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Karina Buhr Longe de Onde
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Ronaldo Evangelista

Longe de Onde, o segundo álbum de Karina Buhr, lançado em outubro último, é desses que melhoram a cada audição. Explosão criativa, pop de raiz do futuro, som altamente sintonizado, mil pensamentos pessoais e universais, conexão máxima com as ideias mais legais que estão no ar e na intimidade coletiva.

Escrevi sobre o álbum a convite de Karina, logo abaixo ou por aqui.

Para ouvir o disco, por aqui.

A música de Karina Buhr tem o sim e o não. Em sua poesia existe esperança e morte, solidão e amor. Se compor é assumir todas as possibilidades, em uma canção cabem todas as ideias, pensamentos, sensações que se for capaz de imaginar e sentir. Da primeira à última das onze faixas de Longe de Onde, segundo álbum solo de Karina, a vida é uma surpresa.

Assim como em seu primeiro disco (Eu Menti Pra Você, janeiro de 2010), o novo foi produzido por Karina ao lado de Bruno Buarque e Mau, respectivamente baterista e baixista e estrutura base para suas narrativas musicais cheias de rasteiras nas expectativas. Liga que se completa com o tecladista André Lima e o trompetista Guizado, mais a impressionante dupla de guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau, camadas de som se alternando e se encontrando.

Banda meganinja que acompanha a espontaneidade das canções e conduz a eletricidade em alta voltagem de Karina: ao vivo é uma experiência, disco é pras canções nascerem. Tudo leve e tudo denso. E tão particular que uma das coisas mais fascinantes de um segundo disco é ver o que não era coincidência nem vira acidente, o que se torna a voz, o que se cristaliza como personalidade artística – ou o que cabe no nosso ouvir.

Tematicamente, eu-liricamente, melodicamente, nos arranjos e letras plurais nos estilos e abordagens, as composições de Karina são a invenção de um mundo sem limites – geográficos, conceituais, de imaginação. Universo que se expande do punk rock de “Cara Palavra” à poesia aguda de “Não Precisa me Procurar”. Nas imagens de pista de dança versus campo de guerra de “The War’s Dancing Floor” à pressão surf music de “Guitarristas de Copacabana”. Do encontro de leveza e fatalismo no delicioso reggae “Cadáver” ao dueto de voz e guitarra na bela “Amor Brando”. E na sinceridade irresistível da quase new wave “Não me Ame Tanto”.

Em uma recente viagem ao Marrocos depois de um show do festival Roskilde, na Dinamarca, atraída pela beleza do lugar e da escrita árabe nas ruas, pela simbologia da proximidade distante, Karina registrou em Casablanca a imagem de capa do disco, foto de Jorge Bispo. Longe depende de onde, mas longe também é onde. Karina Buhr não é de nenhum lugar que você conhece. Riqueza de interpretações, insinuações, declarações, provocações, despadronizações.

Com seu romantismo e existencialismo, lirismo e ironia, Karina é absolutamente sincera nas mentiras da arte, da representação, da sugestão anticlichê em composições de ritmo oral, esperto e instintivo. Lógica própria, que se apresenta e existe de pronto. Experiências que se somam, nenhuma coisa em si exatamente definindo ou explicando. A poética é invulgar e literalidade é limitação. A vivência é única, e é justamente nessa coisa única que tudo se torna mais interessante. Falar muito é como explicar a piada: para fazer ideia, só ouvindo e pensando e sentindo.


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