Blog do Ronaldo Evangelista

Arquivo : julho 2011

Quarteto de Stan Getz + Flora Purim (Paris, 1969)
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Ronaldo Evangelista

Flora Purim começando a carreira internacional e Stan Getz já veterano da música brasileira jazzificada para o mundo, encontro em preto e branco para a TV francesa em 1969, “Deixa a nega sambar”, o quarteto do saxofonista-tenor formado por Stanley Cowell no piano, Miroslav Vitous no contrabaixo e Jack DeJohnette na bateria. Flora linda de vestido hippie e cabelo à anos sessenta, mandando ver na voz firme e suave e no balanço de violão. A sandália dela ficou furada de tanto sambar.


As faixas do Tim Maia Racional Volume 3
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Suspense desde o começo do ano, quando descobriu-se que a SonyBMG chamou Kassin (e este a Paulinho Guitarra etc) para completar as gravações nunca lançadas do Tim Maia Racional Volume 3 e subsequentemente lançar o álbum como CD-bônus de uma coleção de Tim vendida nas bancas pela editora Abril, essa semana a liberaram o disco. Das seis faixas, “O supermundo racional” é absolutamente inédita, “Que legal” é nova versão de composição do Racional 2 e as outras quatro são as que haviam vazado há alguns anos (agora com outros nomes).

01 É Preciso Ler e Reler [antes “Escrituração racional”]
02 I Am Rational [antes “You gotta be rational”]
03 Lendo o Livro [antes “Universo em desencanto disco”]
04 O Supermundo Racional
05 Nação Cósmica [antes “Brasil Racional”]
06 Que Legal


Faixa a faixa: Chico 2011
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Para a Folha Ilustrada de hoje, capa sobre disco novo de Chico Buarque, escrevi breve descrição/comentário faixa a faixa de Chico, álbum aproximadamente décimo-nono do compositor e cantor. Teasers de internet, a perda da inocência sobre comentários de internet, disco de literatura, canções melancólias – entre tudo que vi comentado por aí, o menos alardeado me parece o principal: é um disco de amor. Mais: disco de novo amor. Tipo festa sem fim.

Querido diário
Toada levada por viola caipira e arranjo de cordas e com o já inesquecível verso sobre “amar uma mulher sem orifício”. Outro: “não quebro porque sou macio”.

Rubato
Chico no Círculo de confiança, zona de conforto, parceria com o contrabaixista Jorge Helder. Letra sobre canção de amor roubada para Aurora, Amora e Teodora e arranjo com grande naipe de sopros.

Essa pequena
“Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora”, canta Chico. Ele, conta “cada segunda que se esvai”. Ela, “esbanja suas horas ao vento”. Canção de amor que conclui: “o blues já valeu a pena”.

Tipo um baião
O eu-lírico já questiona: outra história de amor a essa hora? Mas, afinal, “você tipo me adora”. Então, para quem “ignora o baião”, canta esse “tipo um baião do Gonzaga”.

Se eu soubesse
Em dueto com a suposta jovem namorada de cabelos cor de abóbora Thais Gulin, a valsa-choro “Se eu soubesse” foi gravada também por ela em seu recente disco “Ôôôôôôôô”.

Sem você 2
De mesmo título de canção de Tom com Vinicius do fim dos anos 50, é levada sem bateria e com andamento lento. Chico classicista da canção, mais próximo do velho Tom do que do jovem Chico.

Sou eu
Parceria com Ivan Lins, cantada por Chico e o baterista e sambista Wilson das Neves, também já gravada por Diogo Nogueira. A letra, sobre mulher que bamboleia no salão.

Nina
Valsa “meio russa”, segundo o autor, com as rimas mapa/rapta e toca/vodca. Com a nova personagem, título, para o rol do compositor. A primeira música composta para o álbum depois da temporada como escritor.

Barafunda
Sambinha fazendo crônicas da memória, “antes que o esquecimento baixe seu manto”. Glorinha ou Maristela? Soraia ou Anabela? Seja como for, a conclusão: “a vida é bela”.

Sinhá
Parceria com João Bosco, que participa com seu balanço de violão e contracanto. É o “conto de um cantor com voz do Pelourinho” que chora em iorubá mas ora por Jesus.


O melhor de dois mundos
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Uma coisa absolutamente genial a respeito do disco Best of Two Worlds, reencontro de João Gilberto com Stan Getz em 1975, doze anos depois do sucesso gigante Getz/Gilberto, é que eles não foram fotografados juntos para a capa. Antes do fim das gravações, João tretou com Getz (não era a primeira vez) e partiu. A primeira faixa do LP, “Double rainbow”, nem tem João: Miúcha canta e Oscar Castro Neves toca o violão, reproduzindo a batida direitinho.

A solução: pegar um foto de João (talvez a única à mão) e fazer uma fotomontagem para a capa e outra para a contracapa – ambas com a mesma foto. Na frente, Getz está à frente de João, ao lado de Miúcha. No verso, aparece apoiado casualmente no brasileiro, que toca seu violão concentrado, de olhos semicerrados, estoicamente na mesma pose, exatamente igual a na capa, mesmo registro fotográfico. Mais ou menos como fez a Trip recentemente, rs.

Best of Both Worlds é um dos discos menos comentados e investigados de João, até porque é afinal um álbum de Getz. O recente box The Complete Columbia Album Collection, que compila álbuns de Getz entre 1972 e 1979, reedita o disco com novidade interessante: três faixas bônus, outtakes de “Just one of those things”, “Eu vim da Bahia” e “É preciso perdoar”. A caixa é produzida sob demanda de acordo com as vendas no site, sem presença física em lojas.


O box americano de Tom Zé
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Já viu o que tem no recente box americano de Tom Zé, pela gravadora Luaka Bop?

Studies of Tom Zé, a caixa com os estudos de Tom Zé, compila os recentes Estudando o Pagode e Estudando a Bossa (ambos pela primeira vez em vinil, o segundo com uma nova capa) mais relançamento do clássico Massive Hits, de 1990, que praticamente reedita seu Estudando o Samba, de 1976, com algumas intervenções de outros discos – há duas décadas a coletânea introdução básica a Tom Zé para a América do Norte.

Além dos três LPs, o box inclui um compacto ao vivo com o Tortoise em Londres – “The letter” no lado A, “Defect 3: Politicar” no B -, um CD com o áudio de uma conversa entre Tom Zé, Arto Lindsay e David Byrne e um livro com ensaio sobre TZ de Christopher Dunn. Tudo por 70 dólares no site da Luaka Bop, por aqui.

A caixa foi lançada nos Estados Unidos no fim de 2010 e, aproveitando o momento, semana que vem Tom Zé faz uma rara viagem a NY para apresentação no Lincoln Center, dia 19.


Mia Doi Todd + José Gonzáles – “Um girassol da cor do seu cabelo”
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Outra nova versão de Lô Borges tirada da Red Hot + Rio 2, aqui ao vivo na festa de lançamento (Red Hot Loft, muito hipster) da compilação, em NY em março último. No começo do vídeo declarações de amor pela música brasileira, som mesmo ao um minuto e meio: Mia Doi Todd e José Gonzáles cantando “Um girassol da cor do seu cabelo” sobre arranjo incrível, destacando a beleza universal da canção, simples e atual. Apesar do teor geral tropicalista que paira sobre o Red Hot Rio + 2, o tom contemplativo pop típico das cancões do começo dos anos 70, como as de Lô Borges, também é peça interessante do clima vencedor do tributo.


Victor Rice + Bixiga 70
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Victor Rice, baixista e engenheiro de som novaiorquino radicado em São Paulo há alguns anos, tem uma sensibilidade massa para mixagens – um ouvido dub mas com um recorte muito próprio para montagens, registros e camadas. Ao vivo se apresenta com gravadores de rolo e mesas de som, ultimamente mais tempo dentro de estúdios, cuidando por exemplo do som do último disco de Marcelo Camelo e do próximo de Mallu Magalhães. Instalado no 29º andar do Copan, mixando e finalizando por esses tempos as gravações do álbum de estreia do Bixiga 70, aproveitou para colocar no ar esses dubs ao vivo de “Desengano da vista”, “Luz vermelha” e “Tema de Malaika”, passeando pelos naipes de sopro, solos de piano elétrico, delays de guitarra, grooves de baixo, levadas de bateria e percussão.


Zé Miguel Wisnik – Indivisível
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Oito anos depois de seu último disco, Pérolas aos Poucos, de 2003, Zé Miguel Wisnik está lançando álbum novo, duplo, Indivisível, capas acima de Elaine Ramos, brincando visualmente com as iniciais Z, M e W. Ouça ambos imediatamente no Bandcamp do ZMW, por aqui.

Produzido por Alê Siqueira, com parcerias com Marcelo Jeneci (“Feito pra acabar”, que deu título a seu disco), Alice Ruiz, Jorge Mautner, Chico Buarque e Guinga, além de poemas musicados de Antonio Cícero e Gregório de Matos, os discos são levados um por piano outro por violão. No de piano, exceto por uma com Jeneci ao instrumento, Wisnik é quem toca em todas. O de violão é levado pelo toque de Arthur Nestrovski.

No disco novo de Gal Costa, todo composto por Caetano Veloso, uma das duas únicas músicas não-inéditas foi justamente interpretada antes por Wisnik, em 2005, na trilha do espetáculo Onqotô, do Grupo Corpo, feita por Caetano e Zé Miguel. “Madredeus“, a canção que cantava e que foi regravada por Gal, entrou no novo dela justamente por sugestão de Zé Miguel a Caetano.

Wisnik agora também faz a direção musical do próximo espetáculo do Grupo Corpo, que estreia mês que vem no Teatro Alfa.
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Rabotnik
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Falando no novo da Gal, um nome que participa do álbum é o quarteto experimental Rabotnik, fazendo toda a base instrumental de algumas faixas. Com Estevão Casé, Eduardo Manso, Bruno Dilullo e Rafael Rocha (os dois últimos também do Tono), tocam pela noite do Rio há um tempo, no ano passado chegaram a fazer temporada no Pista 3 com participações como Kassin, Rob Mazurek e Marcelo Camelo. Já lançaram um álbum pela gravadora inglesa Far Out e agora estão levantando verba via crowdfunding (pelo mesmo projeto Embolacha de que participam Letuce e Autoramas) para prensar um CD, gravado em 2009 com participação do Damo Suzuki, do Can. Pela rede, mil sons do Rabotnik para ouvir, como no pequeno compêndio abaixo.



“Dínamo” e “Em dependência”, gravadas em 2009.



Ao vivo em janeiro de 2011.


Ao vivo com Kassin e Rob Mazurek em 2010.


Ao vivo com Marcelo Camelo em 2010.