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Marcia Castro + Mariana Aydar + Mayra Andrade + Mariella Santiago
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Ronaldo Evangelista

Comentei do show de Marcia Castro recebendo Mariana Aydar, Mayra Andrade e Mariella Santiago no Conexão Vivo em Salvador e, olha só, a íntegra está online, para baixar aqui, tirado deste blog. O áudio está dando alguns paus eventuais, como se gravado em CD-r tosco, mas o som compensa. O show é parte do projeto Pipoca Moderna, de Marcia Castro, em que ela viaja para alguns shows pelo país com outras novas cantoras como convidadas.

A abertura do show foi em clima de dominação, com versão a quatro vozes de ''Os mais doces bárbaros'', que você ouve no play acima. Na gravação da apresentação, entrou só no final, quando repetiram no bis. A banda estava formada por Gui Kastrup na bateria, Magno Vitor no baixo, Ricardo Prado no violão, teclado e acordeão e Rovilson Pascoal na guitarra e direção musical e o setlist foi assim:

01) Marcia Castro – De pés no chão (Rita Lee)
02) Mariella Santiago – Danado na cor
03) Mariana Aydar e Mariella Santiago – Aqui Em Casa (Duani e Mariana Aydar)
04) Mariana Aydar – Solitude (Mariana Aydar e Luisa Maita)
05) Marcia Castro e Mayra Andrade – Menina mulher da pele preta (Jorge Benjor)
06) Mayra Andrade solo
07) Mayra Andrade e Mariana Aydar – Tunuka
08) Marcia Castro e Mariana Aydar – Frevo (Pecadinho) (Tom Zé)
09) Marcia Castro e Mariella Santiago – Eu Sou Negão (Gerônimo)
10) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – O canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)
11) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Nha Damaxa
12) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Gererê (É o Tchan) / Preta Pretinha (Moraes Moreira e Galvão)
13) Marcia, Mariana, Mariella e Mayra – Os mais doces bárbaros (Caetano Veloso)


O que vi, ouvi e aprendi no Conexão Vivo
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Ronaldo Evangelista

§ O festival Conexão Vivo existe há onze anos (antes era patrocinado pela Telemig Celular), nascido na cidade de Belo Horizonte e hoje por estados como Pará e Bahia, além de Minas Gerais. Entre os dias 11 e 14 de agosto de 2011 aconteceu a segunda edição em Salvador, praia da Pituba, praça Wilson Lins, espaço a céu aberto para 20 mil pessoas.

§ No primeiro dia, grande momento veio com Di Melo, que participou do show da banda mineira Black Sonora e cantou a toda clássicos de seu clássico LP de 1975, ''Kilariô'' e ''A vida em seus métodos diz calma''. Aproveitou para avisar que estreou no festival de cinema de Garanhuns, e em breve nos cinemas, o documentário O Imorrível e já decretou: melhor é impodível.

§ O paraense Felipe Cordeiro participou como guitarrista de dois shows e como público de quase todos. Pelos camarins, contou que seu primeiro álbum Kitsch Pop Cult, produzido por André Abujamra, patrocínio do próprio Conexão Vivo, está sendo lançado este mês. Como se diz em Belém (me ensinou Felipe): pai d'égua.

§ Armandinho parece ser uma espécie de Lanny Gordin da guitarra baiana, tocando como nunca. Participou solando Santana no show de Gilvan de Oliveira e, com Dadi e Mú etc, reviveu o pop de sotaque prog ensolarado d'A Cor do Som, com participação de Pepeu Gomes.

§ Pepeu circulava vestindo preto nas roupas e longos cabelos, mas mais estilosa era sua filha de seis anos, que pelas noites de festival alternou calças de oncinha e de couro, lenços, botas e camisas coloridas, senso apurado de moda.

§ Bem doido – e interessante – o som da banda de Juarez Maciel, entre ska, jazz, salsa, xote, música cigana, pop, com sopros, teclado, violino e participação de Edgard Scandurra.

§ Não devia ser coincidência Marku Ribas estar descalço e vestido de branco no palco: foi ótimo seu som tranquilo mas na pegada, vozeirão sobre suingue de violão de nylon e baixo elétrico, bateria grooveada e naipe de sopros, repertório de seu último disco, 4 Loas.

§ No segundo dia de festival a chuva parou magicamente quando entraram no palco Marcia Castro recebendo Mariana Aydar, Mayra Andrade e Mariella Santiago, já no alto astral, altas transas, lindas canções, tirando a onda de interpretar de abertura ''Os mais doces bárbaros'', planos muito bons de 1976 da brigada tropicalista.

§ Em seu primeiro disco, Marcia gravou de Tom Zé ''Pecadinho'', que no show cantou com Mariana Aydar. Já o novo disco de Marcia, fiquei sabendo por lá, sai em breve e inclui outra versão de pérola escavada do compositor: ''Você gosta?'', das melhores, lançada em compacto em 1969, derramado toda hora.

§ A caboverdeana Mayra Andrade hipnotizou geral com sua voz bem única, linda, rouca, cantando ''Tunuka'' (que foi hit com todo mundo cantando junto) e deliciosa versão de ''Menina mulher da pele preta'', de Jorge Ben.

§ Mariana Aydar foi a artista que mais distribuiu autógrafos e pose para fotos depois do show. Mayra Andrade foi a que mais deu entrevistas a jornalistas, com fila de repórteres de gravador na mão. No último dia também apareceu com destaque o fã-clube do tecnológico e artesanal grupo Percussivo Mundo Novo.

§ Com seu tecnomelody eletrobrega evoluído, Gaby Amarantos fez show ligada no 220, cantando a toda sem deixar cair, repertório dançante, divertido, esperto, elétrico. Entre as músicas, ''Como acontece a chuva'', composição de Thalma de Freitas e Iara Rennó para seu álbum. Por todo o show a paraense arranhou pouco a voz e concluiu sem cantar ''Tô solteira''. Adeus, Beyoncé do Pará. Um disco e tanto deve vir por aí.

§ Aliás, Gaby Amarantos também revelou por lá o título de seu aguardado álbum: Treme. Produzido por Carlos Eduardo Miranda, juntando Waldo Squash da Gang do Eletro e Félix do La Pupuña, sai logo menos com patrocínio do Conexão Vivo e distribuição nacional.

§ A garoa fina parecia cenografia encomendada para o show de Lenine, maior nome do festival, que fechou a sexta-feira. Tranquilamente carismático, popstar sem esforço, embalou com seu violão e banda afiada hits cantados de peito aberto no palco e fora dele.

§ Um número de ativistas se juntou na frente dos palcos, antes de cada show, e puxou nos quaisquer momentos de silêncio coros de ''Belo Monte, não!'' Gaby Amarantos, quando chamaram sua atenção, apoiou: ''É claro que Belo Monte não, eu sou da floresta!''

§ Aproveitando uma pancada de chuva que espantou seguranças conferidores de pulseirinhas de seus postos, dois rapazes da turma de ''Belo Monte, não!'' ficaram pelo chiqueirinho de imprensa, até um deles tentar subir no palco e hastear bandeira. Lenine, em ritmo de paz e espírito apaziguador, acalmou os seguranças, tranquilizou os rapazes e voltou a cantar, do começo, acompanhado por todos, ''Paciência''.

§ Falando nele, outra nova de trás do palco: está pronto, e para sair, o novo álbum de Lenine, Chão, a qualquer momento.

§ Durante o show de Alisson Menezes e a Catrupia, ainda no começo da noite de sábado, um boi-burrinha invadiu o público, que abriu a roda e se animou – como fez, aliás, com praticamente todos os ritmos e propostas que pintaram pelo evento.

§ Foi elogiado o duelo de MCs promovido pela Família de Rua na Estrada, de Belo Horizonte. Com um sistema de avaliação que misturava aplausos e dois juízes no palco, o vencedor do duelo foi o MC Shugs, de Salvador.

§ Criolo fez uma aparição em som, em certo momento rolando nas caixas ''Não existe amor em SP'', discotecado por, ouvi falar mas não vi, BNegão.

§ Romulo Fróes, que participou do show de Manuela Rodrigues, cantou de seu último álbum a canção ''Filho de Deus'', dedicada ao pai baiano, e foi aplaudido com calor. Ele só pensou tomara.

§ Foi curioso ver Paulo Miklos por lá, participando do show do Porcas Borboletas, a extrema urbanidade paulista de ''Bichos escrotos'' de alguma maneira fazendo sentido tocada por mineiros estranhos e entoada pela grande plateia baiana à beira mar.

§ Elza Soares entrou de cadeira de rodas e sentou-se um sofá branco para participar do show da gafieira Senta a Pua!, mas a operação na coluna que disse ter feito (''mas não na voz!'') não a impediu de esbanjar energia, jogar papinho pra cima do trompetista bonitão, cantar emocionantemente a capella e suingar como se tivesse 20 anos, o que parece ter de espírito, com sua voz rasgada e intensa como no auge. Foi um dos momentos mais aplaudidos de todas as noites.

§ Já o maior coro de todas as noites do festival aconteceu durante as músicas de Edson Gomes, participando do show de Celso Moretti (que se definiu como reggae-favela, enquanto estilingava poemas em papéis amassados ao público).

§ Wilson das Neves, Virgínia Rodrigues, Luiz Chagas, Gui Kastrup, Duani circulavam pela área dos camarins e produção e imprensa, com banquinha de acarajés e o quiosque da Jane Fonda baiana ao alcance do braço.

§ Ao lado do palco, à frente do mar, uma turma caminhava e pulava sobre uma corda bamba amarrada entre dois coqueiros. Talvez não fosse intencional, mas em vários momentos davam um novo ritmo à noite, como um balé surreal seguindo a trilha dos shows.

§ A lua surgiu grávida e ficou completamente cheia no domingo, flutuando como um balão fluorescente no céu de Salvador.

§ Outras críticas, reminiscências e relatos do Conexão Vivo: por Marcus Preto, por Pedro Alexandre Sanches, por Esperança Bessa, por Lauro Lisboa Garcia, por Guito & Fernanda Perez, por Amauri Gonzo e por Marcelo Costa.

§ Fotos do post do flickr do festival.


Felicidade em Sairé
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Ronaldo Evangelista

Pra filmar seu primeiro vídeo, da canção ''Felicidade'', de seu álbum Feito Para Acabar, do fim do ano passado, Marcelo Jeneci foi pra cidade de Sairé, interior de Pernambuco. Ao lado de Laura Lavieri, tocando violão na rua e piano elétrico na chuva, ouvindo a música em altos falantes espalhados pela pequena cidade, Jeneci encontrou velhos parentes e entrou no clima de pequeno município para ilustrar a música em imagens simples e diretas, leves e idílicas como a canção. A direção do novíssimo clipe é de Lucas Cirillo, produtora bigBonsai, e em breve lançam também minidocumentário sobre a visão de felicidade dos moradores de Sairé.


Os Takara e o El Rocha
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Ronaldo Evangelista

Daniel Ganjaman, produtor e pianista. Fernando Sanches, baixista e engenheiro de som. Mauricio Takara, baterista e multiinstrumentista. Seu Cláudio, o patriarca. E Pascoal, o mascote. É a família Sanches Takara, contando mais suas histórias no vídeo acima, da TV Trip.

O cenário e base de operações é o estúdio El Rocha, apinhado de instrumentos analógicos, em Pinheiros, que tocam há anos e onde gravaram, nos últimos meses, álbuns de Marcelo Camelo a Criolo, além de toda uma turma interessada nos melhores sons. Parte importante da história, ainda com muito a ser contado.


Conversando com Erasmo Carlos
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Ronaldo Evangelista

Setenta anos de idade, 50 anos de estrada, 40 anos do clássico Carlos, Erasmo. ''É muita comemoração, eu tenho que trabalhar'', brinca Erasmo. Disco novo cheio de novidades, só canções inéditas, parcerias interessantes, som nada careta, a essa altura e dois anos de seu último disco de inéditas, Rock 'n' Roll, exemplo de pique. O álbum novo, Sexo, produzido por Liminha, está na rua e você pode ouvir e saber mais por aqui. Aproveitando phoner pra bater aquele papo e falar sobre a vida, conversei com Erasmo hoje, logo abaixo.

Como foi o processo de gravação do disco, o Liminha fez os arranjos?

Foi igualzinho o outro disco. Eu faço a musica aqui em casa na minha bateria eletrônica. Então ele vai e comeca a alquimia dele lá. Ele obedece tudo que eu fiz, tudo como está, e vai vestindo aquilo, como se ele vestisse o esqueleto. Aí ele vai botando as guitarras, vai trocando a bateria eletrônica pela bateria humana e vai montando o disco. Vamos trocando ideia e montando o disco.

Tudo a partir do seu violão, da sua voz e da bateria eletrônica?

É, ele conserva às vezes alguns violões meus.

Bonito o violão de nylon em ''Sentimento exposto''.

Ele disse, ''Erasmo, esse violão eu vou ter que conservar porque ninguém sabe fazer''.

É raro ter violão seu nos discos, né?

É. Porque sempre mudam, né, bicho? Através da minha vida sempre foi assim: eu mostro pros músicos, eles começam a mudar os acordes, daqui a pouco vira outra música, sabe? Os músicos são modernosos. Eles estão sofrendo novas influências sempre, claro. Então qualquer música que eles pegam eles botam influência da época. Eu não, eu tenho minha influência de base. Então ela vai persistir em toda minha vida, acho que é isso que faz o estilo de uma pessoa. Eu gosto de adaptar as tendências para o meu negócio.

Esse processo de gravar em casa e levar pro Liminha é de dentro pra fora.

E conserva minha identidade na coisa.

Você chegou a compor canções que fugiam do tema? Tem um baú de canções ou todas que foram feitas foram utilizadas?

Não cara, aconteceu comigo uma coisa chata que eu fiz muito mais que as canções que as que entraram no disco. Na época eu estava mudando a minha tecnologia caseira. Eu ainda compunha com cassete, sabe?, aí eu passei pra minha época digital, comprei meu gravador digital. Então eu ia compondo, depois pegava o USB e depois fazia um disquinho e guardava. Aí passava e gravava outras coissas no USB, porque o que eu tinha feito estava guardado no CD. Cara, eu acabei perdendo três CDs! Perdi, não sei onde que foi, se roubaram, se deixei por aí. Não sei se porque eu estava gravando e os CDs voltavam e iam e voltavam e iam, de repente eu perdi. Já procurei tudo e ali tinha música pra caramba, tinha muito mais música do que eu gravei. Tem umas coisas ainda do Rock 'n' Roll, sobraram de lá.

Então foi questão de umas 30 músicas?

Foi por aí. Muitas eu sei de cabeça, outras não. Foi besteirada minha, coisa de aprendiz.

É bom, as que sobraram devem ser as melhores.

É, já estavam separadas em um CD pro Liminha.

Erasmo, até hoje sinto uma singeleza muito grande no seu jeito de compor. Uma certa simplicidade, uma abordagem quase zen, como uma busca.

Eu sou assim. O que eu mostro nas minhas músicas é o que eu sou, sabe? Por isso que eu acho que eu nunca precisei de analista, o que eu tenho que expressar eu expresso nas minhas canções. Então essa forma de você analisar, ou como qualquer pessoa analisar, é sincero, bicho. Não faço nada por armação, sou muito sincero nas coisas que eu falo.

Legal você falar de terapia, porque tem essa característica quase existencial. Lembrei daquela música linda que você deu pra Paula Toller uns anos atrás.

''O q é q eu sou''. Eu não regravo essa música porque ela é muito pra mulher, sabe? A segunda parte dela é bem mulher cantando. Só por isso que eu não regravo. Mas eu queria muito regravar essa música que eu gosto muito dela.

E ultimamente rolou encontro com nova geração de músicos, tem chegado novas informações?

É, a gente tá sempre junto por aí, se encontrando. A minha aproximação com Arnaldo começou que fui gravar o DVD dele, Ao Vivo Lá em Casa. Lá nesse mesmo dia conheci o Jeneci. Aí eu fiz o Grêmio, programa do Arnaldo na MTV, depois ele participou de um show meu, claro que a parceria seria inevitável nesse novo disco, Sexo. O Jeneci também, a gente vai se conhecendo pela vida, como o Kassin, como o Domenico, que eu conheci atraves de Adriana Calcanhotto. a Silvia Machete, que fez um show inteiro com as musicas do Carlos, Erasmo. A gente vai se conhecendo assim pela estrada e vai formando uma amizade. Nos anos 80 já foi assim com Titãs, Kid Abelha, Ultraje a Rigor, vai vindo. Agora essa geração do Marcelo Jeneci. Eu fico feliz com isso porque eu vou ficando. Minhas músicas vão ficando de geração pra geração.

Como se fossem fazendo mais sentido, renovando o contexto.

É, muita gente entende muito mais minha música agora do que entendia na época que eu fiz.

Estava ouvindo recentemente uma gravação de uma música sua muito boa, só você tocando violão em um disco de entrevistas no começo dos anos 70…

O ''Samba da preguiça''. Eu fiz essa música pra Nara Leão. Ela cantou num show dela e acabou não gravando. Quem gravou essa música recentemente foi Wanderlea, no último DVD dela.

Tem muitos sambinhas da época, né? ''A hora é essa'', que a Célia gravou, ''Eu queria era fica sambando'', que os Originais do Samba gravaram…

Ih, caramba, você é conhecedor da minha obra.

Sou fã desses sambinhas, Erasmo. Estou esperando seu disco de sambinhas.

Tá certo. (risos) Tá bom.

§ Erasmo Carlos se apresenta no Teatro Bradesco, em São Paulo, no dia 14 de setembro. Sexo acaba de ser lançado.


Analógico/Digital na Trackers
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Ronaldo Evangelista

Aniversário de quatro anos do coletivo Veneno, três anos do portal OEsquema, cinco anos de Gente Bonita e quatro meses e dez dias da última festa arrasa-quarteirão de encontro Analógico/Digital no prédio da Trackers. Não faltam motivos para comemoração nessa sexta, grande volta à esquina da avenida São João com o boulevard Dom José de Barros, centro de São Paulo, um andar inteiro para festa. Pista mágica, participações especiais, surpresas, forró groove em vinil, chicha em compactos e brasilidades em rotações versus hits pop conhecidos ou obscuros, originais ou remexidos, em versões digitais, além de tudo que você não pode nem prever. Sexta-feira, começo da noite, só confirmar presença no Facebook ou pelo email, botar fé e levar o pique.


Donato, sem pressa
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Ronaldo Evangelista

Nesta quarta, 17 de agosto, João Donato completou 77 anos. Com seu zengroovismo e sensibilidade musical de dedos mágicos bailando pé ante pé pelas possibilidades de beleza sobre as harmonias e infinitas melodias, louco é todo mundo que não é Donato.

Apareça compondo, tocando ou participando de inúmeros discos levando incontáveis ideias, sons, brilhantismos e particularidades, simples de ouvir e instintivamente criativa, a música de Donato é um grande sim.

Como só os muito dotados de presença de espírito e naturalidade conseguem fazer acontecer, o tempo parece se curvar para ele encaixar tantas sugestões de toques de leveza na alma quanto desejar.

O ritmo é seu, harmonia é um processo desencadeado, paz é um lugar interno e música é saber se deixar levar. É legal saber pra onde se está indo e o prazer da viagem é a viagem.

§ No extra ''As Aventuras de João'', do DVD Donatural, momentinhos, Donas comenta:

Pra passar prum mundo mais despreocupado com a vida. E menos apressado de chegar ali do outro lado da rua pra fazer não sei o quê. Pra ter ido logo e voltado logo e voltado pra casa logo pra assistir logo um programa logo e dormir logo e acordar logo pra sair de manhã logo e chegar não sei aonde logo.

E aí às vezes não tem tempo de tomar o cafezinho na hora do almoço porque, dá licença, não posso ficar pro cafezinho porque tenho que ir logo pra não sei aonde. E vai logo e você fica parado com dois cafezinhos. Aí você acaba não tomando nenhum dos dois, parece que você esqueceu de tomar até o seu café também.

Aí tudo isso faz você pensar que não tem pressa pra ir a lugar nenhum. Mesmo porque ninguém vai a lugar nenhum mesmo, vai todo mundo um dia morrer e se divertir com os momentinhos que foram passando lentamente pela pessoa. Senão ela não dá tempo nem de olhar para o lado. Se for muito depressa, você chega lá e não sabe mais onde está indo e não sabe mais por onde está passando. Nem foi, nem viu por onde ia.

Dizem que o prazer da viagem está na viagem, não em ter chegado lá. Quando chega lá, aí é festa total. Mas não é esperar pra chegar lá pra ser feliz. Você é feliz indo pra lá, desde ontem. O regulamento é assim: ser feliz ou ser feliz.

§ Acompanhando por 15 anos auge gravações de e com Donato, de trombone latino no Brasil e jazz em discos latinos a órgãos e pianos elétricos crazy e suaves, nos States e de volta, seleção em play contínuo logo abaixo, Donato 60-75:

João Donato e seu Conjunto – Mambinho (Dance Conosco, 1960)
Mongo Santamaria – Sabor (Mighty Mongo, 1962)
Tito Puente & His Orchestra – Sambaroco (Vaya Puente, 1962)
Donato e Seu Trio – Jodel (Muito à Vontade, 1962)
Donato e Seu Trio – Sambongo (A Bossa Muito Moderna de Donato e Seu Trio, 1963)
João Donato – It didn't end (The New Sound of Brazil, 1965)
Bud Shank – Sausalito (Bud Shank and His Brazilian Friends, 1966)
Sergio Mendes & Brasil '66 – The Frog (Look Around, 1968)
Cal Tjader – Warm song (The Prophet, 1968)
Cal Tjader – Amazon (Solar Heat, 1968)
João Donato – Cadê Jodel? (A Bad Donato, 1970)
João Donato e Eumir Deodato – Batuque (Donato/Deodato, 1972)
João Donato – Me deixa (Quem é Quem, 1973)
Nana Caymmi – Ahiê (Nana Caymmi, 1973)
Gal Costa – Até quem sabe (Cantar, 1974)
João Donato – Deixei recado (Lugar Comum, 1975)

§ A linda e íntima foto, de Jorge Bispo, 2008, veio daqui.


azar ou sorte de quem multiplica e soma
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Ronaldo Evangelista

Um faz, outro desfaz. Pedro Santos, Sorongo, percussionista inventor de seus próprios instrumentos e padrões, compositor de grandes ideias e ideais, autor da obra-prima sem par Krishnanda, de 1968, em 40 anos de carreira participou de mais discos e escreveu mais canções do que poderia sugerir o seu semianonimato.

Em 1976, o excelente e ultrararo LP Nira Congo, do Conjunto Baluartes, formado por Eliseu, Luna e Mestre Marçal mais Marçalzinho, Dotô e Toninho, todos ritmistas, samba pesado e de tempero afro particular, incluía pérola existencialista de Sorongo, puxado no cavaquinho e percussão das esferas, ''Conflito''.

Pedro Santos pensava e dizia umas coisas tão pontuais, tão únicas e tão certeiras, que ouvi-lo é mais que lição de filosofia, é aprendizado de vida. Você vai ouvindo, vai ouvindo, e de repente quando vê a ideia já está dentro de você, já é um ponto novo nos seus contos. Só abrir a cabeça e os ouvidos e ouvir, a melhor música do mundo hoje, play logo abaixo.

um faz, outro desfaz
vida de morte num mundo que não tem paz
um toma, outro retoma
azar ou sorte de quem multiplica e soma

cada qual mais entendido mais sabido em seus contos
se agachando sempre achando se perdendo nos descontos
noutros dados são quadrados tem seus lados com seus pontos
sacudidos são jogados que os vencidos ficam tontos


Orkestra Rumpilezz em São Paulo hoje
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Ronaldo Evangelista

A Orkestra Rumpilezz, big band de atabaques e sopros, jazz profundo e africanismo rítmico, liderada pelo maestro baiano Letieres Leite, é uma das formações musicais mais emocionantes e evoluídas destes nossos tempos. Formada em 2006 a partir das pesquisas de arranjo de Letieres, com seu incrível primeiro álbum lançado em 2009, de lá pra cá a Rumpilezz impressionantemente só melhora.

Enquanto novidades em disco ainda não chegam, vê-los ao vivo é obrigação de ser humano, ter ouvidos e estar na mesma cidade que eles. Então, se você está em São Paulo, hoje, sexta, às 20h, a Orkestra toca dentro do projeto Rumos Música, no Itaú Cultural, avenida Paulista, grátis, ingressos meia hora antes. Ironicamente, enquanto Letieres está em São Paulo estou na Bahia, mas se eu fosse você e estivesse na área, está avisado: imperdível.

Vídeo acima, para apresentar a banda, daqui.


Pituba, Salvador, Bahia
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Ronaldo Evangelista

De quinta a domingo acontece em Salvador, praia da Pituba, o festival Conexão Vivo. Viajo à Bahia a convite do evento, que reúne em 4 dias 55 artistas, a maioria na dinâmica novo-nome-convida-ídolo-ou-amigo. A Cor do Som, Gaby Amarantos, Marcia Castro, Mariana Aydar, Wilson das Neves, Manuela Rodrigues, Romulo Fróes, Rebeca Mata, Felipe Cordeiro, Pepeu Gomes, Paulo Miklos, Elza Soares, Marku Ribas, Di Melo, Edson Gomes são alguns dos nomes pelas noites, à beira mar, sob a lua quase cheia, de graça. A foto, pra dar aquela ideia, é do festival do ano passado. Se estiver por Salvador, não aparecer é vacilo. Se não estiver, estou aqui de olho e depois te conto.