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Arquivo : Davi Moraes

Soar genérico é uma arte
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Ronaldo Evangelista

Hoje na Folha Ilustrada, reportagem sobre o disco novo de Maria Rita, Elo, saiu acompanhada de crítica minha, abaixo.

Em quarto álbum, Maria Rita segue cartilha do mercado

Grosso modo, dentro do processo artístico você pode seguir o caminho do familiar ou do criativo. Por definição, o criativo demanda invenção. Já para dialogar com o familiar, basta mimetizar tiques e vícios de descobertas prévias.

Por motivos estratégicos óbvios, a música que existe dentro do mercado pop busca o mínimo denominador comum, o consumo em massa, o derivativo sobre o original. Não é coisa simples soar normal, não é fácil soar comum. Soar genérico é uma arte em si.

No caso de Maria Rita e seu quarto álbum, “Elo”, tudo parece vagamente familar desde a capa: já não vimos isso antes? A sonoridade é recuperada de seus dois primeiros discos pré-”Samba Meu”, com levadas de piano, baixo e bateria, grooves e bossinhas, convenções sem muita distância do previsto.

O repertório, básico: Chico, Caetano, Rita Lee, Djavan. “Menino do Rio”, “Só de você”, “A História de Lilly Braun”, ela já não havia gravado? O ápice do apelo à memória coletiva chega em hit de novela de 15 anos atrás de Djavan, “Nem um dia” (“um dia frio, um bom lugar pra ler um livro…”).

Entre as novidades, uma canção de Marcelo Camelo (compositor de quem Maria Rita já gravou quatro músicas), uma canção de Pedro Baby (filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes) com Daniel Jobim (neto de Tom Jobim) e outra de Davi Moraes (filho de Moraes Moreira) com Alvinho Lancelotti (filho do compositor Ivor Lancelotti).

É certo que Maria Rita já criou uma linguagem sua, de certa intensidade programática, como se constantemente tomando fôlego, notas longas em canções de amor doído ou romantismo açucarado. Assim, a cartilha pop que segue em “Elo” faz sentido, canções exatas para a voz de Maria Rita, cantando como se simplesmente normal. Uma arte.


Moraes Moreira canta Acabou Chorare
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Ronaldo Evangelista

O disco inteiro, em apresentação no IMS, no Rio, só no violão e acompanhado do filho Davi na guitarra, abrindo com trecho de cordel sobre a historia dos Novos Baianos e depois todas as canções do clássico de 1972. Moraes está cantando meio estranho e a formação de dois é magrinha (ainda que Davi seja ótimo), mas o repertório é o melhor do mundo e as histórias são maravilhosas. Como ao contar, aos 22 minutos, do primeiro encontro com João Gilberto, baianos à meia noite no Rio, e, imagine a cena, mostrando a ele a então novíssima “Dê um rolê”, rock afiado. João dizendo a Galvão que dividia o sonho da convivência coletiva, Moraes e Pepeu roubando um acorde por dia nos recitais hippies dentro do closet, aprendendo a olhar pra dentro de si, carne de carnaval e coração igual.


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