Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : João Donato

Melhores de 2011: Rodrigo Gorky
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Ronaldo Evangelista

Beyoncé – 4
Gal Costa – Recanto
Lê Almeida – Mono Maçã
Kassin – Sonhando Devagar
João Donato – Quem é Quem (1973)
Criolo – Nó na Orelha
Boss in Drama – Pure Gold
Beach Boys – Smile Sessions
tUnE-yArDs – W h o k i l l
Bosco Del Rey – Everybody Wah
Anika (2010)
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Em 2011 Rodrigo Gorky produziu o novo álbum do Bonde do Rolê e o primeiro disco da Banda Uó, ambos a sair em 2012.
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Mais melhores de 2011 por aqui.


Donato, sem pressa
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Ronaldo Evangelista

Nesta quarta, 17 de agosto, João Donato completou 77 anos. Com seu zengroovismo e sensibilidade musical de dedos mágicos bailando pé ante pé pelas possibilidades de beleza sobre as harmonias e infinitas melodias, louco é todo mundo que não é Donato.

Apareça compondo, tocando ou participando de inúmeros discos levando incontáveis ideias, sons, brilhantismos e particularidades, simples de ouvir e instintivamente criativa, a música de Donato é um grande sim.

Como só os muito dotados de presença de espírito e naturalidade conseguem fazer acontecer, o tempo parece se curvar para ele encaixar tantas sugestões de toques de leveza na alma quanto desejar.

O ritmo é seu, harmonia é um processo desencadeado, paz é um lugar interno e música é saber se deixar levar. É legal saber pra onde se está indo e o prazer da viagem é a viagem.

§ No extra “As Aventuras de João”, do DVD Donatural, momentinhos, Donas comenta:

Pra passar prum mundo mais despreocupado com a vida. E menos apressado de chegar ali do outro lado da rua pra fazer não sei o quê. Pra ter ido logo e voltado logo e voltado pra casa logo pra assistir logo um programa logo e dormir logo e acordar logo pra sair de manhã logo e chegar não sei aonde logo.

E aí às vezes não tem tempo de tomar o cafezinho na hora do almoço porque, dá licença, não posso ficar pro cafezinho porque tenho que ir logo pra não sei aonde. E vai logo e você fica parado com dois cafezinhos. Aí você acaba não tomando nenhum dos dois, parece que você esqueceu de tomar até o seu café também.

Aí tudo isso faz você pensar que não tem pressa pra ir a lugar nenhum. Mesmo porque ninguém vai a lugar nenhum mesmo, vai todo mundo um dia morrer e se divertir com os momentinhos que foram passando lentamente pela pessoa. Senão ela não dá tempo nem de olhar para o lado. Se for muito depressa, você chega lá e não sabe mais onde está indo e não sabe mais por onde está passando. Nem foi, nem viu por onde ia.

Dizem que o prazer da viagem está na viagem, não em ter chegado lá. Quando chega lá, aí é festa total. Mas não é esperar pra chegar lá pra ser feliz. Você é feliz indo pra lá, desde ontem. O regulamento é assim: ser feliz ou ser feliz.

§ Acompanhando por 15 anos auge gravações de e com Donato, de trombone latino no Brasil e jazz em discos latinos a órgãos e pianos elétricos crazy e suaves, nos States e de volta, seleção em play contínuo logo abaixo, Donato 60-75:

João Donato e seu Conjunto – Mambinho (Dance Conosco, 1960)
Mongo Santamaria – Sabor (Mighty Mongo, 1962)
Tito Puente & His Orchestra – Sambaroco (Vaya Puente, 1962)
Donato e Seu Trio – Jodel (Muito à Vontade, 1962)
Donato e Seu Trio – Sambongo (A Bossa Muito Moderna de Donato e Seu Trio, 1963)
João Donato – It didn’t end (The New Sound of Brazil, 1965)
Bud Shank – Sausalito (Bud Shank and His Brazilian Friends, 1966)
Sergio Mendes & Brasil ’66 – The Frog (Look Around, 1968)
Cal Tjader – Warm song (The Prophet, 1968)
Cal Tjader – Amazon (Solar Heat, 1968)
João Donato – Cadê Jodel? (A Bad Donato, 1970)
João Donato e Eumir Deodato – Batuque (Donato/Deodato, 1972)
João Donato – Me deixa (Quem é Quem, 1973)
Nana Caymmi – Ahiê (Nana Caymmi, 1973)
Gal Costa – Até quem sabe (Cantar, 1974)
João Donato – Deixei recado (Lugar Comum, 1975)

§ A linda e íntima foto, de Jorge Bispo, 2008, veio daqui.


Thalma de Freitas + João Donato
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Ronaldo Evangelista

A foto é só ilustração poética, o encontro de Thalma e Donato é musical e recente, primeira parceria dos dois, escrita há pouco mais de três anos, “Enquanto a gente namora“, play acima. Ela conta a história:

Dia 17 de dezembro de 2007 estávamos eu e o João Donato ensaiando pra um show que faríamos em Porto Alegre. Ao fim da pratica eu pedi pra fazermos uma música nova, começei uma linha de harmonia simples no grave do piano e começei a cantar “Começo de amor inicia o verão… Chove cântaros lá fora enquanto a gente namora…” e assim foi nossa primeira, e até hoje única, parceria.

Ele sentou no piano e harmonizou minha melodia, puxou o “b”, eu inventando a letra na hora… Foram uns quarenta minutos até formatar e pronto, uma canção! Este é um registro da primeira audição, logo depois que terminamos de compor, feito pela Ivone Belém, esposa do Donato e primeira a ouvir!

Depois trabalhei melhor a letra, corrigimos “chove A cântaros”, mudei algumas outras palavras e chegamos a gravar na madrugada do dia 2 de abril de 2009 na Cia dos Tecnicos com Domenico na bateria, Alberto Continentino no baixo acústico e o Kassin na suite comandando o registro.

João mostrou essa gravação ao meu pai e os dois escreveram um arranjo pra cello e flauta que ainda não gravamos, portanto o registro oficial continua inacabado. Já convidei os arranjadores Felipe Pinaud e Jacques Morelembaum pra gravar, só falta teminar.


Zé Maconha, mas pode chamar de João Gilberto
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Ronaldo Evangelista

Antes de gravar “Corcovado”, em 1960, João Gilberto fez uma sugestão ao compositor Tom Jobim, prontamente acatada: mudar as primeiras palavras da canção de “um cigarro, um violão” para “um cantinho, um violão”. Segundo Ruy Castro no livro Chega de Saudade, ali João já não fumava nada. É que, segundo a mesma fonte, João passou boa parte da década de 50, nos tempos pré-bossa nova em que frequentava com João Donato a boate do Hotel Plaza para ouvir Johnny Alf ao piano, sob a influência da então ainda não criminalizada marijuana – a ponto de Carlinhos Lyra lembrá-lo pelo apelido Zé Maconha.

Talvez o vizinho de João Gilberto no Leblon não tenha lido o livro de Ruy e não saiba que ele parou com isso há 40 anos, o que explicaria o trecho abaixo da divertida (ainda que de um voyerismo algo perturbador) matéria publicada no iG ontem:

“Deve ter um mês mais ou menos que um morador foi até lá e bateu tanto que quase pôs a porta abaixo! O problema é a maconha. Parece que ele fuma e o cheiro entra pela janela da casa do rapaz. Aí os dois ficaram se xingando”, contou uma vizinha que preferiu não se identificar. O vizinho ameaçou chamar a polícia. Ao porteiro do prédio, João afirmou, através do interfone, que em sua casa faz o que quiser. E questionou: “E isso (fumar maconha) é crime?”. O porteiro preferiu não tomar partido e apenas comunicou a ameaça de que o vizinho iria telefonar para a polícia.

§Quando a lenda se tornar maior que a verdade, publique-se o mito – especialmente em se tratando de João Gilberto, tema de folclore há tanto tempo quanto de adoração. Agora… vai dizer que você não queria ouvir os sons criados pelos jovens Joões Gilberto e Donato de cuca fresca, 1954?


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