Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : Liminha

Godiva do Irajá
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Ronaldo Evangelista

Estávamos aqui falando do ótimo som do último disco do Erasmo e lembrando de tantas produções feitas por Liminha, hora certa de assistir esse vídeo, play acima, o baixista mostrando como criou o arranjo e estrutura de “Kátia Flávia”, hit de Fausto Fawcett, 1987, passo a passo nas camadas de overdub: montando o beat, criando a linha de groove no baixo slap, três guitarras puxando o funk, teclado de impacto. Viagem completa no túnel do tempo, para lembrar da faixa pronta, o clipe do Fantástico da música por aqui.


Tita Lima fala sobre o Jardim Elétrico dos Mutantes
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Ronaldo Evangelista

Dentro de uma série chamada DNA Musical, no site do Oi Novo Som, artistas comentam discos que foram importantes para sua formação. Há algumas semanas, em especial do dia dos pais, Tita Lima comentou o quarto disco dos Mutantes, já com seu pai, Liminha, integrado à formação como baixista, logo abaixo.

Já que vocês pediram para escolher um disco dos Mutantes com o meu pai, não tenho dúvidas: Jardim Elétrico. Escolho o quarto disco da banda, de 1971, por uma questão afetiva. Quando eu era criança adorava o desenho da capa. Tinha medo e atração pelo monstro, tinha aquela imagem decorada e talvez até conseguisse redesenhar a arte com os olhos fechados. Eu ficava ouvindo “Portugal de Navio”, rindo da voz esquisita do meu pai.

Era tão pequena que não entendia o duplo sentido das letras. Para mim, escutar Saltimbancos e Mutantes era divertido. Vou trepar na escada significava: “Vou trepar na escada!”. Vou te mandar para Portugal de Navio era isso mesmo, eu imaginava meu pai mandando minha mãe viajar em navios antigos.

Eu achava que a Rita era uma fada madrinha/bruxa, mas das boas e que ela sempre iria me proteger quando eu ficasse no escuro. Pra mim, a Rita não era 100% humana, mas uma fada que transitava entre os humanos disfarçada e só eu sabia o segredo dela. Ela piscava pra mim quando me via e fazia carinho na minha orelha, eu achava que aquilo era um código. rsrsrsr!

As músicas mais valiosas para mim, além de “Portugal de Navio”, são “Lady Lady” porque eu acreditava que esta música havia sido feita para minha avó que se chamava Layde. Eu não sabia inglês! E “El Justiceiro” formava um personagem na minha cabeça, ele era lindo e forte, quase um herói, e era parecido com Walmor Chagas! rsrsrs.

Na verdade todas as músicas eram importantes para mim, faziam parte de um contexto, um filme. Não dava para pular uma faixa, eu não sabia mexer em vitrola e chegar perto de agulha era bronca na certa! Além de criar meus personagens para esse disco, eu o conhecia de cabo a rabo, sabia cada solo, cada voz …cada virada de bateria.


Conversando com Erasmo Carlos
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Ronaldo Evangelista

Setenta anos de idade, 50 anos de estrada, 40 anos do clássico Carlos, Erasmo. “É muita comemoração, eu tenho que trabalhar”, brinca Erasmo. Disco novo cheio de novidades, só canções inéditas, parcerias interessantes, som nada careta, a essa altura e dois anos de seu último disco de inéditas, Rock ‘n’ Roll, exemplo de pique. O álbum novo, Sexo, produzido por Liminha, está na rua e você pode ouvir e saber mais por aqui. Aproveitando phoner pra bater aquele papo e falar sobre a vida, conversei com Erasmo hoje, logo abaixo.

Como foi o processo de gravação do disco, o Liminha fez os arranjos?

Foi igualzinho o outro disco. Eu faço a musica aqui em casa na minha bateria eletrônica. Então ele vai e comeca a alquimia dele lá. Ele obedece tudo que eu fiz, tudo como está, e vai vestindo aquilo, como se ele vestisse o esqueleto. Aí ele vai botando as guitarras, vai trocando a bateria eletrônica pela bateria humana e vai montando o disco. Vamos trocando ideia e montando o disco.

Tudo a partir do seu violão, da sua voz e da bateria eletrônica?

É, ele conserva às vezes alguns violões meus.

Bonito o violão de nylon em “Sentimento exposto”.

Ele disse, “Erasmo, esse violão eu vou ter que conservar porque ninguém sabe fazer”.

É raro ter violão seu nos discos, né?

É. Porque sempre mudam, né, bicho? Através da minha vida sempre foi assim: eu mostro pros músicos, eles começam a mudar os acordes, daqui a pouco vira outra música, sabe? Os músicos são modernosos. Eles estão sofrendo novas influências sempre, claro. Então qualquer música que eles pegam eles botam influência da época. Eu não, eu tenho minha influência de base. Então ela vai persistir em toda minha vida, acho que é isso que faz o estilo de uma pessoa. Eu gosto de adaptar as tendências para o meu negócio.

Esse processo de gravar em casa e levar pro Liminha é de dentro pra fora.

E conserva minha identidade na coisa.

Você chegou a compor canções que fugiam do tema? Tem um baú de canções ou todas que foram feitas foram utilizadas?

Não cara, aconteceu comigo uma coisa chata que eu fiz muito mais que as canções que as que entraram no disco. Na época eu estava mudando a minha tecnologia caseira. Eu ainda compunha com cassete, sabe?, aí eu passei pra minha época digital, comprei meu gravador digital. Então eu ia compondo, depois pegava o USB e depois fazia um disquinho e guardava. Aí passava e gravava outras coissas no USB, porque o que eu tinha feito estava guardado no CD. Cara, eu acabei perdendo três CDs! Perdi, não sei onde que foi, se roubaram, se deixei por aí. Não sei se porque eu estava gravando e os CDs voltavam e iam e voltavam e iam, de repente eu perdi. Já procurei tudo e ali tinha música pra caramba, tinha muito mais música do que eu gravei. Tem umas coisas ainda do Rock ‘n’ Roll, sobraram de lá.

Então foi questão de umas 30 músicas?

Foi por aí. Muitas eu sei de cabeça, outras não. Foi besteirada minha, coisa de aprendiz.

É bom, as que sobraram devem ser as melhores.

É, já estavam separadas em um CD pro Liminha.

Erasmo, até hoje sinto uma singeleza muito grande no seu jeito de compor. Uma certa simplicidade, uma abordagem quase zen, como uma busca.

Eu sou assim. O que eu mostro nas minhas músicas é o que eu sou, sabe? Por isso que eu acho que eu nunca precisei de analista, o que eu tenho que expressar eu expresso nas minhas canções. Então essa forma de você analisar, ou como qualquer pessoa analisar, é sincero, bicho. Não faço nada por armação, sou muito sincero nas coisas que eu falo.

Legal você falar de terapia, porque tem essa característica quase existencial. Lembrei daquela música linda que você deu pra Paula Toller uns anos atrás.

O q é q eu sou“. Eu não regravo essa música porque ela é muito pra mulher, sabe? A segunda parte dela é bem mulher cantando. Só por isso que eu não regravo. Mas eu queria muito regravar essa música que eu gosto muito dela.

E ultimamente rolou encontro com nova geração de músicos, tem chegado novas informações?

É, a gente tá sempre junto por aí, se encontrando. A minha aproximação com Arnaldo começou que fui gravar o DVD dele, Ao Vivo Lá em Casa. Lá nesse mesmo dia conheci o Jeneci. Aí eu fiz o Grêmio, programa do Arnaldo na MTV, depois ele participou de um show meu, claro que a parceria seria inevitável nesse novo disco, Sexo. O Jeneci também, a gente vai se conhecendo pela vida, como o Kassin, como o Domenico, que eu conheci atraves de Adriana Calcanhotto. a Silvia Machete, que fez um show inteiro com as musicas do Carlos, Erasmo. A gente vai se conhecendo assim pela estrada e vai formando uma amizade. Nos anos 80 já foi assim com Titãs, Kid Abelha, Ultraje a Rigor, vai vindo. Agora essa geração do Marcelo Jeneci. Eu fico feliz com isso porque eu vou ficando. Minhas músicas vão ficando de geração pra geração.

Como se fossem fazendo mais sentido, renovando o contexto.

É, muita gente entende muito mais minha música agora do que entendia na época que eu fiz.

Estava ouvindo recentemente uma gravação de uma música sua muito boa, só você tocando violão em um disco de entrevistas no começo dos anos 70…

O “Samba da preguiça“. Eu fiz essa música pra Nara Leão. Ela cantou num show dela e acabou não gravando. Quem gravou essa música recentemente foi Wanderlea, no último DVD dela.

Tem muitos sambinhas da época, né? “A hora é essa”, que a Célia gravou, “Eu queria era fica sambando”, que os Originais do Samba gravaram…

Ih, caramba, você é conhecedor da minha obra.

Sou fã desses sambinhas, Erasmo. Estou esperando seu disco de sambinhas.

Tá certo. (risos) Tá bom.

§ Erasmo Carlos se apresenta no Teatro Bradesco, em São Paulo, no dia 14 de setembro. Sexo acaba de ser lançado.


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