Feliz aniversário, George Clinton
Ronaldo Evangelista
George Clinton, mestre-guia da diversão interestelar, comemora 70 anos hoje, no palco do festival Black na Cena, que tem ainda Jorge Benjor, Lee Perry com Mad Professor, Racionais MCs, Public Enemy, Seu Jorge. Conversei com o capitão da nave, aproveitei para dar parabéns e perguntar para sobre a confusão ordenada de seus shows, o DNA do rap, o ímpeto da diversão e nunca parar. Ontem saiu em matéria na Folha, quase como abaixo.
Liberte sua mente que seu traseiro vai junto. A máxima de George Clinton, título de um álbum do Funkadelic de 1970, parece ser mote de festivais em 2011, convocação à dança aos sons da música negra, de funk antigo e moderno ao hip-hop e até samba-rock.
Além dos recentes shows no Brasil de Amy Winehouse e Sharon Stone e dos anúncios de apresentações de Prince e Macy Gray (no Rio de Janeiro em agosto, no festival Back2Black) e Stevie Wonder, Jamiroquai, Joss Stone e Janelle Monáe (em setembro no Rock in Rio), acontece de sexta a domingo em São Paulo o megafestival Black na Cena, na Arena Anhembi.
Atração principal da primeira noite, o visionário genial e excêntrico George Clinton comemora o aniversário de 70 anos em pleno palco, se apresentando ao lado de banda de mais de 20 integrantes – incluindo três bateristas, cinco guitarristas, dois tecladistas e dez vocalistas.
“Meu papel é ser o guarda de trânsito da música em cima do palco”, contou ele ao telefone, com voz rouca e grave. “Eu crio, mas também desordeno tudo. Gosto de dar obstáculos aos músicos, pra não ficar fácil demais, deixar sempre desafiador. Eles não podem parar, tem que dar o melhor que podem para o que a música precisa e tocam assim constantemente – através de todos os obstáculos e também quando estão confortáveis. Eles sentem o que o público precisa pra dançar.”
Quarenta anos de hits devem ser bem representados no show, com músicas como “Atomic dog” (de Clinton solo, 1982) e “Give up the funk” (do Parliament, de 1976). Referência máxima para tanto de hoje em dia, difícil sequer imaginar o cenário pop sem a influência de Clinton e suas famosas criações da mitologia P-Funk, das bandas Funkadelic e Parliament. Uma nação sob o mesmo groove.
“Meus antigos discos fazem muito sentido hoje porque foi dali que veio muito do hip-hop”, enxerga o compositor, cantor, mestre de cerimônias, guarda de trânsito. “No álbum “Mothership Connection”, eu estava interpretando o papel dos meus DJs favoritos de Nova York, era basicamente como um DJ falando em cima das músicas. Foi isso que o hip-hop virou: música para pista de dança, com DJs falando por cima dos discos. Era o que estávamos fazendo.”
E, desde sempre, com o espírito de convocação em primeiro plano, tantas músicas nestes 40 anos falando sobre vencer, conquistar, dançar, realizar. A inspiração para tanta pró-atividade? “Diversão, festas e fazer o que tem que ser feito”, explica o mestre. “Fazer ao máximo, nunca parar de fazer, sempre evoluindo e sempre se movendo. Toda a intenção da minha vida e da minha música é provocar as pessoas a se divertirem.”