Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : Flora Purim

Aloe Blacc quer dar rolê com Hermeto Pascoal
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Ronaldo Evangelista

Domingo dia 27 no Rio, dentro do festival Back2Black, terça dia 30 no Bourbon Street em São Paulo, o rimador e cantor de novo soul Aloe Blacc, autor de uma das melhores canções pop americanas dos últimos tempos, “I need a dollar“, se apresenta com sua banda Grand Scheme. Aproveitando o momento, liguei pra ele na Califórnia essa semana pra meia dúzia de perguntas, em matéria publicada hoje na Folha Ilustrada. Abaixo, o papo.

Você já veio ao Brasil?

Nunca fui, vai ser minha primeira vez.

Tenho certeza que você tem alguns músicos brasileiros favoritos…?

Meu interesse na música brasileira nasceu com a bossa nova de Tom Jobim e Astrud Gilberto. Essa foi a primeira coisa brasileira por que me apaixonei. Depois descobri artistas como Jorge Ben, Sérgio Mendes, Arthur Verocai e Flora Purim. Muitas coisas bonitas e diferentes.

E já ouviu alguma coisa sobre o hip-hop brasileiro?

Sim. Ouvi falar muito sobre o grafite e também sobre a cena hip-hop no Brasil, mas ainda preciso conhecer os nomes.

Por aqui também a cena hip-hop tem encontrado equilíbrio com música tocada, cantada. Você acha que o hip-hop e o soul tem encontrado novas relações ultimamente?

Acho que sim. O hip-hop está crescendo – e quando você fica mais velho, quer se expressar de novas maneiras. O meu interesse se virou para a música tocada ao vivo.

Essa influência de soul music é uma coisa que sempre esteve com você ou foi uma novidade quando descobriu?

Foi uma espécie de experimento a princípio. Agora virou meu emprego. (risos) Fiz um álbum chamado Shine Through, em que cantei uma cover de Sam Cooke com uma batida hip-hop, “A change is gonna come”. E também a faixa-título, “Shine through” era uma canção soul. E “I’m beautiful“, do mesmo álbum. Essas foram o começo de minhas experiências com hip-hop e soul. Depois fui me aprofundando mais e mais.

A inspiração para escrever “I need a dollar” foi próxima de escrever um rap?

Foi mais ou menos. Quando escrevi “I need a dollar” estava ouvindo canções folk. Músicas de presos acorrentados uns aos outros, de pessoas que estavam encarceradas e trabalhando como parte de sua pena, cantando para ajudar no trabalho. Cantando suas próprias músicas e dividindo as canções enquanto trabalham. Muitas histórias seriam sobre seus problemas – e me inspirei a criar minha propria canção de presos acorrentados. Essas canções são muito repetitivas e são comunitárias, envolvem mais de uma pessoa. E quando estava escrevendo os versos, acrescentei coisas da minha vida pessoal.

Imagino que tenha sido uma surpresa quando ela começou a ficar famosa.

Nunca esperei que fosse ser um grande hit. Achei que fosse ser como todo o resto, uma canção undeground de que as pessoas gostam, como meu último álbum. Mas se tornou algo muito grande. Acho que todo mundo a conhece hoje, pessoas de quatro anos e pessoas de 64 anos, todos cantam.

Ok, última pergunta: que músico você gostaria de encontrar nessa vinda ao Brasil?

Hmm. Sabe o que seria muito legal? Passar o dia com alguém como Hermeto Pascoal. Como um músico, tenho visto as coisas que ele tem feito pelos anos e ouvido a música que ele tem feito e seria muito interessante e divertido e empolgante passar um dia fazendo um som com ele – ou simplesmente o assistindo.


Sou só música
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Ronaldo Evangelista

O trabalho de Miles Davis com o arranjador Gil Evans é sublime. Os momentos de beleza máxima atingidos realmente não passam impunes pelos corações mais sensíveis. Rodrigo Carneiro, em seu blog, reportou a bela história que ele viu n’O Som do Vinil, de quando Airto e Flora se conheceram e se juntaram:

Há algumas semanas, a cantora Flora Purim, uma das maiores do mundo, contou o início de sua longeva história de amor com o primoroso percussionista Airto Moreira no programa O Som do Vinil, exibido pelo Canal Brasil – Butterfly Dreams (1973), álbum gravado por ela nos EUA era o tema do semanal. Filha de pai violinista e mãe pianista, desde muito nova, Flora sempre soube tudo de música erudita e jazz. Ávida colecionadora de discos, certo dia ela chamou Moreira, com quem estava tocando em uma boate carioca, para uma audição de Miles Ahead, disco que Miles Davis havia lançado em 1957.

Por alguma razão inexplicável, Moreira sempre lhe fora distante. Nos ensaios, conversava o estritamente necessário. E só aceitou o convite por se tratar da audição de um álbum de Miles que ele desconhecia. Algo que Flora insistia que ele fizesse. “O disco tem tudo a ver com você”, argumentava. Talvez intuísse que anos mais tarde, lá estaria Moreira na banda e na ficha técnica de Bitches Brew (1970), outro momento luminoso de um dos artistas mais importantes do século 20. Pois foram os dois para a casa da cantora. Miles Ahead foi colocado na vitrola.

Aos primeiros acordes de “My Ship”, de Kurt Weill, Moreira baixou a guarda. Caiu em prantos, extremamente tocado pela interpretação de Miles. Flora então perguntou se estava tudo bem. E aproveitou para brincar com o músico que se debulhava em lágrimas: “Homem não chora, Airto”. Ao que o percussionista prontamente respondeu: “Pode até não chorar, mas agora eu já não sou nem mais homem. Sou só música, e estou completamente apaixonado por você”.


Quarteto de Stan Getz + Flora Purim (Paris, 1969)
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Ronaldo Evangelista

Flora Purim começando a carreira internacional e Stan Getz já veterano da música brasileira jazzificada para o mundo, encontro em preto e branco para a TV francesa em 1969, “Deixa a nega sambar”, o quarteto do saxofonista-tenor formado por Stanley Cowell no piano, Miroslav Vitous no contrabaixo e Jack DeJohnette na bateria. Flora linda de vestido hippie e cabelo à anos sessenta, mandando ver na voz firme e suave e no balanço de violão. A sandália dela ficou furada de tanto sambar.


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