Blog do Ronaldo Evangelista

Categoria : Discos de 2011

Victor Rice + Bixiga 70
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Ronaldo Evangelista



Victor Rice, baixista e engenheiro de som novaiorquino radicado em São Paulo há alguns anos, tem uma sensibilidade massa para mixagens – um ouvido dub mas com um recorte muito próprio para montagens, registros e camadas. Ao vivo se apresenta com gravadores de rolo e mesas de som, ultimamente mais tempo dentro de estúdios, cuidando por exemplo do som do último disco de Marcelo Camelo e do próximo de Mallu Magalhães. Instalado no 29º andar do Copan, mixando e finalizando por esses tempos as gravações do álbum de estreia do Bixiga 70, aproveitou para colocar no ar esses dubs ao vivo de “Desengano da vista”, “Luz vermelha” e “Tema de Malaika”, passeando pelos naipes de sopro, solos de piano elétrico, delays de guitarra, grooves de baixo, levadas de bateria e percussão.


Zé Miguel Wisnik – Indivisível
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Ronaldo Evangelista

Oito anos depois de seu último disco, Pérolas aos Poucos, de 2003, Zé Miguel Wisnik está lançando álbum novo, duplo, Indivisível, capas acima de Elaine Ramos, brincando visualmente com as iniciais Z, M e W. Ouça ambos imediatamente no Bandcamp do ZMW, por aqui.

Produzido por Alê Siqueira, com parcerias com Marcelo Jeneci (“Feito pra acabar”, que deu título a seu disco), Alice Ruiz, Jorge Mautner, Chico Buarque e Guinga, além de poemas musicados de Antonio Cícero e Gregório de Matos, os discos são levados um por piano outro por violão. No de piano, exceto por uma com Jeneci ao instrumento, Wisnik é quem toca em todas. O de violão é levado pelo toque de Arthur Nestrovski.

No disco novo de Gal Costa, todo composto por Caetano Veloso, uma das duas únicas músicas não-inéditas foi justamente interpretada antes por Wisnik, em 2005, na trilha do espetáculo Onqotô, do Grupo Corpo, feita por Caetano e Zé Miguel. “Madredeus“, a canção que cantava e que foi regravada por Gal, entrou no novo dela justamente por sugestão de Zé Miguel a Caetano.

Wisnik agora também faz a direção musical do próximo espetáculo do Grupo Corpo, que estreia mês que vem no Teatro Alfa.
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Rabotnik
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Falando no novo da Gal, um nome que participa do álbum é o quarteto experimental Rabotnik, fazendo toda a base instrumental de algumas faixas. Com Estevão Casé, Eduardo Manso, Bruno Dilullo e Rafael Rocha (os dois últimos também do Tono), tocam pela noite do Rio há um tempo, no ano passado chegaram a fazer temporada no Pista 3 com participações como Kassin, Rob Mazurek e Marcelo Camelo. Já lançaram um álbum pela gravadora inglesa Far Out e agora estão levantando verba via crowdfunding (pelo mesmo projeto Embolacha de que participam Letuce e Autoramas) para prensar um CD, gravado em 2009 com participação do Damo Suzuki, do Can. Pela rede, mil sons do Rabotnik para ouvir, como no pequeno compêndio abaixo.



“Dínamo” e “Em dependência”, gravadas em 2009.



Ao vivo em janeiro de 2011.


Ao vivo com Kassin e Rob Mazurek em 2010.


Ao vivo com Marcelo Camelo em 2010.


Gal Costa + Caetano Veloso
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Você já foi à Bahia, nêga? Há algumas semanas, fui pela primeira vez. Business e pleasure: a razão foi encontrar Caetano e Gal em Salvador, matéria de capa para a Rolling Stone. Domingo, a estreia em dupla de 67, talvez tenha sido o primeiro disco pelo qual sinceramente me apaixonei tanto de um como de outro, e foi uma delícia mergulhar na história dessa relação para chegar no disco novo de Gal, todo composto por Caetano e produzido por ele e por Moreno Veloso, com jovens músicos cariocas. Doce é o título que foi soprado – mais ainda falta um mês ou dois para o lançamento, e até lá sabe como é. Reunindo memórias e projetando o futuro, a história do encontro desses dois baianos – e meu com os dois baianos – você começa a ler logo abaixo.

Sentados lado a lado, cada um em uma ponta de um sofá bege de listras marrons no camarim de um estúdio fotográfico em Salvador, Caetano Veloso, 68, e Gal Costa, 65, tem 50 anos de história para lembrar. Caetano senta-se reto, atento; Gal está à vontade, com as costas fundas no sofá. Passeando entre os muitos pontos de intersecção em duas carreiras sempre próximas e distantes, falam dirigindo-se tão frequentemente um ao outro quanto a mim, sentado em uma cadeira de frente para os dois. Enquanto reconstroem memórias em par, completam as frases mútuas com intimidade além daquela de namorados ou irmãos, mas de amizades que se orbitam, não importa quantas vezes o planeta gire. Se amizade é identificação, confiança, comunhão de raízes, empatia ilimitada, amigos são mais do que a família que escolhemos, são aqueles que continuam nos conhecendo quando mudamos.

Alguém entra na sala, traz água de coco para Gal e sai. Caetano cruza as pernas embaixo de si, no sofá. Estamos aqui por uma ocasião especial: Caetano, vindo de uma fase especialmente carregada de frescor, depois dos discos e Zii e Zie (e um ao vivo com Maria Gadú, vá lá), se viu tomado por inspiração para desencadear um processo semelhante com Gal, compondo todo um disco para ela e direcionando as gravações (se nada mudar, o álbum, previsto para setembro, deverá se chamar Doce). A última vez que ela entrou em estúdio para fazer um álbum foi em 2005 – Hoje, lançado pela gravadora Trama. O novo disco terá o apoio da gravadora Universal, que também lança os discos de Caetano e recentemente compilou os LPs de Gal gravados entre 1967 e 1983 em uma caixa com 16 CDs.

Gal e Caetano estão apreensivos, em pleno processo de finalização do álbum: faltam poucos dias para terminarem de registrar as vozes definitivas no estúdio de Carlinhos Brown, no Candeal. As bases já foram gravadas no Rio com a ajuda de Moreno Veloso – filho de Caetano e afilhado de Gal – e com participações de jovens músicos cariocas. Assim que o último rec virar stop, os arquivos de áudio ganharão mixagem, masterização, título e capa. Hoje, sábado nublado de junho, estamos na Bahia para falar do passado no presente – Bahia que já existia em mim através das músicas e agora se materializa no momento vivido e no cenário de lembranças do compositor e da cantora.

“O Caetano para mim é muito importante por tudo que a gente viveu e conviveu”, Gal começa. “Por tudo que ele compôs, tantas músicas que ele fez para mim, direcionadas a mim, falando para mim. Eu adoro as canções de Caetano. Ele é o compositor que melhor escreve para mim, para a minha voz, para mim mesmo. A gente tem uma identificação musical. Neste momento, Caetano fazer este trabalho comigo é maravilhoso. É muito importante historicamente e emocionalmente.”

Caetano, propulsor da ideia há um ano e meio, quando pela primeira vez contou a Gal do novo projeto, explica que a vontade deste álbum nasceu de pensar na história da presença de ambos na música e na história da própria música brasileira. “Gal tem uma qualidade de emissão vocal muito especial e um papel histórico muito importante, e as duas coisas estavam relativamente subvalorizadas nos últimos tempos”, reflete. “Tenho necessidade de ter uma visão histórica mais equilibrada, e isso me pareceu como uma necessidade para mim mesmo e tenho certeza que para os outros também. Então fiquei com desejo de fazer o repertório e produzir um disco todo para Gal. Me interesso muito por fazer este disco agora, para reequilibrar a visão histórica.”

Gal, entretanto, deixa claro que em nenhum momento a ideia foi homenagear o que houve, mas sim o que ainda há para haver. “Não vai ter nada a ver com nenhum disco que eu já fiz na vida, nem com nenhum disco que ele já fez na vida”, explica. “Vai ser uma coisa nova, repertório novo, tudo novo, mas é claro que tem a ver com passado porque a nossa história está impregnada na gente.”
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O resto você lê na Rolling Stone deste mês, nas bancas.
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Marcos Valle – The Lost Sessions (1966)
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Ronaldo Evangelista

Os dois primeiros discos de Marcos Valle são praticamente coletâneas de hits da fase inicial do compositor, além de amostras grandiosas do talento para arranjos de Eumir Deodato, antes de ambos partirem para os Estados Unidos – Deodato para morar definitivamente.

Seu terceiro álbum, que começou a ser gravado em 1966, seguiria o mesmo caminho, com o lançamento de canções como “Os grilos”, “Batucada surgiu” e “É preciso cantar”. Acontece que nunca houve: “Samba de verão”, do segundo LP de MV, de 65, estourou como “Summer samba” nos Estados Unidos (onde estavam Tom Jobim e Sergio Mendes) e os planos mudaram.

Para os States, no Rio, fez um disco instrumental, Braziliance, com arranjos de Deodato, e já novas versões de “Batucada”, “Os grilos” e algumas do segundo álbum. Na sequência, já gravando em Nova York (mas ainda com Deodato), para a gravadora Verve, fez “Samba ’68“, cantando novas versões em inglês de canções de seu segundo disco, algumas novas e “Grilos”, “Batucada” e “É preciso cantar” – a essa altura, naquelas primeiras gravações já compiladas no Brasil em um compacto duplo.

Depois da fase América, as ideias eram outras e o que nasceu em 1968 já foi o disco Viola Enluarada, indo além das bossas de até então. As onze faixas gravadas em 1966 no estúdio da Odeon, no Rio de Janeiro, lá ficaram.

Algumas canções já regravadas pelo autor, algumas regravadas por outros, uma inédita até hoje (e sem letra), tudo com violão e piano de Marcos Valle, Dom Salvador ao piano em algumas músicas, e MV, Geraldo Vespar e Deodato nos arranjos.

Três delas com vozes, prontas (as que saíram no compacto). As outras, com as imponentes orquestrações já registradas, aguardando finalização, inéditas para quaisquer ouvidos em toda sua eloquência, masters perdidos em uma caixa em uma estante.

Até caírem na mão de Charles Gavin, que produzia box sobre Marcos Valle. Como já havia sido feito excelentemente no box sobre Simonal (outro que tinha Deodato como arranjador pela mesma época), os discos já traziam como bônus versões sem voz, com as orquestrações em primeira plano. Daí a todo um disco inédito como graça extra, chegamos a The Lost Sessions. Discógrafos do Marcos Valle (e do Deodato), atualizem-se.

Em grande efeito, um disco perdido de samba-jazz, muito de Eumir Deodato sobre composições de Marcos Valle, com participação de luxo do autor na voz em três faixas. Só imagine: estamos falando de Deodato em 1966, em um momento entre os dois primeiros discos de Marcos Valle (de 64/65) e os dois americanos (de 66/67), todos com seus arranjos. (Ouça, por exemplo, “Vem”, do álbum O Compositor e o Cantor e pense nas possibilidades.)
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The Lost Sessions sai como CD bônus da caixa Tudo, que reúne os discos feitos por Marcos Valle na Odeon entre 1963 e 1974, a ser lançada pela EMI em julho.
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MARCOS VALLE – THE LOST SESSIONS (2011)

01. Os grilos (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle) *vocal
02. Uma lágrima (Marcos Valle)
03. Lá eu não vou (Marcos Valle / Marcos Vasconcellos)
04. Batucada surgiu (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle) *vocal
05. Primeira solidão (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
06. O amor é chama (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
07. É preciso cantar (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle) *vocal
08. Pensa (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
09. Mais vale uma canção (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
10. Lenda (Marcos Valle / Luiz Fernando Lula Freire)
11. Se você pudesse (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)

12. Os grilos *instrumental
13. Batucada surgiu *instrumental

Gravado nos estúdios da Odeon, Rio de Janeiro, 1966

Marcos Valle: voz nas faixas 1, 4 e 7, piano e violão
Dom Salvador: piano

Arranjos e orquestrações:
Eumir Deodato, Geraldo Vespar e Marcos Valle
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Chico, 2011
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Ronaldo Evangelista

Com o tempo a voz de Chico Buarque ganhou um gosto de tempo, um certo gasto que pode ser lido como fragilidade, mas é mais uma força de aproximar-se da naturalidade de experiência de vida de seus personagens. Em todo um ar de deboche francês, também apurado parece o senso de humor. Claro, timidez etc. Mas não vá dizer que não tem um gosto pelo sarro em todo Chico. Sem a malícia os olhos verdes não seriam os mesmos.

Sua feitura de letras segue uma transição de buscas por achados poéticos virtuosisticamente simples para um gosto mais de crônica musicada, em busca da fluência casual – daí o gosto por valsas e blues, que o compositor diz serem elementos presentes em seu novo disco, chamado puramente Chico, em existência física a partir de 22 de julho, pela gravadora Biscoito Fino.

Justamente neste domingo Chico completou 67 anos, feliz aniversário, e se vejo comumente seu som recente – leia-se Carioca, 2006 – ser chamado de careta (muito pelas características típicas de há tanto tempo, elementos como bateria ultramicrofonada, solo de sax, teclados, baixo de cinco cordas), a questão é mais que Chico segue um exercício de compilar composições recentes a cada número de anos e gravá-las e lançá-las, o que é mais do que se pode dizer de muitos e é suficiente por si só. E especialmente para um artista com frequente público interessado, como o é Chico.

Mil pessoas, até às 19h, segundo a assessoria da Biscoito Fino, ouviram nessa segunda a primeira música do que antes se chamava “de trabalho”, o primeiro single ou, no caso, o primeiro mp3, “Querido Diário”, em esquema de pré-compra do álbum e senha para o áudio da primeira faixa, exclusiva. A intimidade com a internet segue até o lançamento do CD no mundo real, com vídeos (feitos pelo carioca Bruno Natal) de momentos dos bastidores da gravação, com projeto e site chamados, bem, Bastidores. Pra seguir diariamente, por aqui.

§A foto é do URBe.
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Uma música do novo Chico é “Se eu soubesse”, dueto também recentemente no disco de Thaís Gulin.


Red Hot + Rio 2: tropicalismo intercontinental
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Ronaldo Evangelista

Quinze anos atrás, em 1996, a coletânea Red Hot + Rio fez um tributo moderno à música brasileira com gringos descolados como Stereolab, Everything But the Girl, Mad Professor, George Michael e Sting interpretando bossa nova. Agora, dia 28 de junho próximo, sai um segundo volume, desta vez com um olhar mais tropicalista da coisa. Se a bossa nova é um tranquilo estado de espírito, a tropicália é uma linguagem pós-moderna, natural para norteamericanos, caboverdeanos, europeus, brasileiros.

Em um CD duplo, com mais de meia centena de artistas colaborando em faixas majoritariamente inéditas, o Red Hot + Rio 2 tem Tom Zé encontrando Javelin para interpretar sua “Ogodô”, Marisa Monte se juntando a Devendra e Amarante pra um Caetano anos 80, Mayra Andrade cantando com Trio Mocotó, Phenomenal Handclap Band refazendo Milton com Marcos Valle, Madlib entortando Joyce, Vanessa da Mata cantando com o Almaz de Seu Jorge, Of Montreal reinterpretando o clássico “Bat Macumba” dos Mutantes com a versão século XXI dos próprios, Apollo Nove, Céu e N.A.S.A. mandando um Caetano em inglês, mais Orquestra Contemporânea de Olinda com Emicida, Money Mark com Thalma de Freitas, Beirut, DJ Dolores, Rita Lee, Curumin, Aloe Blacc, Marina Gasolina, Carlinhos Brown e um monte de gente.

Quem produz é Béco Dranoff (do selo europeu Ziriguiboom), que também produziu a primeira edição – ambas beneficentes, em combate à AIDS. A lista completa de músicas do CD você vê por aqui e logo abaixo um gostinho, com a californiana Mia Doi Todd colocando sotaque charmoso e abordagem indie na letra em português e no groove do afro-samba “Canto de Iemanjá”, de Baden e Vinicius: