Itamar Assumpção, mais ou menos organizado
Ronaldo Evangelista
Eu seu novo blog de escritos sobre cinema, Kiko Dinucci comenta Daquele Instante em Diante, o documentário de Itamar:
Não é à toa que o filme começa em tom investigativo. Seus personagens vasculham os mais remotos arquivos pessoais para o público tentar desvendar o que foi a passagem desse artista pelo século XX, dono de uma obra intensa e original, a frente de seu tempo (ainda) e que desafiou as estruturas da indústria fonográfica e da própria linguagem da música popular brasileira.
Suzana Salles, Alice Ruiz, Luiz Waack e Alzira Espíndola aparecem no início do documentário procurando arquivos sonoros, manuscritos, matérias de jornais. A investigação será a principal ferramenta de Velloso para conduzir o filme, do começo ao fim, ele mostrará arquivos de áudio, vídeo, fotos, shows, entrevistas, reproduzindo de certa maneira a investigação dos personagens iniciais. Suzana Salles mostra o seu fichário e avisa: estão mais ou menos organizados. Parece ser a ordem de como Velloso irá expor os seus arquivos. Para Itamar, “totalmente organizado” seria uma prisão. O “mais ou menos organizado” abre o leque para a surpresa, o inesperado, e é isso o que acontece.
Embora o filme tenha uma narrativa linear, não se rende ao convencional. O diretor opta por uma narrativa polifônica, assim como os arranjos e composições de Itamar. Vozes sobrepostas, sons de cenas futuras ou anteriores invadindo o começo e o fim das cenas e um incrível diálogo das canções de Itamar com os temas sugeridos pelos depoimentos. Fica evidente nesse caso a observação de Luiz Tatit, que diz que Itamar vem de uma leva de artistas que não distinguem a sua obra da vida real. Eis o que faz as canções entrarem no filme como uma linha de costura entre as cenas.
Tem mais, segue por aqui.