derretendo sorvetes, Brandão de boombox, com voz baixa e rimas graves, Lurdez com as amigas, rimas bem mandadas e letra inspirada, som de trompete do Rob Mazurek, aparição dos Marginals na piscina, no orelhão, na rua.


Sambanzo tocando na Serralheria
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Ronaldo Evangelista


O impressionante quinteto Sambanzo, do saxtenorista Thiago França, com Kiko Dinucci na guitarra, Marcelo Cabral no baixo elétrico, Pimpa na bateria e Samba Sam na percussão, tem um conceito musical rico, pegada intensa que cruza figuras afrobaianas, jazz etíope, funk nigeriano. O disco vai ser de cair o queixo e deve sair ainda esse ano. Dando o gosto, nos vídeos acima tocam ''Sino da igrejinha'' e ''Xangô'', ao vivo na Serralheria, filmado pelo Guito.


Bem Gil fala sobre Gilberto Gil 1968
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Ronaldo Evangelista

Também dentro do especial dia dos pais da série DNA Musical, artistas comentando discos importantes pra eles, no site do Oi Novo Som, Bem Gil – do Tono etc – comenta o segundo álbum solo de Gilberto Gil, o tropicalista, aquele com Duprat e Mutantes e capa do Rogério Duarte. Assim, logo abaixo.

O primeiro disco do Gil que me lembro de ter ouvido é o ''O Eterno Deus Mu Dança''. Eu tinha 4 anos de idade quando esse disco foi lançado e, a partir de então, tenho memórias muito vivas de todos os trabalhos subsequentes.

Mas foi só aos 16 anos de idade que resolvi escutar toda discografia do meu pai em ordem de lançamento. Ouvi seu primeiro disco ''Louvação'' e resolvi, finalmente, pegar num violão pela primeira vez. E daí por diante, a cada disco que eu ouvia, uma nova paisagem se apresentava e minha vida mudava de novo e de novo.

Eleger um dele como o ''disco que eu tocaria na íntegra'' é difícil, mas a minha escolha, hoje, seria o segundo disco do Gil, de 1968, com a participação dos Mutantes.

É um disco que logo de cara me chamou a atenção pela espontaneidade. Gil resolveu (através de Rogério Duprat, seu arranjador) convidar os Mutantes para participar do disco e fez um álbum de ''banda''. O que acabou se transformando em característica presente em vários de seus discos seguintes.

No sentido da ''minha execução integral desse disco'', os Mutantes pesam muito pois são uma referência musical muito forte pra mim e pro Tono (banda com a qual exerço música desde a criação até a execução, em discos e shows).

Esse é o disco mais tropicalista do Gil, e um dos mais bonitos de todos os discos tropicalistas. As composições (poéticas) vão desde temas urbanos (''Domingou''), rurais (''Coragem pra Suportar'') e políticos (''Marginalia II'') até o resgate do folclore como em ''Pega a Voga, Cabeludo''. Com a regravação de ''Procissão'' (presente no disco anterior), Gil didatiza o manifesto tropicalista, deixando os Mutantes a vontade para recompor a música sem qualquer tipo de limite estético/musical.

Apesar de tudo isso o que mais me chama a atenção pra esse disco é que ''Luzia Luluza'' é uma das gravações mais bonitas em todo repertório discográfico do Gil. É um conto tropicalista levado a Hollywood pela orquestração do Rogério Duprat. É lindo.''Pé da Roseira'' é uma música que não me canso de ouvir.

E o disco fecha com ''Domingo no Parque''. Música que dispensa qualquer tipo de apresentação/comentário e que foi apresentada pela primeira vez em público no festival de 67, ao lado dos Mutantes, e com regência do Rogério Duprat. Com certeza o pontapé inicial pra que este disco fosse lançado no ano seguinte.


Tita Lima fala sobre o Jardim Elétrico dos Mutantes
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Ronaldo Evangelista

Dentro de uma série chamada DNA Musical, no site do Oi Novo Som, artistas comentam discos que foram importantes para sua formação. Há algumas semanas, em especial do dia dos pais, Tita Lima comentou o quarto disco dos Mutantes, já com seu pai, Liminha, integrado à formação como baixista, logo abaixo.

Já que vocês pediram para escolher um disco dos Mutantes com o meu pai, não tenho dúvidas: Jardim Elétrico. Escolho o quarto disco da banda, de 1971, por uma questão afetiva. Quando eu era criança adorava o desenho da capa. Tinha medo e atração pelo monstro, tinha aquela imagem decorada e talvez até conseguisse redesenhar a arte com os olhos fechados. Eu ficava ouvindo “Portugal de Navio”, rindo da voz esquisita do meu pai.

Era tão pequena que não entendia o duplo sentido das letras. Para mim, escutar Saltimbancos e Mutantes era divertido. Vou trepar na escada significava: “Vou trepar na escada!”. Vou te mandar para Portugal de Navio era isso mesmo, eu imaginava meu pai mandando minha mãe viajar em navios antigos.

Eu achava que a Rita era uma fada madrinha/bruxa, mas das boas e que ela sempre iria me proteger quando eu ficasse no escuro. Pra mim, a Rita não era 100% humana, mas uma fada que transitava entre os humanos disfarçada e só eu sabia o segredo dela. Ela piscava pra mim quando me via e fazia carinho na minha orelha, eu achava que aquilo era um código. rsrsrsr!

As músicas mais valiosas para mim, além de “Portugal de Navio”, são “Lady Lady” porque eu acreditava que esta música havia sido feita para minha avó que se chamava Layde. Eu não sabia inglês! E “El Justiceiro” formava um personagem na minha cabeça, ele era lindo e forte, quase um herói, e era parecido com Walmor Chagas! rsrsrs.

Na verdade todas as músicas eram importantes para mim, faziam parte de um contexto, um filme. Não dava para pular uma faixa, eu não sabia mexer em vitrola e chegar perto de agulha era bronca na certa! Além de criar meus personagens para esse disco, eu o conhecia de cabo a rabo, sabia cada solo, cada voz …cada virada de bateria.


Soy loco por ti, América
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Ronaldo Evangelista

Fim de semana fui ao Jóquei Clube acompanhar os shows do festival Telefônica Sonidos, realizado pela Sony Music, com Julieta Venegas recebendo Marisa Monte, Los Amigos Invisibles recebendo Seu Jorge, Alex Cuba recebendo Tulipa, Jota Quest recebendo Illyah Kuryaki & Los Valderramas, Camila recebendo Wanessa Camargo, Victor e Leo não recebendo ninguém. A cobertura saiu no Uol Música e você pode ler sobre a sexta aqui e sobre o sábado aqui.


Aloe Blacc quer dar rolê com Hermeto Pascoal
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Ronaldo Evangelista

Domingo dia 27 no Rio, dentro do festival Back2Black, terça dia 30 no Bourbon Street em São Paulo, o rimador e cantor de novo soul Aloe Blacc, autor de uma das melhores canções pop americanas dos últimos tempos, ''I need a dollar'', se apresenta com sua banda Grand Scheme. Aproveitando o momento, liguei pra ele na Califórnia essa semana pra meia dúzia de perguntas, em matéria publicada hoje na Folha Ilustrada. Abaixo, o papo.

Você já veio ao Brasil?

Nunca fui, vai ser minha primeira vez.

Tenho certeza que você tem alguns músicos brasileiros favoritos…?

Meu interesse na música brasileira nasceu com a bossa nova de Tom Jobim e Astrud Gilberto. Essa foi a primeira coisa brasileira por que me apaixonei. Depois descobri artistas como Jorge Ben, Sérgio Mendes, Arthur Verocai e Flora Purim. Muitas coisas bonitas e diferentes.

E já ouviu alguma coisa sobre o hip-hop brasileiro?

Sim. Ouvi falar muito sobre o grafite e também sobre a cena hip-hop no Brasil, mas ainda preciso conhecer os nomes.

Por aqui também a cena hip-hop tem encontrado equilíbrio com música tocada, cantada. Você acha que o hip-hop e o soul tem encontrado novas relações ultimamente?

Acho que sim. O hip-hop está crescendo – e quando você fica mais velho, quer se expressar de novas maneiras. O meu interesse se virou para a música tocada ao vivo.

Essa influência de soul music é uma coisa que sempre esteve com você ou foi uma novidade quando descobriu?

Foi uma espécie de experimento a princípio. Agora virou meu emprego. (risos) Fiz um álbum chamado Shine Through, em que cantei uma cover de Sam Cooke com uma batida hip-hop, ''A change is gonna come''. E também a faixa-título, ''Shine through'' era uma canção soul. E ''I'm beautiful'', do mesmo álbum. Essas foram o começo de minhas experiências com hip-hop e soul. Depois fui me aprofundando mais e mais.

A inspiração para escrever ''I need a dollar'' foi próxima de escrever um rap?

Foi mais ou menos. Quando escrevi ''I need a dollar'' estava ouvindo canções folk. Músicas de presos acorrentados uns aos outros, de pessoas que estavam encarceradas e trabalhando como parte de sua pena, cantando para ajudar no trabalho. Cantando suas próprias músicas e dividindo as canções enquanto trabalham. Muitas histórias seriam sobre seus problemas – e me inspirei a criar minha propria canção de presos acorrentados. Essas canções são muito repetitivas e são comunitárias, envolvem mais de uma pessoa. E quando estava escrevendo os versos, acrescentei coisas da minha vida pessoal.

Imagino que tenha sido uma surpresa quando ela começou a ficar famosa.

Nunca esperei que fosse ser um grande hit. Achei que fosse ser como todo o resto, uma canção undeground de que as pessoas gostam, como meu último álbum. Mas se tornou algo muito grande. Acho que todo mundo a conhece hoje, pessoas de quatro anos e pessoas de 64 anos, todos cantam.

Ok, última pergunta: que músico você gostaria de encontrar nessa vinda ao Brasil?

Hmm. Sabe o que seria muito legal? Passar o dia com alguém como Hermeto Pascoal. Como um músico, tenho visto as coisas que ele tem feito pelos anos e ouvido a música que ele tem feito e seria muito interessante e divertido e empolgante passar um dia fazendo um som com ele – ou simplesmente o assistindo.


Bixiga 70 na Seleta Coletiva
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Ronaldo Evangelista

A big band de grooves de tempero afro Bixiga 70, dez músicos de São Paulo tocando temas autorais e versões ocasionais de Fela Kuti, SoulJazz Orchestra, Pedro Santos e K. Frimpong, se apresenta hoje no Studio SP, dentro da festa Seleta Coletiva – assumindo o posto habitual do Instituto, em Brasília para show do Criolo. O som do Bixiga só melhora, single e álbum de estreia estão para sair e você pode saber mais lendo essa entrevista que fiz com eles, clicando por exemplo aqui ou simplesmente aparecendo no show, pontualmente às 23h, rua Augusta.


Beto Villares na Casa do Núcleo
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Ronaldo Evangelista

De hoje, quinta, a sábado, na Casa do Núcleo Contemporâneo de Benjamin Taubkin, espaço no Alto de Pinheiros, centro cultural de música, acontece temporada de Beto Villares, apresentando canções de seu possível segundo disco, com convidados como Anelis Assumpção e Marcelo Pretto. Excelentes Lugares Bonitos, álbum de 2003, primeiro de Beto, é uma joia rara – e todo seu trabalho no Ambulante Estúdio é coisa fina, incluindo os discos que produziu de Céu e Siba e Itamar. Considerando seu toque-de-ouro de tranquilidade sensível e como são poucas suas apresentações ao vivo, dá pra dizer que é imperdível.


é legal a cultura viva racional
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Ronaldo Evangelista

Não sei quanto ao livro, mas ouça o disco que é coisa limpa, é coisa pura, é legal e é bacana: com seis faixas e meia hora (não muito diferente dos dois primeiros volumes), o lendário e agora real terceiro volume da série Tim Maia Racional foi finalizado e lançado como CD bônus de um box de Tim, em breve em edição individual nas lojas. Hoje na Folha Ilustrada, crítica minha do recém-nascido clássico álbum, logo abaixo.

Não é apenas o fato de que Tim Maia estava no seu auge artístico que faz de seus discos ''Racional'' especiais em sua discografia. A ideia de que o cantor famosamente mais longe possível de estabilidades houvesse decidido se limpar, se endireitar e caretear graças a uma aparentemente seita, decididamente maluca, pregando a origem e volta do ser humano ao espaço, e a intensidade com que interpreta isso tornam pérolas os dois volumes, lançados de forma independente em 1975.

Quando há alguns anos surgiram as palavras mágicas gravações inéditas, a gigante expectativa chegou ao ponto de quatro faixas vazarem na internet em versões cruas, demos que Tim havia deixado, gravadas no estúdio Somil em 1976. Agora, em distribuição exclusiva para compradores de box de Tim vendido em bancas e futuro lançamento em lojas pela Sony Music, o material se realiza em novo mítico volume da série, Racional 3.

O produtor Kassin, ao lado do guitarrista original de Tim na época, Paulinho Guitarra, finalizou as seis faixas (duas a mais do que sabia pelas demos) com o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti, acrescentando clavinetes, sintetizadores, órgão, cordas, sopros, solos de saxofone e guitarra fuzz a canções como “Lendo o livro” e “I am rational”. A produção detalhista de Kassin recupera os timbres originais e a participação de músicos próximos como Paulo e Olivetti garante a dedicação musical e pessoal, criando um disco novo, inédito e ponto alto da carreira de Tim – lançado 13 anos depois de sua partida.

Apesar de todos os envolvidos terem lamentado o vazamento na rede das demos originais, só podemos agradecer por ter acontecido – hoje é um prazer incalculável poder ouvi-las, tão deliciosas em sua crueza quanto são ótimas as novas versões já totalmente vestidas. Da sugestões geniais às realizações plenas, funk dos melhores do mundo, o groove perfeito de baixo e bateria, guitarra com wah-wah, ataque de sopros, vozeirão visceral: o som clássico de Tim Maia, black music com naturalidade brasileira, soul universal.