Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : agosto 2011

Queremos Miles
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Ronaldo Evangelista

*A megaexpo We Want Miles, compêndio iconográfico da vida de Miles Davis, que passou nos últimos anos por Paris e Montreal, chega ao Brasil nesta terça, abertura de Queremos Miles no CCBB do Rio de Janeiro, até 28 de setembro. Em São Paulo, fica no Sesc Pinheiros de 19 de outubro a 25 de janeiro. Em discos, instrumentos, imagens, vídeos, memorabílias e lembranças que constatamos como a modernidade elegante de Miles, seu poder de síntese e sensibilidade estética aguçada, sua força como agregador de conceitos ricos, diferentes, essenciais são elementos grandiosos de sua obra.

*Abaixo, algumas imagens sacadas dessa turnê virtual pela exposição.





Tags : Miles Davis


“Eu engano vocês aqui fazendo música, mas eu tô o tempo todo pensando em…”
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Ronaldo Evangelista

Enquanto isso, no Brasil, ficou pequeno pro Wando: sábado passado no Circo Voador, entre uma dúzia de calcinhas jogadas no palco pela plateia, Tom Zé foi de Napoleão a Freud, versando sobre aromas íntimos femininos e essa coisa comovente, divina, sagrada de toda mulher. (Se você se ofende facilmente, o aviso: contém linguagem explícita.)


Tom Zé em Nova York
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Ronaldo Evangelista

*Eduardo Graça, em coluna n’O Globo, escreveu sobre o show de Tom Zé em Nova York há duas semanas:

Logo no começo de seu arrebatador e caótico show no Festival do Lincoln Center, o evento mais nobre da programação cultural de Nova York, Tom Zé conta que recebeu de uma banda do interior dos EUA uma gravação com uma versão de uma música dos Mutantes. Emocionado, ele fala da alegria de ter composto com Rita Lee a moda de viola “Astronauta libertado”, gravada com o título “2001” por Gilberto Gil em 1969. Parceiro do futuro, ele pede que a plateia cante com ele trechos da composição. Em vão.

É que o mais sertanejo dos tropicalistas, em delicioso paradoxo, é também o mais internacional dos medalhões de nossa música popular. A audiência, nesta terça-feira, era formada majoritariamente por fãs americanos, ansiosos por ouvir e ver “Tom Zee”, incapazes de cantar verdades nunca tão obviamente escancaradas como “Nos braços de dois mil anos/Eu nasci sem ter idade/Sou casado, sou solteiro/Sou baiano e estrangeiro”.

O show estava marcado para as 20h, mas o espetáculo começou mais cedo, nas escadarias do lado de fora do Alice Tully Hall. Os 1,1 mil ingressos postos à venda estavam esgotados e a fila de desistência impressionava tanto pelo tamanho quanto pela animação. Os muy simpáticos nova-iorquinos sem entrada, carentes de português, eram rápidos na agulha, feições de especialistas, ao tratarem, seriíssimos, da importância de “Estudando o Samba”, o disco de Mr.Zee de 1976 que tanto impressionou David Byrne.

*A foto é do New York Times, que também publicou crítica de Ben Ratliff sobre o show. Pode-se dizer que não foi tão elogiosa, mas os pontos de Ratliff talvez não sejam exatamente aspectos que Tom Zé consideraria negativos, desconstrutor do pop que é:

His work gets a bit meta. He has sweet songs, but at other times he seems to interrogate rhythm and tonality and song structure, making the listener uncomfortable. He tends toward fractures, disruptions and dissonance. (He walked onstage twice at the beginning of the show, repeating the act because of insufficient applause; one of the songs in his set, “Jingle do Disco,” was a kind of pop-art commercial for himself.)

At the same time, Tom Zé is a positive presence: he really wants to please, to connect. But his disruptive tendencies might have gotten the best of him. (…) Tom Zé is alive to paradox and perversity; he celebrates it, shoving inapposite ideas together, appreciating the dirtiness of life. That is his genius. But this concert lost control of its argument.

Tags : Tom Zé


Itamar Assumpção, mais ou menos organizado
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Ronaldo Evangelista

Eu seu novo blog de escritos sobre cinema, Kiko Dinucci comenta Daquele Instante em Diante, o documentário de Itamar:

Não é à toa que o filme começa em tom investigativo. Seus personagens vasculham os mais remotos arquivos pessoais para o público tentar desvendar o que foi a passagem desse artista pelo século XX, dono de uma obra intensa e original, a frente de seu tempo (ainda) e que desafiou as estruturas da indústria fonográfica e da própria linguagem da música popular brasileira.

Suzana Salles, Alice Ruiz, Luiz Waack e Alzira Espíndola aparecem no início do documentário procurando arquivos sonoros, manuscritos, matérias de jornais. A investigação será a principal ferramenta de Velloso para conduzir o filme, do começo ao fim, ele mostrará arquivos de áudio, vídeo, fotos, shows, entrevistas, reproduzindo de certa maneira a investigação dos personagens iniciais. Suzana Salles mostra o seu fichário e avisa: estão mais ou menos organizados. Parece ser a ordem de como Velloso irá expor os seus arquivos. Para Itamar, “totalmente organizado” seria uma prisão. O “mais ou menos organizado” abre o leque para a surpresa, o inesperado, e é isso o que acontece.

Embora o filme tenha uma narrativa linear, não se rende ao convencional. O diretor opta por uma narrativa polifônica, assim como os arranjos e composições de Itamar. Vozes sobrepostas, sons de cenas futuras ou anteriores invadindo o começo e o fim das cenas e um incrível diálogo das canções de Itamar com os temas sugeridos pelos depoimentos. Fica evidente nesse caso a observação de Luiz Tatit, que diz que Itamar vem de uma leva de artistas que não distinguem a sua obra da vida real. Eis o que faz as canções entrarem no filme como uma linha de costura entre as cenas.

Tem mais, segue por aqui.