Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : George Clinton

Conexão Nave-Mãe
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Ronaldo Evangelista

Muito estranho terminar a sexta vendo George Clinton no auge aos 70 e começar o sábado sabendo da Amy partindo aos 27, alegria total à profunda tristeza fatalista. Seja como for, alheios aos caminhos que Amy trilhava, nós e Clinton abusávamos da madrugada, comemorando o aniversário do capitão da nave-mãe em grande estilo, libertando o quadril e expandindo a mente. Abaixo, a crítica que escrevi direto do front, publicada na Folha.

Talvez se você já conhecesse algum dos discos de suas clássicas bandas Parliament ou Funkadelic ou tivesse lido sua autodescrição como “guarda de trânsito” no palco entre mais de 20 músicos, poderia se considerar preparado para um show de George Clinton em toda sua apoteose.

Mas a nave-mãe pousou com estilo extra na madrugada da última sexta-feira, apresentação do mestre funk dentro de festival “black” – de saída especial por ser a comemoração em pleno palco do aniversário de 70 anos de Clinton.

Recepcionado pelos rappers Flavor Flav e Chuck D, da banda Public Enemy, que apareceram de surpresa para participação logo no início do show, George Clinton entrou no palco de quepe de piloto, orquestrando a balbúrdia dançante no meio de um guitarrista mascarado e uma vocalista patinadora, entre outros personagens.

Quando apareceu um bolo no palco para acompanhar os parabéns que todos cantavam, Clinton sem hesitar arrancou um pedaço com a mão, serviu-se e ainda lambuzou os rostos de seu guitarrista e Flavor Flav.

Apesar das extravagâncias, a banda seguia absolutamente perfeita em cada nota, acorde, solo, dinâmicas em hits como “Give up the funk”, “Free your mind and your ass will follow”, “Flash light”, “Knee deep” e “Mothership connection”. Aula de música dançante, lição de diversão e libertação. Não à toa, na plateia o icônico dançarino Nelson Triunfo exibia um dos maiores penteados afro já vistos no Brasil.

Em “Somethin’ stank” (de letra que diz algo como “senti o cheiro e quero um pouco”), Clinton convocou ao palco a neta rapper, Sativa Clinton, e fez sinais encorajando ao público que fumasse. Pediu e foi atendido: um presente encostou no palco e lhe ofereceu um cigarro enrolado à mão (presumivelmente um baseado), que Clinton acendeu ali mesmo, na hora.

Entre música máxima, performances algo surrealistas e o irresistível chamado à diversão em tempo integral de Clinton, não foi muito diferente do que se esperaria de uma viagem psicodélica a outra dimensão. No caso, ao universo colorido e particular de George Clinton.


Feliz aniversário, George Clinton
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Ronaldo Evangelista

George Clinton, mestre-guia da diversão interestelar, comemora 70 anos hoje, no palco do festival Black na Cena, que tem ainda Jorge Benjor, Lee Perry com Mad Professor, Racionais MCs, Public Enemy, Seu Jorge. Conversei com o capitão da nave, aproveitei para dar parabéns e perguntar para sobre a confusão ordenada de seus shows, o DNA do rap, o ímpeto da diversão e nunca parar. Ontem saiu em matéria na Folha, quase como abaixo.

Liberte sua mente que seu traseiro vai junto. A máxima de George Clinton, título de um álbum do Funkadelic de 1970, parece ser mote de festivais em 2011, convocação à dança aos sons da música negra, de funk antigo e moderno ao hip-hop e até samba-rock.

Além dos recentes shows no Brasil de Amy Winehouse e Sharon Stone e dos anúncios de apresentações de Prince e Macy Gray (no Rio de Janeiro em agosto, no festival Back2Black) e Stevie Wonder, Jamiroquai, Joss Stone e Janelle Monáe (em setembro no Rock in Rio), acontece de sexta a domingo em São Paulo o megafestival Black na Cena, na Arena Anhembi.

Atração principal da primeira noite, o visionário genial e excêntrico George Clinton comemora o aniversário de 70 anos em pleno palco, se apresentando ao lado de banda de mais de 20 integrantes – incluindo três bateristas, cinco guitarristas, dois tecladistas e dez vocalistas.

“Meu papel é ser o guarda de trânsito da música em cima do palco”, contou ele ao telefone, com voz rouca e grave. “Eu crio, mas também desordeno tudo. Gosto de dar obstáculos aos músicos, pra não ficar fácil demais, deixar sempre desafiador. Eles não podem parar, tem que dar o melhor que podem para o que a música precisa e tocam assim constantemente – através de todos os obstáculos e também quando estão confortáveis. Eles sentem o que o público precisa pra dançar.”

Quarenta anos de hits devem ser bem representados no show, com músicas como “Atomic dog” (de Clinton solo, 1982) e “Give up the funk” (do Parliament, de 1976). Referência máxima para tanto de hoje em dia, difícil sequer imaginar o cenário pop sem a influência de Clinton e suas famosas criações da mitologia P-Funk, das bandas Funkadelic e Parliament. Uma nação sob o mesmo groove.

“Meus antigos discos fazem muito sentido hoje porque foi dali que veio muito do hip-hop”, enxerga o compositor, cantor, mestre de cerimônias, guarda de trânsito. “No álbum “Mothership Connection”, eu estava interpretando o papel dos meus DJs favoritos de Nova York, era basicamente como um DJ falando em cima das músicas. Foi isso que o hip-hop virou: música para pista de dança, com DJs falando por cima dos discos. Era o que estávamos fazendo.”

E, desde sempre, com o espírito de convocação em primeiro plano, tantas músicas nestes 40 anos falando sobre vencer, conquistar, dançar, realizar. A inspiração para tanta pró-atividade? “Diversão, festas e fazer o que tem que ser feito”, explica o mestre. “Fazer ao máximo, nunca parar de fazer, sempre evoluindo e sempre se movendo. Toda a intenção da minha vida e da minha música é provocar as pessoas a se divertirem.”


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