Blog do Ronaldo Evangelista

Kassin Sonhando Devagar
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Ronaldo Evangelista

O disco novo de Kassin, Sonhando Devagar – primeiro solo, segundo se você contar o Futurismo lançado com o +2, terceiro se você considerar o Free U.S.A. lançado como Artificial ou até quarto se quiser somar à lista a trilha do desenho japonês Michiko to Hatchin -, já está tocando no rádio e com data marcada para seu lançamento: 24 de agosto no solar de Botafogo, no Rio.

O álbum, com projeto gráfico seguindo conceito em 3D, sai pela gravadora Coqueiro Verde, de Erasmo Carlos, que também lançou há pouco o disco Cine Privê, de Domenico Lancellotti. ''Potássio'', uma das faixas de Sonhando Devagar, já anda rolando ao vivo (aqui com a Copa Jam Band, aqui no Grêmio Recreativo MTV) e ''Mundo natural'' foi tocada por Mauricio Valladares em seu programa Ronca Ronca. No play acima, ''Fora de área''. Pelo site da Coqueiro Verde, o álbum todo em streaming.


Thalma de Freitas + João Donato
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Ronaldo Evangelista

A foto é só ilustração poética, o encontro de Thalma e Donato é musical e recente, primeira parceria dos dois, escrita há pouco mais de três anos, ''Enquanto a gente namora'', play acima. Ela conta a história:

Dia 17 de dezembro de 2007 estávamos eu e o João Donato ensaiando pra um show que faríamos em Porto Alegre. Ao fim da pratica eu pedi pra fazermos uma música nova, começei uma linha de harmonia simples no grave do piano e começei a cantar ''Começo de amor inicia o verão… Chove cântaros lá fora enquanto a gente namora…'' e assim foi nossa primeira, e até hoje única, parceria.

Ele sentou no piano e harmonizou minha melodia, puxou o ''b'', eu inventando a letra na hora… Foram uns quarenta minutos até formatar e pronto, uma canção! Este é um registro da primeira audição, logo depois que terminamos de compor, feito pela Ivone Belém, esposa do Donato e primeira a ouvir!

Depois trabalhei melhor a letra, corrigimos ''chove A cântaros'', mudei algumas outras palavras e chegamos a gravar na madrugada do dia 2 de abril de 2009 na Cia dos Tecnicos com Domenico na bateria, Alberto Continentino no baixo acústico e o Kassin na suite comandando o registro.

João mostrou essa gravação ao meu pai e os dois escreveram um arranjo pra cello e flauta que ainda não gravamos, portanto o registro oficial continua inacabado. Já convidei os arranjadores Felipe Pinaud e Jacques Morelembaum pra gravar, só falta teminar.


A Pitanga de Mallu
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Ronaldo Evangelista

Está pronto Pitanga, o novo disco de Mallu Magalhães: ''Os arquivos já estão sendo enviados para o Felipe Tichauer, que está lá em Miami, e vai masterizar o disco, que vai sair direto para a fábrica e, depois, pela Sony, para as lojas'', postou ela em seu blog.

Gravado no estúdio El Rocha, produzido por Marcelo Camelo, com engenharia de som de Fernando Sanches e mixagem de Victor Rice, o álbum foi feito em pouco mais de um mês de gravação e mais um pouco de mixagem, com participações de Kassin, Mauricio Takara e do próprio Camelo e novas composições de Mallu, com letras fundindo inglês e português.

Alguns títulos que ela já soltou são ''Cena'', ''Youhuhu'', ''Highly sensitive'', ''Velha e louca'', ''In the morning'', ''Cais'', ''Lonely'', ''Ô, Ana'', ''Baby I'm sure'', ''Moreno do cabelo enroladinho'', ''Sambinha bom'' e ''Todo o sentimento''.

Sobre o processo, contou ela no blog:

Cheguei lá. No meu lá. Fiz o disco do jeito que acreditamos, com Marcelo, ao lado de querido Victor, e todos os amigos do El Rocha.

Disse mais:

Pitanga mudou minha vida. O método, o processo, as conquistas, os desafios, as descobertas…Quanta coisa aprendi… quanta coisa dentro de mim. Minha existência me deixa cansada e ocupada, de tanto afinco e dedicação com que existo.

Aprendi coisas que a gente scuta nos ditados, mas aprendi de verdade, sabe, lá dentro, não aprender de ficar repetindo e, quando mais precisamos daquele aprendizado, descobrimos que não aprendemos coisíssima nenhuma.

Acho que é por isso que viver é indispensável. Tentar é o caminho. Não há atalho, acho.


Queremos Miles
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*A megaexpo We Want Miles, compêndio iconográfico da vida de Miles Davis, que passou nos últimos anos por Paris e Montreal, chega ao Brasil nesta terça, abertura de Queremos Miles no CCBB do Rio de Janeiro, até 28 de setembro. Em São Paulo, fica no Sesc Pinheiros de 19 de outubro a 25 de janeiro. Em discos, instrumentos, imagens, vídeos, memorabílias e lembranças que constatamos como a modernidade elegante de Miles, seu poder de síntese e sensibilidade estética aguçada, sua força como agregador de conceitos ricos, diferentes, essenciais são elementos grandiosos de sua obra.

*Abaixo, algumas imagens sacadas dessa turnê virtual pela exposição.





Tags : Miles Davis


“Eu engano vocês aqui fazendo música, mas eu tô o tempo todo pensando em…”
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Enquanto isso, no Brasil, ficou pequeno pro Wando: sábado passado no Circo Voador, entre uma dúzia de calcinhas jogadas no palco pela plateia, Tom Zé foi de Napoleão a Freud, versando sobre aromas íntimos femininos e essa coisa comovente, divina, sagrada de toda mulher. (Se você se ofende facilmente, o aviso: contém linguagem explícita.)


Tom Zé em Nova York
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*Eduardo Graça, em coluna n'O Globo, escreveu sobre o show de Tom Zé em Nova York há duas semanas:

Logo no começo de seu arrebatador e caótico show no Festival do Lincoln Center, o evento mais nobre da programação cultural de Nova York, Tom Zé conta que recebeu de uma banda do interior dos EUA uma gravação com uma versão de uma música dos Mutantes. Emocionado, ele fala da alegria de ter composto com Rita Lee a moda de viola “Astronauta libertado”, gravada com o título “2001” por Gilberto Gil em 1969. Parceiro do futuro, ele pede que a plateia cante com ele trechos da composição. Em vão.

É que o mais sertanejo dos tropicalistas, em delicioso paradoxo, é também o mais internacional dos medalhões de nossa música popular. A audiência, nesta terça-feira, era formada majoritariamente por fãs americanos, ansiosos por ouvir e ver “Tom Zee”, incapazes de cantar verdades nunca tão obviamente escancaradas como “Nos braços de dois mil anos/Eu nasci sem ter idade/Sou casado, sou solteiro/Sou baiano e estrangeiro”.

O show estava marcado para as 20h, mas o espetáculo começou mais cedo, nas escadarias do lado de fora do Alice Tully Hall. Os 1,1 mil ingressos postos à venda estavam esgotados e a fila de desistência impressionava tanto pelo tamanho quanto pela animação. Os muy simpáticos nova-iorquinos sem entrada, carentes de português, eram rápidos na agulha, feições de especialistas, ao tratarem, seriíssimos, da importância de “Estudando o Samba”, o disco de Mr.Zee de 1976 que tanto impressionou David Byrne.

*A foto é do New York Times, que também publicou crítica de Ben Ratliff sobre o show. Pode-se dizer que não foi tão elogiosa, mas os pontos de Ratliff talvez não sejam exatamente aspectos que Tom Zé consideraria negativos, desconstrutor do pop que é:

His work gets a bit meta. He has sweet songs, but at other times he seems to interrogate rhythm and tonality and song structure, making the listener uncomfortable. He tends toward fractures, disruptions and dissonance. (He walked onstage twice at the beginning of the show, repeating the act because of insufficient applause; one of the songs in his set, “Jingle do Disco,” was a kind of pop-art commercial for himself.)

At the same time, Tom Zé is a positive presence: he really wants to please, to connect. But his disruptive tendencies might have gotten the best of him. (…) Tom Zé is alive to paradox and perversity; he celebrates it, shoving inapposite ideas together, appreciating the dirtiness of life. That is his genius. But this concert lost control of its argument.

Tags : Tom Zé


Itamar Assumpção, mais ou menos organizado
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Ronaldo Evangelista

Eu seu novo blog de escritos sobre cinema, Kiko Dinucci comenta Daquele Instante em Diante, o documentário de Itamar:

Não é à toa que o filme começa em tom investigativo. Seus personagens vasculham os mais remotos arquivos pessoais para o público tentar desvendar o que foi a passagem desse artista pelo século XX, dono de uma obra intensa e original, a frente de seu tempo (ainda) e que desafiou as estruturas da indústria fonográfica e da própria linguagem da música popular brasileira.

Suzana Salles, Alice Ruiz, Luiz Waack e Alzira Espíndola aparecem no início do documentário procurando arquivos sonoros, manuscritos, matérias de jornais. A investigação será a principal ferramenta de Velloso para conduzir o filme, do começo ao fim, ele mostrará arquivos de áudio, vídeo, fotos, shows, entrevistas, reproduzindo de certa maneira a investigação dos personagens iniciais. Suzana Salles mostra o seu fichário e avisa: estão mais ou menos organizados. Parece ser a ordem de como Velloso irá expor os seus arquivos. Para Itamar, “totalmente organizado” seria uma prisão. O “mais ou menos organizado” abre o leque para a surpresa, o inesperado, e é isso o que acontece.

Embora o filme tenha uma narrativa linear, não se rende ao convencional. O diretor opta por uma narrativa polifônica, assim como os arranjos e composições de Itamar. Vozes sobrepostas, sons de cenas futuras ou anteriores invadindo o começo e o fim das cenas e um incrível diálogo das canções de Itamar com os temas sugeridos pelos depoimentos. Fica evidente nesse caso a observação de Luiz Tatit, que diz que Itamar vem de uma leva de artistas que não distinguem a sua obra da vida real. Eis o que faz as canções entrarem no filme como uma linha de costura entre as cenas.

Tem mais, segue por aqui.


Eu vou ter um atrito com o senhor!
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Ronaldo Evangelista

Cidadão, antes de fazer qualquer coisa, eu quero solicitar uma coisa: o senhor não me alterque, viu? Se esse porquinho do maranhão altercar com Bim Bim, vai ofender a família em geral e a mulher brasileira em particular, gente do céu e de lugar não longe disso, mas mais santo: Maranguape. O maravilhoso trecho no play acima – lenço ou touca? – é do LP Chico Anisio Show, lançado pela Philips em 1962, ano em que nosso herói já era um gênio dos personagens e situações, tiradas e sacadas, frases de efeito e contemplações de duplo sentido, e fez apresentação na casa carioca Au Bon Gourmet, com participação do Tamba Trio – que canta a música-tema de abertura do álbum. Agora vejamos um som que um homem possa ouvir. Alguma coisa a contestar?


Protejam seus filhos porque o super-homem vem aí
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Ronaldo Evangelista

O sertanejo é antes de tudo um forte. Em homenagem aos milhões de Severinos, vamos falar de cultura: grande filmador e grande personagem, Glauber Rocha tira as máscaras do cinema brasileiro no programa Abertura da TV Tupi, fim dos anos 70. Quanto custa uma sequência pra filmar super-homem? Além: Emanuelle e Último Tango em Paris não são obra de arte, são apenas filmes pornográficos!

Via.


Faixa a faixa: Lost Sessions do Marcos Valle, 1966
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Ronaldo Evangelista

Já chegou à mão dos mais inteirados a caixa Tudo, com a discografia de Marcos Valle na gravadora Odeon (hoje EMI) entre 1963 e 1974. Como sabido, um CD bônus traz um disco até hoje inédito, gravado em 1966 e apenas parcialmente com a voz de Valle, na prática pérola instrumental sessentista. Ouvindo o disco com sede dos arranjos de Eumir Deodato – que fez também os discos imediatamente anteriores e posteriores de Valle -, acompanho com anotações faixa a faixa, logo abaixo.

Os Grilos
Como quase todas as faixas do ''álbum'' na base dos dois minutos, é só o necessário pra um clássico: prenúncio de trompetes, groove de baixo, violão e cordas entrando perfeitos, a melodia irresistível cantada por Valle. O balanço de piano do final e o trompete com surdina que acompanha o canto ficam ainda mais brilhantes ao ouvido na versão instrumental de bônus no fim do CD. Foi lançada, ao lado de três outras faixas deste disco, em um compacto na época.

Uma lágrima
Depois do começo com cordas e metais, entra o violão de balanço bossa nova onde certamente estaria a voz. Parece pouco, mas o groove de baixo e bateria que entra quase ao um minuto é perfeito, com uma bela cama de cordas e acordes tranquilos de sopros. A única totalmente inédita do disco é a que mais soa como curiosidade, janela para o processo de criação, espaços vazios onde estaria a melodia desconhecida.

Lá eu não vou
Grande balanço de violão, baixo e bateria, levado por ataque de sopros e cordas. O que potencialmente seria uma das mais marcantes do LP que não houve virou nota de rodapé de Marcos Valle, aqui um lado B discreto samba-jazz, esquecida pelo autor enquanto regravada no terceiro LP de Claudete Soares, em 67.

Batucada surgiu
Música muito conhecida de Marcos Valle, mas nem tanto nessa versão original, lançada só no compacto mencionado e agora como parte da sequência original do álbum não lançado. A sugestividade dos sopros, o suingue de violão e detalhes de piano, o balanço da melodia: um clássico regravado em várias versões, muitas instrumentais. Dá pra entender ouvindo a perfeição do arranjo instrumental envolvendo a voz, e também perfeito na versão sem voz – faixa-bônus do CD bônus. Fazer samba é não morrer.

Primeira solidão
Outra que soa como curiosidade, sem a voz de Valle para acompanhar a base de violão bossa nova e o arranjo sem muitos elementos extras além das caídas orquestrais, cordas e flautas e trompetes distantes, bossa lenta. Gravada, como canção, afinal, no mesmo 1966 pel'Os Cariocas, no álbum Arte/Vozes.

O amor é chama
Piano moderno e violino belo e simples, baixo e bateria jazzísticos, bossa tão elegante que mesmo já assim sem voz foi lançada no compacto com ''Grilos'' – violão e piano tinindo e um curtíssimo e lindo solo do que soa como uma aveludade trompa ou um flugelhorn.

É preciso cantar
É ouvir os sopros samba-jazz da introdução se encaixando perfeitos com a melodia que Valle logo entra cantando pra perceber que não dá pra subestimar os elementos que ouvimos dentro de arranjos tão ricos – como são exatos os breves comentários instrumentais por todas as composições. E não esquece: é um defeito ser sentimental.

Pensa
Levado por dedilhado de guitarra e clima pianinho, pouco depois do um minuto a dinâmica levanta para receber um solo de sax, que leva a faixa até o final. Teria ficado lindo Valle cantando solo no começo e talvez duetando com o sax na segunda parte. Dá pra imaginar ouvindo a versão lançada da canção um ano antes pela cantora Luiza, com arranjo de Moacir Santos.

Mais vale uma canção
Sem a melodia principal, os acordes de sopros nos contracantos e curtos solos de piano ganham ares de protagonista e a levada pra frente de bateria e violão transformam a faixa instrumental em um hit perdido do samba-jazz, talvez até melhor assim sem voz. Pra checar, no mesmo ano Os Cariocas gravaram também essa canção no LP Passaporte.

Lenda
Linha grandiosa de cordas e sopros suaves anunciam o que certamente seria uma dessas canções de Marcos que se desenvolvem tranquilamente, com melodia perfeita e letra de ecoar na cabeça. Sem dúvida: só ouvir, em 1971 Cassiano gravou a canção lindamente no álbum Imagem e Soul. Aqui ainda sem voz, com breves interjeições de sax e um riff de cordas e trompete com surdina pontuando o refrão.

Se você soubesse
Riff de cordas e ritmo à broadway, com ataque de sopros samba-jazz. O violão, sem a voz por cima, leva um balanço tão bom que não decepciona quando ganha o primeiro plano. Os breves comentários de trompete e sopros e cordas e viradas de bateria garantem o resto da dinâmica.