Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : setembro 2011

Longe de Onde
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Ronaldo Evangelista

Sai em outubro o segundo disco de Karina Buhr, Longe de Onde, pela gravadora Coqueiro Verde.

Capa acima, sobre foto de Jorge Bispo no Marrocos – também diretor e locação do primeiro vídeo do álbum, “Cara palavra“.

Nascida em Salvador, crescida no Recife, morando em São Paulo, descendente de alemães, cantando sobre Bagdá, filmando no Marrocos, Karina inventa o próprio mundo, define os próprios eixos, apaga os longes.

Aqui vai aposta que o novo álbum segue o equilíbrio entre beleza e improbabilidade, poesia e realidade, delicadeza e força.

Já começou a fazer as listas de melhores do ano?

Tags : Karina Buhr


Criolo + Fernando Faro
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Foto acima do instagram do pianista e produtor Daniel Ganjaman, altos simbólico o encontro retratado.

A música do Criolo continua se espalhando: hoje, domingo, às 23h, na TV Cultura, nova edição do programa Ensaio, de Fernando Faro, tem participação do MC, cantando com sua poderosa banda e respondendo às perguntas que não ouvimos.

O site da Cultura cita que o álbum “teve mais de 25 mil downloads em três dias”. Criolo, você já viu, foi recentemente capa da revista Serafina, da Folha, e acaba de chegar às bancas na capa da Trip. E domingo que vem, dia 25, Criolo faz a trilha ideal para um piquenique, duas da tarde no Parque da Aclimação.


afroBLITZ
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Festa nova capitaneada pelo bróder Ramiro Zwetsch estreia hoje na Serralheria, dedicada a sons da diáspora africana – de Gana a Etiópia, Egito ao Brasil e além. A festa, afroBlitz, começa hoje com ainda outra especial: show do Sambanzo, espetacular banda do Thiago França no sax tenor, Marcelo Cabral no baixo, Kiko Dinucci na guitarra, Pimpa na bateria, Samba Sam na percussão, pegada entre afro, jazz, brasa, funk, muito pró.

Tags : Sambanzo


O Setembro de Junio Barreto
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Sete anos depois de seu álbum de estreia, Junio Barreto está chegando com seu segundo disco, Setembro, produzido por Pupillo e já na boca do gol.

Aquele primeiro CD do compositor caruaruense, lançado em 2004, foi produzido pelo DJ Tudo, chamou atenção da geral e rendeu regravações de Gal Costa e Maria Rita.

Este novo traz participações de Céu, Marina de La Riva, Mombojó e Vitor Araújo, álbum de dez músicas, a sair poeticamente no mês título – ou seja, logo menos.

Primeiro single, vídeo da canção “Setembro” acima, também breve EPK prometendo versão em LP do álbum.


Godiva do Irajá
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Estávamos aqui falando do ótimo som do último disco do Erasmo e lembrando de tantas produções feitas por Liminha, hora certa de assistir esse vídeo, play acima, o baixista mostrando como criou o arranjo e estrutura de “Kátia Flávia”, hit de Fausto Fawcett, 1987, passo a passo nas camadas de overdub: montando o beat, criando a linha de groove no baixo slap, três guitarras puxando o funk, teclado de impacto. Viagem completa no túnel do tempo, para lembrar da faixa pronta, o clipe do Fantástico da música por aqui.


Marisa Monte, ainda bem
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Quarta-feira, 14 de setembro, está oficialmente pré-lançado o oitavo álbum de Marisa Monte – título ainda em segredo -, com a música “Ainda bem”.

Composição de Marisa com Arnaldo Antunes, canção simples de poética light, rimando coração e solidão, melodia romântica e letra de amor ideal. Gravação limpa, balada com clima de faroeste argentino, banda juntando Dadi, Gustavo Santaolalla e Nação Zumbi, radar da cantora afiado como de hábito.

O lançamento foi pelo YouTube, ferramenta universal de streaming com embed fácil, espalhado pelo site oficial, algumas dezenas de milhares de plays no primeiro dia.

Toda interativa, nenhuma marinheira de primeira viagem de internet, Marisa anda respondendo algumas perguntas pelo Formspring. Contou, por exemplo, sobre a música nova:

‘Ainda bem’ foi uma das primeiras composições dessa nova leva.

Eu fiz a melodia e durante muitos dias fiquei cantando com o violão sozinha em casa, sem letra mas com algumas palavras que já nasceram junto com a música: “ainda bem que agora encontrei você…”.

Alguns dias depois o Arnaldo veio aqui em casa, nos sentamos na varanda, eu mostrei pra ele e a letra fluiu.
Começamos a gravação, eu e Dadi aqui em casa. Violões, tom e andamento.

Depois disso gravei a base em São Paulo, com o power trio do Nação Zumbi (Pupilo, Dengue e Lucio Maia). Eles deram à música um sabor meio faroeste italiano.

Poucos meses depois fui a LA gravar no estúdio do meu amigo Gustavo Santaolalla. Pedi que ele tocasse violão e ronroco, suas especialidades e seu parceiro Anibal Kerpel acrescentou uns teclados.

Pra completar, de volta ao Rio, gravamos o trompete meio mariachi com o Maico Lopes.

“Ainda Bem”
(Marisa Monte/Arnaldo Antunes)

Bateria e reco-reco: Pupillo
Baixo: Dengue
Guitarra: Lucio Maia
Guitarra pignose e violão de nylon: Dadi
Violão de nylon e vocal: Marisa Monte
Teclado: Aníbal Kerpel
Ronroco ,violão de nylon: Gustavo Santaolalla
Trumpete: Maico Lopes


faça valer o meu direito de estar vivo
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E já que falamos no Duani, vídeo legal no play acima: o cantor/baterista tocando seu tema afrobeat-pagode “Estou vivo”, hit celebrando a alegria dos muitos amigos e puro bem querer. Com Quincas Moreira no piano e Marcelo Cabral no contrabaixo acústico, mais guitarra e trompete. Making of da gravação do Pelas Tabelas, 2010, pescado daqui.


Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo
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O terceiro e ótimo álbum de Mariana Aydar, que está sendo lançado agora, é afromântrico. Entre a Salvador africana de Letieres Leite e Tiganá, canto pra natureza com Emicida, forró e carimbó de radinho entre Amelinha e Edson Duarte, com a guitarra de Gui Held e a grande beleza de Dominguinhos, encontra um resultado muito próprio, universo pop pessoal e passional. Sobre o disco, para Mariana, escrevi o que antigamente talvez se configurasse como texto de contracapa, apresentação hoje em dia comumente chamada de press release, ensaio abaixo.

MARIANA AYDAR
CAVALEIRO SELVAGEM AQUI TE SIGO

Uma produção Universal Music dirigida por Letieres Leite e Duani Martins.

O que te guia? Inspiração, medo ou vontade, sempre há o que nos move, sempre há o que nos surge para indicar caminhos ou possibilidades, como se por além de nós, essencialmente íntimo.

No caso de Mariana Aydar, guiada pela intuição, as vontades essenciais para seu terceiro disco eram várias, que surgiam e se somavam em realizações: gravar ao vivo, buscar origens e ao mesmo tempo olhar pra frente, aprofundar no lado rítmico afrobrasileiro, trazer pra perto uma certa tradição nordestina sem clichês, montar a melhor banda do mundo. O resultado, Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo, é o que pode ser chamado seu álbum mais pessoal, amplo de ideias e bem realizado em sons.

Como acontece quando se encontram forças análogas e complementares, com suas próprias fundações e ricas em interpretações, a soma das partes revelou algo novo, único em si. O Cavaleiro Selvagem seguido já desde o título surge como uma imagem protetora através da metafórica floresta de emaranhados de universos concebidos.

Os pontos de apoio do disco – abrindo, fechando, no centro, pulsando – são as composições de Mariana, que despertaram sua busca e mostraram sua visão, unindo canções diferentes mas iguais, encontrando o diálogo entre Salvador e África, psicodelia e pop, revelando canções novas mesmo se antigas, um tanto de compositora e um tanto de intérprete, juntas. De Zé Ramalho a Thalma de Freitas, de fado a vanguarda paulistana, de Caetano em inglês às próprias composições misteriosas, seguindo o Cavaleiro e de pé no chão.

Letieres Leite, maestro, compositor e arranjador da muito especial Orkestra Rumpilezz, brilhante jazz afrobaiano de atabaques e sopros, se fez presente durante o processo de criação do disco como uma figura-mestre, afinal produtor do álbum, ao lado do parceiro de Mariana desde seu primeiro disco, o sensível e incansável baterista e multi-instrumentista Duani.

Com a banda-base já esquentando desde a série de shows ao vivo “1, 2, 3 Testando”, feita no fim de 2010 para afinar repertório e sonoridades, o álbum foi gravado de primeiros takes, todo mundo tocando junto, banda afiada e arranjos ricos de detalhes.

Além de Mariana brincando com as vozes e Letieres como guru musical, o som quente e cheio de dinâmicas e especiais vem de Guilherme Held nas personalíssimas guitarras, Robinho no baixo, Guilherme Ribeiro na sanfona e teclado mais o groove de bateria de Duani Martins, completados com o percussionista Gustavo Di Dalva, direto da Bahia para as gravações. Mariana, ocupando os espaços musicais com grandes inventividades e liberdades vocais, segurança de interpretação e visão clara do destino.

A Saga do Cavaleiro”, vinheta, clima e sugestão de abertura, já te coloca na viagem, dentro do percurso. Abrindo os caminhos na pegada, “Solitude” é parceria da cantora com as amigas Jwala e Luisa Maita, sem medo de amar nem de mar, a escolha de estar só mas bem acompanhado, guiado pelo cavaleiro que é você mesmo, solitude e não solidão. Como em “Não foi em vão”, composição de Thalma de Freitas gravada no disco da Orquestra Imperial, aqui transformada em jazz-samba com arranjo de madeiras e trompa, a interpretação de canto rasgado dando novos tons à canção sobre autonomia emocional.

Grande afirmação artística de Mariana e também dos compositores Dante Ozzetti e Luiz Tatit, “Passionais” segue a inspiração da cantora de encontrar grandes músicas para engrandecê-las um pouco mais. Desde que a cantava há dez anos, na turnê do disco Ultrapássaro, de Dante, Mariana vem cultivando intimidade com a canção. Grande composição, grande letra, grande interpretação da cantora – se não foi maior ou melhor, foi o maior e melhor que fizemos. É o preço de ser passional. (Mas não dói não.)

Surpreendendo e renovando sua própria tradição na vanguarda paulistana – seu pai é Mario Manga, do Premê -, Mariana atualiza o cult e desabrocha uma perfeita canção pop e, de certa maneira, também pratica o inverso, deixando levemente à vanguardaVai vadiar”, de Monarco e Ratinho, antigo sucesso de Zeca Pagodinho e já cantada por Mariana há anos em shows, recriado para além do samba. Também como na primeira gravação da cantora em inglês, “Nine out of ten”, já tido como o primeiro reggae brasileiro, gravado pelo autor Caetano Veloso em 1972. Por todo o álbum estilos não se definem e as barreiras aparecem criativa e naturalmente borradas entre levadas afro, pegada rock, carimbó e forró de radinho, axé music dos anos 90 e o que mais se ouvir nesse universo de ritmos poderosos.

Floresta” é o coração do disco, em muitos sentidos. Auge artístico, poética e inspiradora, com participação sublime da voz do cantor e compositor baiano Tiganá Santana, também parceiro de Mariana e Guilherme Held na composição. Logo depois de se dizer alive e viva, outro alerta para a vida, vamos preservar a flor. Com harmonização vocal, melodia levada no violoncelo e percussão passeando por timbres, a faixa traz charme de lado B de disco brasileiro dos anos 70 e um certo espírito à Milton Nascimento, clima de canção do sal, da terra, lembranças do álbum experimental/existencial Krishnanda, do percussionista Pedro Santos, 1968.

Talvez a maior ousadia no repertório – e certamente uma de suas grandes realizações -, é a recriação de “Galope rasante”, de Zé Ramalho, hit e pérola de Amelinha de 1979. Temperando o groove seco do sertão com flerte afrobeat e nova parte especial com riff vocal acentuando o lado rítmico, é Mariana moça e anciã.

O fado sem pátria “Porto”, torto, perdido no mundo, composição climática e inteligente de Romulo Fróes e Nuno Ramos, é oportunidade para Mariana mostrar interpretação entregue, lírica. De Lisboa a Salvador, da fronteira a São José do Rio Preto, um disco não sem lugar, mas ocupando seu próprio espaço.

A paixão que levou Mariana a criar o projeto de um documentário sobre Domiguinhos é musical, é a mesma que a leva a chamá-lo para uma lindíssima participação na sanfona no momento mais leve e delicado do disco, em “Preciso do teu sorriso”, de João Silva, sucesso do Trio Virgulino, reinventado aqui puro amor de partir o coração.

O hit de primeira audição “O homem da perna de pau”, de Edson Duarte, é clássico imediato e infalível do disco, misturando com senso de humor e beleza carimbó, brega, forró em um som totalmente contemporâneo, pra não dizer mesmo moderno. Mesmo lendo tudo isso, lhe asseguro, o som é uma surpresa de agrado geral.

Anunciada por naipe de metais, a canção “Cavaleiro selvagem” nasceu como um canto na cabeça de Mariana, que para desenvolvê-lo só pensou “o Emicida vai terminar essa parada” e foi na hora. Ligou, no mesmo dia se encontraram e o jovem rapper incorporou e compôs a segunda parte como se fosse a própria Mariana criando melodias. Ambos buscando o equilíbrio do Cavaleiro como um Deus geral, a natureza, a raiz, o elemento terra, o vento sereno trazendo o sol, uma figa levando todo o mal. O fato de que chovia durante as gravações do disco pode não trazer nenhum significado concreto, mas certamente conspirou com o clima.

O cavaleiro passa, perpassa, atravessa o álbum – da faixa de abertura aos galopes finais da última canção, “Vinheta da alegria”, também de Mariana – como se todas as coisas não acabassem, mas se renovassem constantemente voltando às suas origens. Ideia que se conecta com o conceito de fundamento das coisas da Ancestralidade, tão ligado aos padrões percussivos afrobaianos, que dão um espírito particularmente forte ao disco.

A Saga do Cavaleiro é sugerir e guiar, passar e inspirar. Mariana ouviu e criou seu disco mais artesanal, cheio de mistérios, afromântrico. Não tem manual, não é uma homenagem a tradições, cada um de nós tem seu próprio Cavaleiro Selvagem. É uma busca a algo maior pela música, pela expressão, pela soma. O caminho é pessoal a cada participante e ouvinte e se é universal é pelo ímpeto artístico. O coração sente e derrama vida. E fim.

Ronaldo Evangelista, agosto de 2011.


Cultura Livre, dois anos
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Ronaldo Evangelista

Cultura Livre, o programa que criamos – eu, Roberta Martinelli, Biancamaria Binazzi, Juliana Leite e Lívia Libâneo – dentro da rádio Cultura Brasil, dedicado a música nova, de agora, filtro especial e radar próprio, já faz dois meses de versão na TV e completa dois anos de existência, hoje com festa na Serralheria, eu e Ramiro Zwetsch nas picapes, Roberta Martinelli anfitriã e alegria nos corações em amplitude modulada.


Moraes Moreira canta Acabou Chorare
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Ronaldo Evangelista

O disco inteiro, em apresentação no IMS, no Rio, só no violão e acompanhado do filho Davi na guitarra, abrindo com trecho de cordel sobre a historia dos Novos Baianos e depois todas as canções do clássico de 1972. Moraes está cantando meio estranho e a formação de dois é magrinha (ainda que Davi seja ótimo), mas o repertório é o melhor do mundo e as histórias são maravilhosas. Como ao contar, aos 22 minutos, do primeiro encontro com João Gilberto, baianos à meia noite no Rio, e, imagine a cena, mostrando a ele a então novíssima “Dê um rolê”, rock afiado. João dizendo a Galvão que dividia o sonho da convivência coletiva, Moraes e Pepeu roubando um acorde por dia nos recitais hippies dentro do closet, aprendendo a olhar pra dentro de si, carne de carnaval e coração igual.