Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : dezembro 2011

Emicida reinventa Moreira da Silva
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Ronaldo Evangelista

Acompanhado do Sambanzo (de Thiago França, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Pimpa e Samba Sam), Emicida pega pra si o “Na subida do morro“, samba original de 1952 do grande Moreira da Silva, e transforma em história de seu próprio flow, rap humorado, crônica de ontem e hoje, atenção ao breque. Registrado no dia 3 de dezembro de 2011 no Centro Cultural São Paulo, parte do projeto de descobertas em 78 rotações Goma-Laca.


Florian Keller @ Veneno
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Dia 3 de dezembro o seletor alemão Florian Keller baixou no Baile VENENO com seus vinis para participação especial internacional e alegria da pista de dança. Registrado para a história, foi assim, abaixo.


Kitsch Pop Cult
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Oficialmente, só sai no ano que vem. Mas já em algumas lojas em Belém e circulando online, está chegando o álbum Kitsch Pop Cult, do guitarrista, compositor e cantor paraense Felipe Cordeiro. Produzido por André Abujamra, o disco vai de lambada a new wave, carimbó a tecnomelody em sequência de faixas ótimas, pop amazônico de som divertido e apurado, balançado e esperto. O CD deve sair pelo carnaval, antes disso tem show no Sesc Pompeia em janeiro.


Karina Buhr Longe de Onde
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Longe de Onde, o segundo álbum de Karina Buhr, lançado em outubro último, é desses que melhoram a cada audição. Explosão criativa, pop de raiz do futuro, som altamente sintonizado, mil pensamentos pessoais e universais, conexão máxima com as ideias mais legais que estão no ar e na intimidade coletiva.

Escrevi sobre o álbum a convite de Karina, logo abaixo ou por aqui.

Para ouvir o disco, por aqui.

A música de Karina Buhr tem o sim e o não. Em sua poesia existe esperança e morte, solidão e amor. Se compor é assumir todas as possibilidades, em uma canção cabem todas as ideias, pensamentos, sensações que se for capaz de imaginar e sentir. Da primeira à última das onze faixas de Longe de Onde, segundo álbum solo de Karina, a vida é uma surpresa.

Assim como em seu primeiro disco (Eu Menti Pra Você, janeiro de 2010), o novo foi produzido por Karina ao lado de Bruno Buarque e Mau, respectivamente baterista e baixista e estrutura base para suas narrativas musicais cheias de rasteiras nas expectativas. Liga que se completa com o tecladista André Lima e o trompetista Guizado, mais a impressionante dupla de guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau, camadas de som se alternando e se encontrando.

Banda meganinja que acompanha a espontaneidade das canções e conduz a eletricidade em alta voltagem de Karina: ao vivo é uma experiência, disco é pras canções nascerem. Tudo leve e tudo denso. E tão particular que uma das coisas mais fascinantes de um segundo disco é ver o que não era coincidência nem vira acidente, o que se torna a voz, o que se cristaliza como personalidade artística – ou o que cabe no nosso ouvir.

Tematicamente, eu-liricamente, melodicamente, nos arranjos e letras plurais nos estilos e abordagens, as composições de Karina são a invenção de um mundo sem limites – geográficos, conceituais, de imaginação. Universo que se expande do punk rock de “Cara Palavra” à poesia aguda de “Não Precisa me Procurar”. Nas imagens de pista de dança versus campo de guerra de “The War’s Dancing Floor” à pressão surf music de “Guitarristas de Copacabana”. Do encontro de leveza e fatalismo no delicioso reggae “Cadáver” ao dueto de voz e guitarra na bela “Amor Brando”. E na sinceridade irresistível da quase new wave “Não me Ame Tanto”.

Em uma recente viagem ao Marrocos depois de um show do festival Roskilde, na Dinamarca, atraída pela beleza do lugar e da escrita árabe nas ruas, pela simbologia da proximidade distante, Karina registrou em Casablanca a imagem de capa do disco, foto de Jorge Bispo. Longe depende de onde, mas longe também é onde. Karina Buhr não é de nenhum lugar que você conhece. Riqueza de interpretações, insinuações, declarações, provocações, despadronizações.

Com seu romantismo e existencialismo, lirismo e ironia, Karina é absolutamente sincera nas mentiras da arte, da representação, da sugestão anticlichê em composições de ritmo oral, esperto e instintivo. Lógica própria, que se apresenta e existe de pronto. Experiências que se somam, nenhuma coisa em si exatamente definindo ou explicando. A poética é invulgar e literalidade é limitação. A vivência é única, e é justamente nessa coisa única que tudo se torna mais interessante. Falar muito é como explicar a piada: para fazer ideia, só ouvindo e pensando e sentindo.


Destaques em 2011
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Em clima de retrospectiva deste 2011 que acaba, o pessoal do UOL selecionou dez listas de discos que foram destaque pelo ano. Ao lado de Fernanda Mena, Jotabê Medeiros, Lúcio Ribeiro, Fernando Kaida, Cláudia Assef, Antonio Farinacci, Sergio Martins, Mariana Tramontina e Pablo Miyazawa, escolhi dez álbuns que pintaram muito bem em 2011 e escrevi breve comentário de apresentação sobre, em especial, o de Criolo.

Em olhada rápida logo abaixo e todo o resto por aqui.

“Nó na Orelha” Criolo

Uma química especial aconteceu quando Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral começaram a produzir o álbum “Nó na Orelha”, do rapper Criolo. Com representativa história construída no hip-hop, foi uma surpresa sua revelação como compositor de canções e talento bruto como cantor. Entre arranjos de sopros e cordas, som de banda com piano-baixo-bateria e participações de músicos como Thiago França, Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, o disco passeia por bolero, dub, soul, afrobeat, samba – e, claro, rap. As letras fortes, cheias de cenas da cidade e dialetos suburbanos, incorporam o discurso do hip-hop – com intepretação intensa, mas amorosa -, em faixas com identidades próprias, em algum lugar entre Sabotage e Adoniran, Wu-Tang e Fela. Caetano Veloso percebeu e quis cantar junto, Chico Buarque atentou e homenageou no show, a MTV deu o prêmio de disco do ano, jornais, revistas, blogs e redes sociais gastaram o assunto. Lançado em LP, CD e de graça na internet, resultando em série de apresentações lotadas e provando fazer jus ao título, “Nó na Orelha” foi o álbum de música brasileira que mais chamou a atenção em 2011.


levante bem seus olhos você tem que ver
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Pra fazer seu single novo, Bruno Morais foi direto na veia: versão repensada de uma das melhores de Erasmo Carlos, “Sorriso dela” (originalmente do lindo LP Sonhos e Memórias, 1972), regravada com arranjo e acompanhamento do Bixiga 70 e lançada em compacto de vinil 45 rotações. Do outro lado, bela parceria nova com Guilherme Held, “Ela e os raios”, registrada com um little help de Marcelo Callado (do Do Amor), Guizado, Emiliano Sampaio, Kiko Dinucci, Régis Damasceno.

Junto no embalo do pacote vinil, também saindo o álbum A Vontade Superstar e o single anterior de Bruno, com versões de Romulo Fróes e Lulina. Festa de lançamento acontece hoje, quarta, no Beco 203, rua Augusta 609. O single com “Sorriso dela” e “Ela e os raios” você baixa aqui.


Elefantes na Rua Nova
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Três violas dinâmicas com afinações diferentes, um violão baixo e percussões como bombo, pandeiro e ganzá, tocando temas instrumentais inspirados em toques de viola, rojão, baião, coco. Arranjos de pau e corda e pedais no ótimo álbum “Elefantes na Rua Nova“, do recifense Caçapa, legal em instrumentos, ritmos, timbres, ideias.


Goma-Laca, Volume I
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Em apresentação única, hoje às 19h no Centro Cultural São Paulo, o quinteto Sambanzo e convidados especiais reinventam achados do precioso acervo de 78 rotações da Discoteca Pública Municipal, criada por Mário de Andrade em 1935 e até hoje fantástico centro de pesquisas, infinito universo de coisas bonitas.

Investigando sonoridades afrobrasileiras de gravações dos anos 30, 40 e 50, de macumbas estilizadas a antigos cantos de trabalho, o Sambanzo cria grooves de combustão espontânea, com Thiago França no saxofone e flauta, Kiko Dinucci na guitarra, Marcelo Cabral no contrabaixo, Welington Moreira (Pimpa) na bateria e Samba Sam na percussão, recebendo seis diferentes cantores e rimadores acrescentando pontos de vista ao repertório.

Emicida relê Moreira da Silva. Luisa Maita faz versões ultracool de Trio de Ouro e Denis Brean. Bruno Morais latiniza Aracy de Almeida e Grupo X. Juçara Marçal canta Ogum no afrobeat e incorpora o transe no terreiro Iorubá do Jorge da Silva. Rodrigo Brandão encontra Zé Fechado e conecta ritmo e poesia e Ary Barroso. Marcelo Pretto faz festa pra Pixinguinha e adapta Inezita Barroso. O próprio Sambanzo encontra origens em J.B. de Carvalho e a música mostra que existe em todas as épocas ao mesmo tempo.

Parte da série Goma-Laca, que envolve também programa radiofônico, exposição dos 78s originais e pequena homenagem à Oneyda Alvarenga, primeira diretora da Discoteca e que hoje lhe empresta o nome. Noite única, só santo forte, sábado em 78 por minuto.